No último dia 28, Maurício Meneses e eu encerramos a temporada do nosso stand-up Lula contra o Mau, que é uma brincadeira com as gafes e desacertos cometidos na propaganda e no jornalismo. Evidentemente o Mau, do título da peça, se refere ao Maurício, supostamente um inimigo, como era muito antigamente a disputa entre publicitários e jornalistas. Para nossa surpresa, tal como nas vezes anteriores, o teatro encheu todos os dias mesmo, a ponto de ter sido necessário colocar cadeiras extras. A bagaça rolou na Casa de Cultura Lauro Alvim, na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, o que rendeu o slogan “Finalmente alguma coisa que você pode comprar na Vieira Souto”. Eu já disse em colunas anteriores que não existe nada melhor para o ego do que o aplauso num teatro cheio. As gargalhadas da plateia são como um bálsamo. De certa forma, a plateia de um teatro é um organismo único e sua relação com ela, se feliz, equivale a um amor bem feito. Evidentemente estou me expondo à velha piadinha que fala que eventualmente não sei fazer amor. Talvez seja, mas a piada tem a originalidade e a profundeza das do Tio do Pavê. Já temos convites para fazer outra temporada.

Foi acabar o teatro para que a gripe me pegasse e me jogasse na cama como uma amante insaciável. Fui aos quase 40 graus de febre e tive tudo o que um ser humano não merece, incluindo dores incríveis e pesadelos, como Dilma cantando Negrinho do Pastoreio e Temer imitando a cena da dança dos pãezinhos de Charlie Chaplin no filme Corrida do Ouro, com a sua dança dos dedinhos. Saudades da Cinelândia. Desde o início de minha gripe não fui ao escritório. Sei que 50 pessoas fizeram um ato de apoio ao Maduro, esse democrata que a mídia quer derrubar e continuou o magnífico governo de seu mestre espiritual, Chaves, que graças ao seu amor aos pobres e à sua liderança levou a Venezuela ao estado de prosperidade, segurança e felicidade que estamos assistindo. Gostaria de estar bem para que de minha janela pudesse saber como o capitalismo internacional e a mídia podem destruir um país conduzido por um estadista da grandeza de um Maduro. Ironizo? Como não fazê-lo?

Raul Gil deve ter uns 50 anos de televisão. Já fez tudo na telinha, inclusive cantar. Mas foi como animador de auditório que se consagrou. Seu programa não é um líder absoluto de audiência, mas tem seu público, o que lhe garante patrocínios e, consequentemente, continuidade. Há algumas semanas recebeu no programa um conjunto de coreanos bem jovens que vieram trazer um retrato do rock coreano para o auditório e espectadores. Raul brincou, como é seu estilo, com os jovens e a tradutora. Posso garantir, pelas gravações vistas, que foram brincadeiras de tiozão bobo, imitando a maneira de falar e puxando os olhos, nada muito mais do que isso. Pois a galera furibunda da internet malhou o velho Gil. Blogueiros e youtubers queriam a morte dele. E, na sanha destes ambientes doentios, cometeram barbaridades assustadoras, como um internauta em seu programa que disse que tinham de tirá-lo do ar porque estava velho. Isso porque o imbecil é contra qualquer tipo de preconceito. Aliás, entre palavrões e cusparadas agressivas, a maioria deles falava do baixo nível da TV, como se fossem âncoras da BBC. Raul Gil pediu desculpas. A seu favor chegou a dizer que era ele o responsável por divulgar o rock coreano no Brasil.

Por falar em humor e savoir faire, me permita contar uma história. Nas temporadas anteriores do nosso stand-up tocávamos uma gravação com o grande comentarista Luiz Mendes, da Rádio Globo, que tentava explicar o significado de “meio-irmão” e se enrolava todo. Era engraçadíssimo, pois, embora conhecido como “O Palavra Fácil”, ele fazia uma enorme confusão na tentativa de ser claro. Pois bem, um dia ele morreu e a gente resolveu tirar esse momento. Maurício se encarregou de contar para a viúva, Dayse Lúcidi, a decisão. Ela não concordou: “Não façam isso! Ele adorava contar essa gafe. Foi ver vocês e recomendou para todo mundo…” Isso é classe, digo eu.