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Em meio à presença de políticos, artistas e milionários de todas as áreas e perfis, o Fórum Econômico Internacional de Davos promoveu intensas discussões sobre o futuro das empresas, seja em seus ambientes de negócios e na relação com a sociedade e governos. O grande tema do evento foi a quarta revolução industrial, em que a convergência entre o mundo físico e tecnologias digitais como inteligência artificial, internet das coisas, dados e robôs integrados aos processos de produção vai impactar desde as habilidades necessárias para os funcionários do futuro até a dinâmica dos negócios e países. 

Diversos seminários assistidos in loco pelos três mil líderes globais presentes, e por outros através de transmissão por web, discutiram saídas para uma nova arquitetura global diante dessa revolução.

Um estudo apresentado pela Deloitte durante o evento deixa claro que os líderes têm diante de si um grande desafio para reorganizar suas empresas. Junto a mais de dois mil chefes-executivos de companhias de 19 países, a pesquisa indicou que eles desejam qualificar a gestão de olho no futuro da indústria, e indicam que têm uma visão melhor sobre como fazer a transformação.
“No ano passado, havia muita confiança dos líderes para entender a Indústria 4.0, mas com uma distância grande para compreender como levar essas mudanças adiante. Hoje, eles se mostram mais realistas sobre o que precisa acontecer para serem bem-sucedidos na transformação, e parecem particularmente focados nos impactos sociais e no desenvolvimento da força de trabalho”, disse Punit Renjen, CEO global da Deloitte.

Segundo o estudo, as empresas que tiverem líderes com a visão de Indústria 4.0 têm mais chances de sobreviver às mudanças. Dentro da visão estão inclusos o compromisso em fazer o bem, tomada de decisão baseada em dados, visão de longo prazo para o uso de tecnologia e agressividade no desenvolvimento da força de trabalho. A Deloitte criou quatro personas que compõem o líder de sucesso no futuro para materializar essas necessidades.

A primeira é do “Social Supers”, líder com capacidade de entender que o impacto social da empresa – e seu propósito – é mais relevante que a performance financeira como fator para o sucesso da empresa. O estudo aponta que 34% dos CEOs entrevistados indicam o impacto social como fator de negócios mais importante para o sucesso de suas gestões, contra 17% que consideram a performance financeira. Curiosamente, eles indicam que lucro e causas podem caminhar juntos, já que 53% dos CEOs disseram que os esforços para causar impacto social pela empresa resultaram em novas fontes de receitas.

Outras personas da Deloitte são o “Data-driven Decisive”, o “Disruption Driver” e o “Talent Champion”. O primeiro é quem consegue obter métodos focados em dados para a tomada de decisões, passando por cima de silos organizacionais que costumam atrasar as ações. Esse perfil é o mais confiante sobre sua capacidade de estar preparado para o futuro.

Os “Disruption Drivers” entendem que os investimentos em inovação são fundamentais para o crescimento da empresa. Decisões inteligentes sobre novas tecnologias ajudam a criar novas linhas de negócios, por exemplo.

Por fim, os “Talent Champions” sabem exatamente as novas habilidades que suas empresas precisam para compor uma força de trabalho, além de possuírem a capacidade de preparar esses novos talentos. “Líderes que se encaixem nesses quatro perfis estão atingindo maior crescimento nas receitas de suas empresas”, afirma Renjen.

A quarta revolução industrial vai trazer também oportunidades econômicas para as empresas que souberem lidar com questões que preocupam cada dia mais a população, como privacidade de dados, degradação do meio ambiente, concentração de mercados e corrupção endêmica.
Esse foi o tom de um bate-papo entre Bill McDermott, CEO da SAP; Hiroaki Nakanishi, CEO da Hitachi; Ginni Rometty, CEO da IBM; e David Taylor, CEO da P&G, que traçou um panorama entre as tecnologias e a vida humana. “Há um grande problema de inclusão, já que a inovação tecnológica pode suplantar as habilidades humanas. Diante de uma crise nessas habilidades, eu realmente acredito que 100% dos empregos serão diferentes no futuro”, alertou Ginni.

McDermott aponta que as empresas têm o dever de construir soluções para a sociedade lidar com essas dificuldades, enquanto Rometty analisou que deve ser desenvolvido um novo modelo para a educação e a carreira profissional, sem tanta discrepância entre trabalho manual e intelectual, por exemplo. Nesse sentido, ficará mais necessária a busca por talentos onde quer que eles estejam no mundo. Assim, a tendência é que haja mais migração por conta de qualificação profissional.

CEOs pessimistas
Outro estudo apresentado em Davos, da PwC, mostrou a temperatura das expectativas dos CEOs para o cenário global da economia no ano de 2019. Em geral, eles estão mais pessimistas, após um ano de pico de otimismo em 2018, quando 57% dos CEOs indicavam uma melhora de cenário, contra apenas 5% que esperavam um declínio. Neste ano, uma queda na economia é esperada por 29% dos entrevistados, enquanto 42% esperam melhora. Entre executivos da América Latina, o número dos que esperam uma melhora do cenário é de 45%, contra 65% no ano passado. São 23% os que esperam piora, contra 5% no ano passado. Temas como a ascensão de políticos populistas com influência maior nas políticas econômicas dos países ajudam a criar a percepção negativa, segundo a PwC. Também há queda na confiança em cima das estruturas de governança globais para auxiliar os países a discutir questões como comércio, mudanças cimáticas e proliferação nuclear. A consequência é que há um número crescente de países adotando uma posição de unilateralismo em cima desses temas, em uma clara retração da globalização.

O estudo da PwC indicou ainda que os investimentos no exterior pelos CEOs tende a se tornar mais disseminado por quantidade maior de países. Questionados sobre os cinco países que seriam destino dos investimentos, no ano passado, 46% apontaram os Estados Unidos, contra 27% neste ano.

A China era meta dos investimentos de 33% no ano passado, e agora são apenas 24%. Também apontou a PwC que 49% dos CEOs concordam que a inteligência artificial vai mais acabar com empregos do que criar novos, contra 41% que pensam o oposto. E 62% indicaram que está mais difícil contratar talentos em seu mercado, um índice que era de apenas 43% em 2012. Outros 7% dizem ser mais fácil do que antes.

Os números da PwC indicam que, de fato, há um pessimismo sobre o impacto da quarta revolução industrial nos empregos no futuro, mas que há soluções para o problema, e ele está nas mãos das próprias empresas. “Há uma sensação geral de que ninguém de fora, seja governo ou sistema educacional, vai resolver o problema da qualificação das pessoas. Por isso, os líderes não podem esperar e têm de resolver o problema por si, diz Bob Moritz, global chairman da PwC.
Um dos dados da consultoria mostra que, para resolver um problema de talento que não existe na empresa, 46% acham que a melhor forma é oferecer treinamento interno, contra 16% que vão buscar nomes em outras indústrias, e 14% que farão contratações de funcionários de concorrentes.