Alê Oliveira

Há até uma certa ingenuidade na afirmação de que os governos não precisam fazer publicidade. Isso pode ocorrer em alguns países onde o governo realmente só governa e não explora, com as suas estatais, diversos segmentos de atividades.

O Brasil é um dos modelos dessa segunda situação e talvez até de forma exagerada. Mas a verdade é que ele é majoritário da Petrobras, por exemplo, sempre considerada uma das maiores anunciantes do mercado brasileiro e porque precisa realmente anunciar, pois atua em um dos setores (distribuição de combustível) de grandes concorrentes.

Como admitir que a Caixa e o Banco do Brasil não tenham presença constante na mídia, seja analógica e/ou digital, com o também grande número de concorrentes, dentre os quais os gigantes Bradesco, Itaú e Santander.

Estamos citando apenas exemplos bastante pontuais de anunciantes onde o governo ou é absoluto ou tem maioria na composição acionária dos mesmos. O objetivo deste editorial não é compor uma relação cem por cento de todos os empreendimentos onde o nosso governo é majoritário. Deixamos também de lado as necessárias campanhas que deveriam ser frequentes de alguns Ministérios como o da Saúde e o da Educação, dentre outros, mencionando ainda o da Economia, devido às reformas que o presidente Bolsonaro propôs em sua campanha eleitoral, quando ainda candidato.

Quem é do meio da comunicação do marketing, a quem prioritariamente se destina o PROPMARK, sabe o quanto é importante a participação do governo no bolo publicitário brasileiro. Isso inclui, além de para si e a população de 220 milhões do país que administra, também uma valiosa receita para os meios de comunicação e as agências de publicidade hoje espalhadas pelas mais importantes regiões brasileiras.

A conclusão de toda essa exposição aqui feita é a de que o produto final da atividade publicitária é extremamente necessário para o país como um todo, tendo em vista a importância da comunicação para os públicos-alvo e para os agentes que contribuem para não apenas criar e produzir (e aqui loas também para as produtoras), além de veicular campanhas e peças publicitárias isoladas.

Isso posto, após os comemorados 100 dias de governo, está mais do que na hora de o governo federal reiniciar uma das suas centenas de atividades da qual jamais deveria ter se afastado.

Esse afastamento pode ser um dos principais responsáveis pelo vácuo que se formou entre a Presidência da República, cujo atual mandatário determinou ou consentiu na paralisação de toda propaganda de governo, e grande parte dos 220 milhões acima referidos.

Em um país de dimensões continentais como o Brasil e com várias importantes mídias de alcance nacional, sem se falar nos meios digitais que a cada dia conquistam maior alcance junto
à população, fica evidente que a ausência praticamente total do governo nos meios deixa de oferecer ao público os importantes recados que por obrigação da modernidade os governos devem realizar.

Alguns graves erros de conduta praticados por alguns (poucos) agentes do mercado publicitário brasileiro, de onde surgiu inclusive a semente oficial do que viria mais tarde a ser a operação Lava Jato (remember Setembro Propaganda), não podem obstaculizar todo um processo que sempre contribuiu, pela própria natureza da sua instituição, para o desenvolvimento da nossa economia.

Um erro médico, por má-fé, não pode comprometer toda a classe médica brasileira (ou mundial, no caso, como queiram os leitores).

Assim como um erro na engenharia de uma grande obra não pode igualmente colocar sob suspeita todos os engenheiros e construtoras deste país. E, por falar nestas, de cujo setor boa parte do mensalão se “beneficiava”, é bom também que se diga que, embora algumas gigantes tenham contribuído sobremaneira para espalhar a maldição da corrupção nas hostes oficiais, nem por isso esse importante segmento de ajuda permanente ao progresso deve ser criticado e condenado em sua totalidade.

Após estas considerações, que não nos pertencem, senão à maioria das boas cabeças pensantes e até das não muito pensantes deste país, torcemos para que o governo em todos os seus níveis se dê conta da grande verdade espalhada pelo saudoso Velho Guerreiro, o Chacrinha: “Quem não se comunica, se trumbica”.

Já está mais do que na hora, presidente Bolsonaro, de atentar para esse item importante e até aqui desprezado pelo seu governo.

É bom lembrar que o próprio mercado publicitário, tendo em vista as dificuldades provocadas ao meio por algumas (poucas) das suas representantes, deu-se conta de que deveria ir além dos cuidados até aqui tomados no seu relacionamento financeiro e contábil com os clientes anunciantes, inclusive e principalmente os de governo.

Assim, entidades relevantes do meio publicitário, como a Abap, o Conar e o Cenp, além de outras preocupadas em não mais se repetirem os lamentáveis episódios passados, aperfeiçoaram com maior rigor os controles internos desses relacionamentos, aderindo após aprofundados estudos das suas lideranças e colaboradores mais próximos ao instituto de um rigoroso compliance nessas relações.

Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda (aferrentini@editorareferencia.com.br).