Quando você estiver lendo este texto, já estarei em Cannes, para acompanhar o Cannes Lions Festival.

E, como já expus no meu artigo da semana passada (Cannes “F.O.M.O.” Lions está chegando), devo estar enlouquecido com tantas coisas boas para acompanhar e cobrir, já que terei a missão de montar uma apresentação formal dos melhores cases e os destaques de conteúdo e tendências do festival para um road-show, que será promovido pelo Estadão e a Fenapro, após o festival. E o Cannes Lions é assim mesmo.

Desde o reforço na área de conteúdo, com a inclusão de dezenas de palestras de celebridades e profissionais de publicidade de projeção internacional, a premiação continua sendo a atração principal, mas as exposições de conceitos e tendências e os estudos apresentados já rivalizam em pé de igualdade.

Não à toa, o festival já atrai profissionais que atuam em áreas que vão bem além da criação. Basta dar uma olhada na relação de brasileiros inscritos para ver uma boa quantidade de clientes e profissionais da área de marketing de empresas.

Os mais moderninhos andavam torcendo o nariz para o Cannes Lions, enchendo a bola do SXSW, por exemplo. Mas, fazendo uma análise mais apurada na programação de ambos os festivais, vemos que o vovô Cannes Lions (já tem mais de 60 anos de vida) continua mandando muito bem, agregando conteúdo mais diversificado, envolvendo arte, cultura e outras manifestações criativas, além da inclusão de categorias alinhadas com os movimentos mais modernos.

Já o SXSW tem uma outra pegada, mais focada em entretenimento e tendências disruptivas.

Ambos cumprem um importante papel na identificação de novos caminhos para a comunicação e o marketing.

A nós, profissionais atuantes nessas áreas sujeitas a transformações constantes, só resta nos desdobrarmos e estar presentes nesses eventos.
Na minha opinião, o que devemos esperar mais do Cannes Lions e de outros festivais semelhantes é uma provocação que aprofunde e dramatize nossa reflexão, que gere um certo incômodo, mas que venha acompanhado de insights e ideias.

Devemos esperar também um acirramento no embate MadMen X MathMen, ou seja, a disputa entre a propaganda das grandes ideias versus aquela regida pelos instrumentos de automação e matematicação (permita-me o neologismo) da mensagem.

Ainda ecoa o grito “FuckProgrammatic”, soltado por John Hegarty, quando exposto aos princípios da mídia programática, no Cannes Lions 2014. Com certeza, podemos esperar também novos capítulos do storytelling.

Mais do que nunca, o content marketing ou a propaganda sem cara de propaganda deve permear discussões nos seminários e fóruns do festival e também as premiações.

Embora todos já tenham declarado o fim da linha divisória entre o on e o offline, imagino que ainda teremos cases típicos de cada lado, liderados por agências especializadas em cada campo de atuação. Podemos esperar a presença de mais delegates de outras áreas de atuação que não a propaganda.

Dentre eles, um número crescente de clientes, à busca de tendências, novas vertentes de pensamento e ainda possíveis decodificações de movimentos que ainda são pouco entendidos pelos profissionais de marketing e comunicação.

Esperamos ainda o nascimento de novos termos, que acabam virando moda entre os publicitários. Mas, além de tudo isso, o que devemos esperar do Cannes Lions é um novo divisor de águas do nosso mercado.

Sabemos que, após o festival, surgem novos formatos e tendências que geram uma reação em cadeia no mercado, criando uma mobilização entre publicitários e marqueteiros em busca de atualização na sua atuação.

Da minha parte, eu continuo acreditando naquela campanha do Estadão sobre o festival: ninguém volta igual do Cannes Lions Festival.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências
de Propaganda)