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Em tempos de contenção e contingenciamento (eufemismos para “crise”), a temática da otimização ganha espaço. Afinal, é preciso fazer mais com menos.

Uma primeira consideração a fazer sobre o assunto é que a otimização tem sempre de ter uma visão global. Ótimos locais não conduzem necessariamente ao ótimo global. A pequena história abaixo ilustra esta ideia central.

Uma indústria precisava e melhorar sua rentabilidade parte disto passa pela redução de custos. Após alguma discussão interna, chegou-se à conclusão de que um corte de 20% seria “possível e adequado”. Para que nenhum setor se sentisse “injustiçado”, foi determinado que o corte seria uniforme, ou seja, todas as áreas deveriam reduzir seus custos em 20%.

Esta linha de raciocínio, aparentemente democrática e justa, quase sempre é estapafúrdia, pois cada área contribui de forma diferente para o resultado geral e possui suas particularidades operacionais e estratégicas, além do fato de haver trade-offs entre os critérios competitivos com os quais elas lidam.

O resultado é que o corte de 20% na área de pesquisa e desenvolvimento contribuiu para afundar a organização, enquanto que o corte de 20% no chão de fábrica foi insuficiente, tamanho o desperdício que ali ocorria. O resultado final foi, portanto, muito ruim.

Na área de TI, em particular, o retrabalho é historicamente enorme, fruto de falhas estruturais em qualidade, padrões, metodologia, arquitetura, motivação, domínio do código, vícios de pensamento motivados pela peculiar natureza do computador (máquina diferente de todas as demais) e outros fatores. “Cortar” em TI é então delicado, muito diferente de cortar material de escritório. Aqui as derrapagens nos esforços de otimização são repletas de armadilhas adicionais.

Algumas organizações já começam a pensar TI mais em termos de entrega de valor, não em escopo. Começam a entender que software é um produto com características exclusivas, não tão “commoditizadas” como se promete desde o final dos anos 80.

Assim sendo, paradoxalmente, cortar em TI pode exigir investir em TI. Mas investir em frentes certas, que dão retorno, com tiros certeiros nas feras do retrabalho. Em 1979, Philip Crosby explorou esta linha na obra clássica “Quality is Free”, onde mostra que investimento em qualidade se paga.