Vivemos uma grande transformação industrial promovida por uma nova fase na digitalização da sociedade. É um momento ímpar no universo industrial, pois o mercado está exigindo cada vez mais das empresas a desenvolverem respostas sistêmicas para atender as novas expectativas da sociedade, que se caracterizam em construir soluções que são respostas a desafios estratégicos e não mais respostas funcionais por meio de produtos e serviços.

Soluções cognitivas estão tomando conta do mercado de forma imperceptível e numa velocidade muito alta. Estas soluções estão mudando o jeito de como as empresas interagem com seus clientes, a forma como os clientes enxergam seu negócio e o modo como elas se comportam para responder ao mercado. As soluções cognitivas estão trazendo a capacidade cognitiva ao imenso mundo da tecnologia da informação e, por meio dessa inteligência, a indústria passa a oferecer à sociedade sistemas mais imersivos em suas especialidades e mais assertivos em suas respostas às demandas do mercado.

Mas o que são soluções cognitivas e o que elas têm de tão especial para gerar toda essa revolução? Para responder esta pergunta precisamos entender o que é o processo de cognição.

A cognição é a forma como todos nós aprendemos, sendo o ato ou processo de aquisição do conhecimento. Para melhor caracterizar podemos representá-la pela seguinte equação:

Processo de Cognição = Observar + Entender + Avaliar + Decidir

Para exemplificar a dinâmica dessa equação, segue como exemplo prático o processo de aprendizado de um bebê até ele adquirir a sua total capacidade motora e linguística. Um bebê observa todos os eventos que acontecem ao seu redor e armazena em sua memória esse conjunto amostral que servirá de base para criar hipóteses, que o auxiliarão nas tomadas de decisões.

Considere a seguinte situação:

Observar – um bebê ao chorar recebe a atenção de sua mãe e essa o coloca em seu colo

Entender – esse vira um comportamento padrão da mãe, mesmo que em alguns momentos ela não o faça

Avaliar – o bebê então gera a hipótese de que quando chorar, sua mãe o colocará no colo

Decidir – logo, se ele quer colo, basta chorar

Esse simples cenário nos faz observar e descobrir que as soluções cognitivas não são apenas soluções com inteligência artificial, mas soluções com a capacidade de também realizar análise comportamental. Essa descoberta foi entendida em seus fundamentos há pouco tempo, com os estudos sobre a mente humana. Nos últimos anos, várias linhas de investigação que partiram da filosofia (filosofia da mente), da psicologia (psicologia cognitiva), da neurociência, da linguística (linguística computacional) e da ciência da computação (inteligência artificial) estão se convergindo e dando origem a um novo campo de conhecimento altamente interdisciplinar: a ciência cognitiva. É dessa nova ciência que emergem as soluções cognitivas que atendem não somente processamento inteligente, mas também comportamento e outras mais.

Podemos dizer que uma solução é realmente cognitiva quando ela é capaz de aprender de forma autônoma, utilizando o comportamento do seu usuário e interagindo com o usuário por meio de sua linguagem natural.

Para criar uma solução cognitiva temos que quebrar diversos paradigmas, que vão desde a concepção da ideia à arquitetura, até a forma como essa solução é entregue ao cliente. Toda

essa abrangência acontece, porque soluções cognitivas visam automatizar um novo contexto operacional que está associado ao processo cognitivo e decisório humano. Desenvolver aplicações no atual paradigma da programação não atende de forma eficaz a esse novo escopo, pois além de exigir alto esforço na codificação e pesquisa para equacionar esse tipo de demanda, toda a inteligência tem que estar escrita no código da aplicação. O processo decisório humano é extremamente variável quanto aos perfis das nossas decisões, isto é, são decisões curtas e simples, ou decisões longas e complexas, ou mesmo curtas e complexas onde a variável experiência é determinante para a assertividade da decisão.

Como então desenvolver aplicações para esse novo contexto operacional, que se executa seguindo a dinâmica do processo cognitivo (observar, entender, avaliar e decidir)?

Pensar em soluções cognitivas nos requer novos entendimentos e conhecimentos para a análise e desenvolvimento técnico dessas soluções. No mínimo temos que nos aperceber que só uma análise de requisitos funcionais não é suficiente para criar uma arquitetura de solução cognitiva. Precisamos ter em mãos os requisitos funcionais, os requisitos não funcionais, os requisitos do negócio e o conhecimento em análise comportamental.

As soluções cognitivas abrangem um novo escopo operacional que trazem novas capacidades aos negócios, pois atuam intrinsecamente no processo de negócio da empresa, auxiliando na tomada de decisões e até mesmo tomando decisões quando o comportamento de determinada área sai de sua rotina.

As soluções cognitivas estão aí. Chegaram! E são um imenso tsunami tecnológico que estão se infiltrando de forma imperceptível e numa velocidade muito alta em todos os cenários operacionais humanos. Quem entender isso terá muitas chances de sobreviver, e quem ignorar esse momento será amassado pelos milhões de objetos cognitivos que estão elevando a inteligência humana e a sua capacidade de responder aos diversos desafios trazidos pela natureza e pela nossa própria evolução.

Luiz Carvalho é CTO da Nexo