Todo ano novo é assim: seguimos os rituais tradicionais para a virada, viajamos para algum lugar incrível, usamos roupas de determinadas cores, fazemos listas de decisões e planos, jogamos coisas fora, limpamos gavetas, fazemos doações, usamos incensos, sal grosso, velas, escolhemos novos livros para ler, guardamos na estante aqueles que não vingaram. Respiramos fundo, à procura de fôlego renovado e alguma sensação de recomeço, de um novo ciclo, de que algo se inicia, depois do ano bomba que exauriu (como muitos que se passaram) as energias até o talo.

De alguma forma, parece funcionar: em pouco tempo esquecemos do “ano velho”, começamos a tocar o dia a dia do ano novo, e como equilibristas seguimos nos adaptando às circunstâncias da economia, essa entidade imprevisível que comanda a todos. As pessoas parecem estar, de uma maneira geral, otimistas – mas é assim que iniciamos todos os novos anos. O otimismo é uma força que nos impulsiona, para o bem e para o mal, eu diria, pois também nos faz esquecer um bocado daquilo que mais precisa mudar para que tudo ao redor mude junto: nós mesmos.

Quando nos damos conta dessa verdade incontestável, ultrapassando o discurso, mudanças de fato ocorrem. O discurso sempre foi, afinal de contas, a tônica, o motor propulsor do nosso mercado, o da propaganda. Não raro, é a partir dele que se parte em busca da transformação, não o contrário. A inversão, no entanto, é que transforma verdadeiramente. É o storydoing, no lugar do storytelling. Pessoas que mudam a partir de seus atos, de suas ações no mundo, ajudam a transformar o mundo. Mudam empresas, mudam como elas se posicionam, o que e como elas comunicam e até o que vendem.

O discurso muitas vezes confunde. Gera interpretações diversas. Um texto pode elevar uma pessoa ou destroná-la de uma vez. Discursos geram constrangimentos, demissões, rompimentos. Mas costumam ser esquecidos mais facilmente. Atitudes, bom, essas impactam de verdade. Dia desses uma amiga me contou sobre a experiência que viveu na festa de fim de ano da empresa em que trabalha há poucos meses. Ali, viu atitudes dos donos da empresa que jamais poderia imaginar. Em poucas horas, caíram por terra discursos proferidos em reuniões, defendidos em concorrências, estampados em campanhas institucionais. Naquele dia, ela tomou a decisão de entrar em 2018 pedindo demissão. Simples assim: atitudes revelam quem você é, para além do discurso, mais cedo ou mais tarde.

Por isso é tão interessante estar vivo em 2018, e com tantas possibilidades, tantas oportunidades de fazer coisas, de pôr em prática os discursos que ficam tão bonitos nas redes sociais ou nas páginas deste jornal. É bom lembrar que na essência deste “nosso mercado de mudanças constantes” estão as pessoas: são elas que fazem e movem “o mercado”. O novo ano, com fôlego renovado, reabre a oportunidade de fazer melhor e mais bem feito, pois ao longo de 2018 mais falsários e reis do discurso serão, irremediavelmente, desmascarados. Esta é a única previsão que, como se diz, não tem erro.

PS: Quero destacar, em nome do título deste artigo, a belíssima “renovação de votos” feita no dia 1 de janeiro pelo novo publisher do The New York Times, A. G. Sulzberger. Muito poucas empresas podem renovar votos feitos há 120 anos. A necessidade de um jornalismo independente, corajoso e confiável é tão grande hoje quanto já foi em qualquer época, porém mais do que nunca se tornou essencial celebrá-lo, nesta era de desinformação e declínio de grandes empresas de mídia. O Times jamais teria sobrevivido todo esse tempo, ou poderia renovar votos, caso não colocasse em prática, todos os dias, o seu propósito, levando a sério o lema “Show, don’t tell”.