Leonardo Padura, num de seus romances que se passam em Havana e têm como protagonista o detetive Mario Conde, escreveu uma frase que me marcou. Padura disse que a única coisa que um cubano odeia mais do que o imperialismo americano é o sucesso de outro cubano. O nosso maestro Tom Jobim também achava que, no Brasil, o sucesso é uma ofensa pessoal. O brasileiro gosta do gênio fracassado, jamais de quem consegue ter prestígio e alegria ao mesmo tempo. Pelé, por exemplo, que qualquer um adora dizer que só fala besteiras, ao que eu me lembre, nunca na vida teceu loas à mandioca, elogiou a mulher sapiens nem garantiu que a mulher é quem entende de economia porque está acostumada a ir às compras.

Uma vez, ao marcar o milésimo gol, acontecimento, aliás, de repercussão mundial, dedicou o momento às criancinhas, lembrando talvez naquele momento do menino pobre de Bauru que teve a infinita sorte de ter uma família estruturada que lhe deu amor e lhe permitiu ser o atleta do século. Noutra ocasião, afirmou que o brasileiro não sabe votar. Posso até fazer uma enorme tese com profundas pensatas sociológicas discordando do que ele disse. Mas daí a chamá-lo de imbecil, a distância é longa. Basta ligar na TV Senado ou na TV Câmara ou em qualquer das TVs Assembleias espalhadas pelo país e descobrir que nós não sabemos votar.

E só ouvir os que elegemos, sem precisar nem tentar descobrir os que eles tramam quando não estão na tribuna, para descobrir que fazemos da urna um penico sempre que nos dão a chance. E assim é com tudo. Chico Buarque, um dos maiores letristas de todos os tempos, tem hoje uma legião de desafetos motivados por razões totalmente racionais, a princípio, mas que no fundo parecem esconder a popular inveja de um cara bonito, simpático, rico e genial, capaz de colocar em música muito do que sentimos e não conseguimos entender. No começo diziam que ele era bom compositor, mas mau cantor. Com o tempo, descobrimos que ele era, sim, um excelente intérprete de suas composições, às quais sempre deu característica única.

Depois casou-se com a Marieta Severo, teve filhas lindas e talentosas e colecionou romances e amizades com pessoas ótimas. A julgar por alguns posts nas redes sociais, estamos falando de um petralha de má-fé, vendido e ignorante ou, como ele mesmo diz, viado. Segundo ele, viado é a única constante das críticas que recebe. O resto muda ao gosto do ofensor. Qualquer dia alguém descobre que seus olhos azuis (ardósia, na ficha policial) são falsos. Lentes de contato. Pensando bem, qual a razão para se escrever textões criticando a Anitta?

É o ódio, a inveja e a dor se manifestando através da crítica. Mal a ninguém a moça faz e, a continuar como vai, seu esforço, aliado ao seu talento, vai lhe levar ao sucesso internacional. Com a patuleia esperando a primeira oportunidade para jogar bosta na Geni, que no fundo, como todos que nos parecem melhores que nós, é boa de cuspir. Em algumas áreas, tanto da extrema esquerda como da direita, ficou fácil culpar a Globo por tudo. Violência no Rio? Culpa da Globo. Dissoluções dos costumes? Culpa da Globo. Homofobia, surto de febre amarela, má qualidade do futebol? É a mídia hegemônica, liderada pela Globo.

A velha raiva pela janela quando a paisagem não agrada. Nos últimos dias as, redes sociais estão cheias de críticas à cobertura que a imprensa está dando à cirurgia do Neymar. As criancinhas estão morrendo e eles se preocupam com o Neymar! Como se fosse possível alguém, mesmo a veneranda Madre de Calcutá, não se permitir ter nenhum tempo ocioso durante a salvação de criancinhas para saber como anda o pezinho de nosso maior craque, esperança de nossa seleção. Outro dia, postei no meu perfil no Facebook uma dúvida que me corrói o coração. Tenho sentido que muita gente me ama, e até agora não tenho tido nenhuma grande onda de ódio. Será que sou, definitivamente, um merda?

Lula Vieira é publicitário, diretor da Mesa Consultoria de Comunicação, radialista, escritor, editor e professor (lulavieira@grupomesa.com.br)

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