Estamos vivendo um momento em que os nichos estão ganhando cada vez mais espaço no mercado. Essa minha última frase pode parecer um tanto confusa, já que nicho é sinônimo de algo pequeno e exclusivo, mas a verdade é que esses segmentos pouco – ou nada explorados – têm gerado oportunidades para várias pessoas empreenderem. E vou te falar que nem sempre foi assim.

Nos anos 50 e 60, por exemplo, a única – ou, pelo menos, a principal opção – de refrigerante disponível era a Coca-Cola. A produção era sempre em massa e as empresas que tinham o maior poder de investimento dominavam os mercados e viviam os dias de glória. Aos poucos, essa realidade foi mudando e, à medida que os anos passavam e as demandas se tornavam um pouco mais especializadas, novas empresas entraram na concorrência.

Alguns estudiosos afirmam que o ponto de saturação em diversos mercados, sobretudo nos mais tradicionais, aconteceu lá pelo final dos anos 90 e início dos anos 2000. Esse foi o pontapé para que diversas empresas ajustassem os processos e se posicionasse mais agressivamente em um mercado mais competitivo. Tudo isso para continuar na ativa e não perder lugar para as novas concorrentes.

Com a popularização da internet e mais pessoas no ringue, a briga passou a contar com alguns elementos extras. A publicidade passou a ser mais presente, o marketing digital começou a mostrar como poderia aumentar as vendas e a customização de produtos virou um verdadeiro fator de diferenciação: vende mais quem oferece algo de diferente.

E essa busca constante por produtos exclusivos, que resolvessem um tipo específico de problema, fez com que empresas que oferecessem algum produto ou serviço de nicho conquistassem uma fatia de grandes mercados. A Coca-Cola continua dominando o segmento de bebidas? Sim. No entanto, hoje, existem diversas concorrentes que alcançam públicos que a Coca não consegue. Exemplos disso são as marcas de refrigerantes orgânicos, que, embora não atinjam a massa de consumidores das gigantes do mercado, têm atraído cada vez mais novos admiradores.

E essa lógica do surgimento de nichos para suprir necessidades que os grandes players do mercado não conseguem vale para os mais diversos setores. O consumo de conteúdo, na minha opinião, é o maior exemplo disso. Antes, a TV tinha uma grade e todos os espectadores só podiam assistir aquela programação. Se pensarmos na TV aberta, então, a variedade era mínima e, além de determinado programa, era necessário assistir às inúmeras propagandas.

Com a TV fechada, os espectadores passaram a ter mais variedade de conteúdo, sobretudo em relação ao tipo dele, como esportes, filmes e estilo de vida. Hoje, com o streaming, as pessoas têm acesso ao conteúdo que elas querem assistir, no horário e local de preferência e livre de propaganda. E tem conteúdo para todos os gostos e interesses, graças aos produtores de nicho.

Se a pessoa for fã de pescaria, ela vai encontrar um canal na internet que discute só temas deste assunto, como é o caso da Fish TV, por exemplo. Se ela quer se desenvolver profissionalmente e pessoalmente por meio da metafísica, ela também pode encontrar o Metaflix, um canal sobre isso. Se ela é fisioterapeuta e quer algum conteúdo específico sobre o tema, ela pode optar pelo FisioPlay.

Tudo isso deve-se ao aumento dos nichos do mercado. A TV Globo não vai reservar um espaço na grade dela para colocar um conteúdo que vai atingir um público relativamente pequeno, mas, um pequeno produtor que tem algum conteúdo interessante para um grupo selecionado de pessoas pode muito bem criar seu próprio canal, desde que a proposta gere valor ao cliente final. Nesta lógica, Rosser Reeves, um executivo norte-americano de propaganda e inspiração para os personagens da série de TV Mad Men, criou o termo Proposta Única de Venda (USP), que propõe que, a partir da diferenciação, a marca é capaz de criar vínculo com o consumidor, se proteger da concorrência e garantir a lucratividade.

Investir em um nicho de mercado pode ser uma grande oportunidade para quem quer empreender e se tornar referência em algo. Resta ao futuro empreendedor criar valor para o produto ou serviço e oferecer algo que ninguém mais oferece. Essa é a lógica que impera em grande parte do universo corporativo, mas que é ainda mais aplicada aos mercados de nichos. E aí, vai investir em um mercado saturado ou vai apostar em uma lacuna que ainda não foi explorada? 

Gustavo Caetano é CEO da Samba Tech