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A onda da sustentabilidade fez alguns produtos retornarem ao convívio do consumidor, para o deleite dos mais velhos, que lembram com saudades do vidro de leite da marca Vigor, por exemplo. Os tempos não voltam mais, no entanto, as embalagens de vidro estão com tudo e o potencial é de crescimento, surfando na onda do politicamente correto.

Quando as embalagens de plástico invadiram essa praia e tomaram conta de tudo, a indústria do vidro viu sua produção em queda livre quase mergulhar no esquecimento. Mas, agora, dá de braçada, porque o consumidor quer o melhor. Daniel Amaral, gerente global de marketing da categoria cervejas da americana O-I (Owens Illinois), grande fabricante mundial de embalagens de vidros, não sabe precisar quanto a embalagem com esse tipo de material caiu nas últimas décadas, em função principalmente das garrafas PET, mas se diz muito satisfeito hoje com a volta das retornáveis, como é o caso da Coca-Cola (veja matéria na página 34). “Estamos felizes com o potencial desse mercado, com a volta para o passado”, declara.

Segundo ele, uma garrafa de vidro é projetada para ir e vir 20 vezes. E, quando quebra no caminho, vira caco, volta para a indústria, e começa o ciclo de novo. Portanto, é uma embalagem 100% reciclável. “Nós compramos todos os cacos possíveis. Só não compramos mais porque não tem”, afirma.

Ele conta ainda que a O-I tem parceria com a Diageo, que criou o projeto Glass is Good, programa de logística de coleta em diversos pontos de consumo, que envolve desde catadores, passando por casas noturnas, até bares e restaurantes. Tudo o que é recolhido a O-I compra e utiliza como matéria-prima para a produção de novas embalagens.

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Futuro
Para Amaral, a sustentabilidade no Brasil, assim como no mundo, ganhou força e é um caminho sem volta. “Daqui a dez anos a maioria das bebidas serão consumidas em embalagens de vidro, porque é mais saudável”, garante. Segundo ele, a onda das cervejas em garrafa é a preferida pelos jovens e já reverbera para outras bebidas, como os sucos de frutas. A O-I apresenta o resultado de uma pesquisa sobre O ciclo de vida das embalagens, cujos entrevistados confirmam a mudança de hábito e o que vai impulsionar a alterarem também o comportamento ou as embalagens dos seus produtos. Quem não mudar pode estar fadado à morte.

A maioria dos entrevistados tem a impressão que a embalagem de vidro preserva melhor o sabor dos alimentos ou das bebidas (78%). Nessa mesma linha, está o quesito higiene. Faz sentido para 77% dos consumidores entrevistados que o vidro transmite essa sensação, sem contar com a aparência de maior qualidade (80%). Outro dado importante, que é uma grande vantagem, cuja maioria concorda (81%), é a transparência, que “permite que eu veja o que estou comprando” e é mais atrativo na prateleira do supermercado (64%). Pingo!

Além disso, tem a vantagem de ser reciclável (43%) e permite o reuso da embalagem (65%) – se apresente quem nunca reutilizou ou reutiliza uma embalagem de vidro. O vidro só perde para o plástico quanto à praticidade do transporte (59%) e à facilidade de armazenamento (39%). É claro que o vidro exige mais cuidado nesses dois quesitos. Ainda assim, os pontos favoráveis aos vidros são maiores. Sem contar a beleza das embalagens, favorecida pelo design das peças, que pode muito bem valorizar os produtos, que ganham na aparência.

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Reestrutura
O potencial do negócio é tão alto que a O-I vem reestruturando a empresa para enfrentar a demanda. A estratégia da companhia é ser a fornecedora preferida quando o assunto é embalagem para bebidas e alimentos.

O executivo conta que a área de design da O-I é gigante e está capacitada para desenvolver quase todos projetos que os clientes desejarem. Quando algum cliente “enlouquece” e exige uma embalagem espetaculosa para se distanciar da concorrência, eles acionam a área de design, que fica na sede da O-I, nos Estados Unidos. “Lá eles investigam tudo”, diz Amaral, acrescentando: “Desenvolvemos os projetos junto com as agências de design dos clientes. Mas nossos designers também dão pitacos, como foi o caso de Skol Beats” – Ambev tem uma família de cervejas nessa linha com garrafa azul, de 330 mililitros, no formato “S”. Também tem outra vermelha, segundo Amaral, desenvolvida com tecnologia própria, que não interfere no produto. Outros casos “coloridos” que ele enumera são os das garrafas da vodka Skyy, da Campari, e da cachaça artesanal gaúcha Yaguara, ambas nas cores azuis.

Outro destaque da companhia, que ostenta vários prêmios de design nas prateleiras, foi a criação da garrafa com gargalo capaz de controlar o nível do colarinho da cerveja, para a marca Artesanal 500.

Na recente reorganização, a empresa deixou de trabalhar com as embalagens do segmento farma, mas tem investido fortemente nos vidros para bebidas e alimentos, inclusive para papinhas de bebê, que, de acordo com Amaral, por causa da complexidade do armazenamento do produto virou referência global.

Com sede em Perrysburg/Ohio, a O-I lidera o movimento Vidro é Vida. A empresa tem 78 fábricas distribuídas em 23 países. No Brasil, as suas unidades fabris estão no Nordeste e Sudeste.

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