Depois de tanta vergonha e revolta que o autêntico povo brasileiro passou e ainda passa, em consequência dos desmandos e imensurável falta de caráter de boa parte da nossa classe política, é dado-nos assistir agora a uma onda de pretenso moralismo, beirando o ridículo e, o que é pior, distante de ser autêntico.

Por exemplo, os jornais noticiaram, na última sexta-feira (12), que no Rio de Janeiro o governador Luiz Fernando Pezão sancionou lei cujo projeto de autoria foi da deputada Enfermeira Rejane (sic), com acompanhamento de outros 39 pares da Assembleia Legislativa daquele estado.

Segundo a Folha, o projeto estabelece que qualquer empresa, com sede no Rio de Janeiro, que veicular publicidade com conteúdo sexista, misógino ou que de alguma forma estimule a violência contra a mulher, estará sujeita a multas, além da suspensão das referidas mensagens publicitárias.

O mais grave, a nosso ver, dessa esdrúxula legislação, está na sua forma de aplicação, abrindo caminho para denúncias públicas de anúncios e/ou comerciais que se enquadrem nos seus ditames, cujo julgamento caberá a uma comissão a ser nomeada pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos. Os valores arrecadados pelo pagamento das multas serão destinados ao Fundo Especial dos Direitos da Mulher.

A par do entendimento de que o assunto, para ser levado a sério, deveria ser objeto de análise da Câmara Federal dos Deputados e não de uma Assembleia Legislativa estadual, por envolver em tese uma questão de abrangência nacional, é de se supor que a autora do projeto, bem como os órgãos técnicos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, nada conhecem do mercado publicitário nacional, sua história, sua importância para a difusão de novos hábitos de consumo e de comportamento, sua contribuição para causas de meritória grandeza, como as campanhas contra o fumo e o excesso da ingestão de bebidas alcoólicas e assim por diante.

Pior: desconhecem o Conar – o Conselho Nacional de Autorregulamentação, sempre aberto para julgar e coibir excessos da publicidade nacional. E passam por cima da própria Justiça estadual do Rio de Janeiro, transferindo para uma comissão de cunho inegavelmente político, o julgamento de peças publicitárias que envolvem na criação e na produção das mesmas, empresas (agências) de comunicação e profissionais devidamente habilitados para esse métier.

A impressão que fica é a de um país imaturo, que não desaprende de ir a reboque de acontecimentos de grande repercussão na mídia, como a recente questão dos assédios contra atrizes do cinema americano, ocorridos muito lá atrás e só agora divulgados.

Oriundo o projeto de um estado da Federação em situação tão crítica como o Rio de Janeiro, a impressão que fica é a de que, na impossibilidade de serem resolvidos seus graves problemas, destacando-se o da segurança pública, recorre-se a esses “traques” para se manter na mídia uma parte da classe política incapaz de se aprofundar nos imensos e até aqui insolúveis problemas da sua jurisdição.

Lamentável é a única palavra que nos resta na apreciação de mais um episódio grotesco, produzido por autoridades que deixam de lado o que é realmente de grande importância para a revitalização do seu estado, optando por balas de festim que nada têm a ver com a verdadeira guerra travada diuturnamente no território que dizem administrar.

 

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O jornalista e escritor americano Michael Wolff, autor do livro cuja primeira edição – de larga tiragem – esgotou-se em 24 horas nos Estados Unidos, proferiu palestra em 2015 em São Paulo, no Teatro Maksoud Plaza, a convite da Abap Nacional, sob o tema O inesperado triunfo da televisão na era digital.

Seu livro Fire and Fury, criticando duramente Donald Trump, chegando a classificá-lo, para os bons entendedores, como doido varrido, transformou-se muito rapidamente em um best-seller como há muito não se via.

O resto do mundo e mesmo muitos estados norte-americanos que não receberam reparte suficiente para matar a curiosidade dos leitores aguardam com ansiedade a segunda edição, que segundo consta será revisada e ampliada por Wolff, já que o seu personagem não para de produzir grotescos chiliques.

 

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Vem também dos Estados Unidos a boa notícia de que a Phillip Morris quer “parar de fumar” ainda este ano, mas só (por enquanto) no Reino Unido, mercado atualmente de 7,6 milhões de fumantes.

Em tom jocoso, a tradicional tabagista, maior fabricante de cigarros do planeta, lembra, em comunicado distribuído no início deste mês, que “todos os anos muitos fumantes desistem do cigarro; agora, chegou a nossa vez”.

 

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Este Editorial é em homenagem à incansável profissional de comunicação corporativa Gê Rocha, que durante anos seguidos atuou nas agências do Grupo Newcomm, granjeando respeito e simpatia de todos os lados interessados no seu trabalho.

Obrigado pelo apoio e lisura, querida Gê!

Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda (aferrentini@editorareferencia.com.br).