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Era uma vez René Descartes (1596/1650). Em 1637, produz sua obra monumental Discours de La Méthode. E, lá a expressão que o eternizou. Originalmente, em francês: “puisque je doute, je pense; puisque je pense, j´existe”. Em outro momento expressa de forma diferente, “je pense, donc je suis”. Mais adiante, convertida para o latim: “cogito, ergo sum”.

Na cabeça do mestre e filósofo uma inflexão ceticista. Uma forma de colocar em dúvida e sempre todo o conhecimento, as tais de verdades absolutas que jamais existiram. Ao duvidar, obrigatoriamente se pensava, e se pensava necessariamente estava-se vivo. Existia-se. Assim, e durante séculos, acabou prevalecendo esse entendimento. Para muitos tradutores, o sum converteu-se, em português, em sou. E, com esses, eu concordo. Para outros, o sum virou existo. Desses, discordo, radicalmente. Descartes, referia-se ao ser individual, e sua manifestação de existência, de consciência que existia e perante si. Mais ou menos, a mesma sensação de uma pessoa conferindo sua imagem num espelho. Não se referia ao ser social. E existir é uma propriedade exclusiva do ser social. Existência não é uma manifestação. Ser é uma manifestação. Existir é uma comprovação, um testemunho, um atestado. Você só existe se outras pessoas reconhecerem sua existência. Caso contrário, você apenas é, mas não existe. Repito, existir é uma propriedade exclusiva do ser social.

Abelardo Barbosa, o Chacrinha, mais que concordar, fazia a apologia do existir. Em todos os seus programas, repetia, à exaustão, “Quem não se comunica, se trumbica”. É isso, mas é muito mais que isso. Quem não se comunica, se trumbica pura e simplesmente, e, para voltar ao começo, não existe. É, mas não existe. A existência pressupõe, repito, o reconhecimento por outra ou outras pessoas. Pressupõe o reconhecimento do ser social. Somos seres sociais.

E, daí, a importância decisiva da marca. E daí a importância essencial da reputação. De sermos – pessoas, produtos, empresas e instituições – uma marca de qualidade na cabeça e no coração de nossos principais stakeholders; de nossos públicos relevantes, essenciais e complementares.

Mas, tem um detalhe. Não existe a alternativa de passar pela vida ignorado por todos os demais. Até as pedras, em sua dureza, solidão e imobilidade, se comunicam. Você olha para uma pedra e algum tipo de registro ocorre dentro de você. Bonita, feia, esquisita, grande, pequena, áspera, pontuda… O mesmo ocorre com as pessoas que optaram, como se possível fosse, pelo isolamento. Você também olha para elas e pensa, “que pessoa mais esquisita…”.

Vinicius de Moraes, um poeta no plural, conforme já comentei em outro artigo, um dia ganhou o LP Sambas de Roda e Candomblés da Bahia, do maestro Carlos Coqueijo. “Poeta e diplomata da linha direta de Xangô”, convidou Baden Powell para ouvirem juntos. Vinicius, mais atento ao lado místico das composições; Baden, à riqueza das harmonias presentes nos cantos. Durante três meses e 20 caixas de uísque depois, trancados na casa do poeta, compuseram os afrossambas – em número de 25. Dentre outros, Berimbau. E em Berimbau, a sentença de morte ou de vida para os que resistem à necessidade essencial de cuidarem de sua marca, de polirem sistematicamente suas reputações:

“Quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém”.

Assim, e quase 500 anos depois, e considerando-se o contexto, a obra e o caminho percorrido por René Descartes, só cabe uma tradução para Sum. E que é Sou. Já para Existir é preciso um passo adiante. De planejamento, esmero, atenção, cuidados. De construir uma identidade, personalidade, estilo, que se converta numa marca de extraordinária qualidade na cabeça e no coração de seus principais stakeholders.

Quando isso ocorre, além de Ser, e finalmente, sua empresa, seus produto, você, existem!

Fiz-me compreender?

Francisco A. Madia de Souza é consultor de marketing, sócio e presidente da MadiaMundoMarketing