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Com a explosão da tecnologia já afetando rotineiramente nosso modo de viver e trabalhar, temos muito que celebrar em relação ao futuro. Em breve, robôs estarão realizando as tarefas que antes eram responsabilidade dos humanos, com custo mais baixo, sem encargos sociais, sindicatos ou problemas trabalhistas. Os automóveis, em pouco tempo, serão self-driving e elétricos, poluindo menos e reduzindo drasticamente os acidentes. Empresas científicas estão desenvolvendo ferramentas e produtos que vão nos tornar mais saudáveis e longevos. A energia será ilimitada, cada vez mais eficiente e limpa. Impressoras 3D vão suprir muitas das nossas necessidades de produtos cotidianos. E o custo de tudo isso cairá de maneira exponencial, permitindo que cada vez mais pessoas usufruam do progresso.
 
A principal consequência dessa evolução é que, se formos capazes de desenvolver mecanismos de distribuição da prosperidade que estamos gerando, a maioria das pessoas não vai mais precisar trabalhar no volume e na intensidade atuais para se sustentar. Para que isso aconteça sem traumas, vamos ter de alterar os conceitos de que só o trabalho dignifica o homem e de que só a labuta diária traz envolvimento social e senso de pertencer à comunidade. Levamos dentro de cada um de nós essa culpa intrínseca de que sem produção não há perdão. E isso precisa mudar. Trabalhar vai continuar sendo bom – só que menos.
 
Os líderes da revolução tecnológica continuam afirmando que não devemos nos preocupar com o desemprego futuro, pois o mundo já viu várias vezes essa migração revolucionária dos meios de produção. Quando a base da economia deixou de ser agrícola para se tornar industrial, as preocupações eram as mesmas de hoje, na passagem para a era digital. Todos achavam que haveria desemprego em massa e graves problemas sociais. Na realidade, criamos novos empregos nunca antes imaginados, e isso nos leva a crer que o mesmo vai ocorrer de novo. O único desafio é a velocidade da mudança. Na passagem da era agrícola para a industrial, foi quase um século de transição. Agora é de apenas uma ou duas décadas. E numa mudança exponencial precisamos atuar de maneira exponencial. Milhões de empregos desaparecerão. É, portanto, necessário pensar a sociedade em novos termos.
 
Os grandes comandantes do mundo corporativo já estão focados nesse tema. Em recente conferência na sessão plenária do Círculo de Montevidéu, realizada na Universidade de Alicante, o empresário mexicano Carlos Slim sugeriu que se revisem as leis trabalhistas buscando uma redução de jornada para apenas três dias por semana. Em sua opinião, “a semana de três dias poderia criar mais trabalho e quem quisesse sempre poderia ter dois empregos”.
 
A primeira onda de desemprego que surge no horizonte é no setor de transporte, com os carros e caminhões sem motorista. Haverá grandes benefícios na eliminação dos congestionamentos e acidentes, com sensível redução no consumo de energia. Mas também vai tornar obsoletos milhões de taxistas, motoristas de transporte e encarregados de entrega.
 
As empresas industriais e de serviços também assistirão a uma nova leva de demissões em massa. Até agora os robôs substituíram pessoas na ordenha da vaca, na montagem de carros e em combates militares. Porém, não eram capazes de gerar conteúdo jornalístico, fazer previsões de performance da bolsa ou montar circuitos impressos. Agora são. O Yumi da ABB é o primeiro robô colaborativo dessa nova geração. E custa somente US$ 40 mil.
 
Com os avanços da inteligência artificial, qualquer trabalho que exigir análise de informação será mais bem executado por computadores. Isso inclui profissionais da bolsa de valores, contadores e até profissionais de saúde. “O que hoje chamamos de auditoria será feito automaticamente por sistemas inteligentes analisando transações em tempo real”, diz RohitTalwar, da Fast Future. E as máquinas vão precisar de pouquíssimas pessoas para ajudá-las na interação com outros humanos.
 
Um futuro com muito menos trabalho para nós trará, sem dúvida, vários desafios para a sociedade. Mas será também uma oportunidade para uma nova fase da evolução humana. Afinal, por que continuar trabalhando 50 a 60 horas por semana se podemos reduzir esse total para 25 ou 30 e aproveitar o tempo excedente em outras atividades?
 
Existe uma nova fronteira do conhecimento e das relações que está aberta para as nossas descobertas. Nunca tivemos tanto para fazer em nosso tempo disponível.
 
Claro que o problema social será importante, mas se o homem foi competente em desenvolver tecnologias que estão acabando com as doenças e a fome, prolongando o nosso tempo de vida de maneira exponencial e permitindo o acesso a todo o conhecimento do mundo de maneira livre e democrática, seria insano não acreditar que também seremos capazes de resolver os problemas sociais causados por toda essa revolução.

Mentor de estratégia e inovação do Grupo Newcomm