Devemos nos acostumar em ver cada vez mais gente falando sozinha. Não, não se trata da crise – se bem que tem muita gente literalmente falando sozinha por conta dessa crise.

Refiro-me à interação com os assistentes virtuais que pouco a pouco invadem as nossas vidas. Não sei se você acompanhou a CES – Consumer Eletronic Show, que é realizada sempre no começo de ano, em Las Vegas. Eu fico muito ligado à cobertura desse evento, que apresenta as inovações no campo da eletrônica e, mais recentemente, do universo digital.

E, pelo que pude perceber, as grandes estrelas deste ano foram as múltiplas aplicações no campo de realidade virtual e aumentada, os carros cada vez mais inteligentes (incluindo os autônomos) e, principalmente, a inteligência artificial.

A AI (Artificial Intelligence) parece ser a grande bola da vez. The big thing de 2017! E a corrida para ver quem consegue tirar mais suco da AI envolve pesos pesados do universo digital cruzado com o universo das coisas. Newton, da IBM; Siri, da Apple; Cortana, da Microsoft; Assistant, do Google (que tem ainda o sistema Home); Viv, dos criadores da Siri.

Mas quem parece que ganhou a cena na última CES foi o Alexa, da Amazon, além do seu muito bem-sucedido lançamento Echo, uma caixa de som inteligente que se propõe a ser um superassistente do lar.

O Echo, assim como seu concorrente Home, do Google, está se preparando para interagir com os moradores da casa, ajudando-os nas tarefas corriqueiras, como apagar e acender luzes, ligar e desligar aparelhos domésticos, esclarecer dúvidas, prevenir quanto ao tempo e outras atividades do dia a dia.

Apesar de ainda não haver muitos aparelhos capazes de se vincular ao sistema, o Echo já é um sucesso de vendas da Amazon. Já foram vendidos mais de 5 milhões de caixas inteligentes Echo, o que atiça ainda mais o apetite de concorrentes, que se sentem um tanto quanto atrasados nessa corrida.

A atratividade desses sistemas aumentará à medida que aumente o número de produtos capazes de ser ativados por voz. Segundo a CTA (Consumer Technology Association), que organiza a CES, espera-se um crescimento de 52% na venda de produtos ativados por voz nos EUA, alcançando um número expressivo de quase 5 milhões de unidades.

Mas, se acompanharmos as projeções do universo IoT (Internet das Coisas), veremos um crescimento exponencial de produtos e sistemas inteligentes, acionados por voz. Junto com um incremento ao acesso e manuseio de dados (Big Data), o fenômeno da IA, triangulado com o IoT, nos levará a um mundo de enorme interação entre coisas e pessoas.

A visão jetsoniana de robôs quase humanos, interagindo com seres humanos, está deixando rapidamente o campo ficcional para ocupar espaço no mundo real. E não é uma visão futurista.

As aplicações já estão em prática em diversos segmentos e espera-se um aumento de oferta de produtos e serviços já em 2017.

Já há robôs recepcionando hóspedes em hotéis, os produtos AmazonEcho e Google Home nas residências, sem falar na capacidade crescente de interação inteligente dos assistentes virtuais dos celulares.

Experimente acionar a Siri dizendo algo como: “Siri, estou com fome”. Em menos de um segundo ela te apresenta uma relação de restaurantes no seu entorno.

E, se você quiser, pode encomendar comida por ali mesmo, só na base de comandos de voz. Agora, imagine quantas vagas de trabalho serão extintas nos call centers. Assistentes virtuais serão muito mais precisos e assertivos para atender clientes (sem contar que você não precisará ficar ouvindo um festival de gerúndios, rs rs rs).

Por outro lado, pessoas solitárias terão a companhia de “amigos” dispostos a ajudar em tudo, sem pedir nada em troca. Serão ouvintes pacientes e prestativos.

Não há dúvida de que muito em breve, caro leitor, você estará falando com as paredes – e elas te responderão. Assustador, mas excitante, não?

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda)