O último dia Festival do Clube de Criação teve um debate polêmico: a dinâmica de pagamentos entre clientes, agências e produtoras. A mesa “Pagamento em 180 dias?! Inviável” reuniu Carla Brauninger, sócia e diretora de atendimento da Alma 11:11 Áudio; Fernanda Moura, produtora de integração da Leo Burnett Tailor Made; Federico Wassermann, marketing manager da General Motors; Mayra Auad, sócia e CEO da YourMama; e Tato Bono, head de produção da Publicis Brasil. A mediação ficou com Alex Mehedff, managing partner e CEO da Hungry Man.

 

“Como a gente reage a isso? Qual é a nossa posição? Como é a nossa transparência gera o diálogo para criar esse valor. Enquanto a gente não empreender esse valor dentro da mesa de compra, ou seja, educá-los, ficaremos sendo massacrados. O interesse é a meta da planilha. Isso não vai mudar, é um processo que existe. A transparência é realizar esse diálogo”, apontou Mehedff.

Fernanda comenta que, muitas vezes, quando a pessoa da mesa de compras, muitas vezes, negocia com um valor fechado, não tem conhecimento do que está negociando e vai tentando abaixar. “Fica negociação do abaixa por abaixa. Não existe uma conversa profunda do assunto. Acaba virando um massacre de grana e de prazo, ninguém fica feliz, produtora, cliente nem agência.”

Outra coisa apontada é que muitas produtoras se prejudicam com os longos prazos porque precisam ter um capital de giro enorme para trabalhar, o que não é fácil. Além disso, as produtoras, apesar de não receberem rapidamente, precisam pagar as pessoas que trabalham com eles em dia e no prazo “normal”. E se elas cumprem isso, por que não conseguem exigir o mesmo? Para os profissionais, as produtoras têm duas formas de evitar situações assim: elas podem dizer não ou embutir o custo do prazo no preço e cobrar. “A nossa fragilidade vem da nossa incapacidade de fazer isso”, afirma Mehedff.

Para o único cliente na discussão, Wassermann, da GM, é possível trabalhar com prazo de 180 dias, desde que se coloque o custo do dinheiro no tempo e tudo seja negociado no início do projeto. Mas ele apontou um outro problema que pode resultar desse tempo. São poucas as empresas que têm seis ou mais meses de caixa para trabalhar descobertos e que quando tem é porque o lado financeiro é muito forte – o que pode a longo prazo ter mais peso do que o core business da entrega final. “Além de só empresas muito grandes conseguirem jogar com seis meses antes, eu questiono se é saudável o mercado ir para um caminho mais financeiro do que técnico.”

Mayra comentou que já ouviu muito que precisa de mais flexibilidade, mas para ela isso deveria valer para todos, não só para produtoras, agências ou clientes. “Por que não pode ser um negócio bom para todos?”, questionou. Para Tato, se aprofundar em formas de melhorar essa dinâmica para todos exige mais trabalho, mas isso não deve ser um empecilho. “Não me importo em trabalhar mais se for trabalhar certo para depois não perder mais tempo resolvendo problemas”

O Festival do Clube de Criação aconteceu na Cinemateca Brasileira em São Paulo nos dias 16, 17 e 18 de setembro.

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