Maio de 2008. Adam Neumann e Miguel Mckelvey criam o Green Desk, um pequeno espaço de trabalho compartilhado no Brooklyn. Dois anos depois, vendem o “verde” e decidem mergulhar de cabeça no “maduro”. Nasce o WeWork em New York City, Soho. Ainda sob as fortes brisas, ou, ventanias, da crise das hipotecas.

Empresas em processo de disrupção e reinvenção, mundo vertical se despedindo e dando origem ao horizontal, e pela crise das hipotecas importantes e generosos edifícios corporativos disponíveis.

Os órfãos da crise, desempregados, mais que desejosos de empreender. Individualmente, mas não solitários. Os dois decidiram aproximar, na ilha de Manhattan, espaços vazios e milhares de freelancers… E deu no que deu…

Investidores, com dinheiro vazando pelo ladrão se encantaram, e apostaram de forma desproporcional e pródiga, dezenas de bilhões no WeWork. Só o Softbank injetou US$ 10 bi.

Depois de uma visita de 10 minutos que Masayoshi Son, o todo-poderoso do banco, fez às instalações do WeWork de Nova York, e uma carona que recebeu de Adam até o Kennedy Airport. No fio de bigode, ou, num “paper” rabiscado no tablet e enviado por smartphone… Minutos depois US$ 10 bi na conta.

Corta para 2018. Dez anos depois do Green Desk, 8 anos desde o início do WeWork. Com planos individuais que começam em R$ 800, e vão saltando dependendo do agregado de serviços, e em dois anos de Brasil, o WeWork fecha 2018 com 14 unidades utilizadas por 15 mil pessoas.

Sua chegada ao nosso país foi saudada com foguetórios pelas incorporadoras que não sabiam o que fazer com seus prédios corporativos lançados antes, e prontos em meio à mais terrível crise do mercado imobiliário do país. A tal da sorte dos iniciantes, e salvação dos imprevidentes. Agora, 2019, além de dobrar de tamanho onde já se encontra, o WeWork pretende fincar bandeira e espaços em Brasília, Porto Alegre e Curitiba.

Em termos de metragem, até o meio do ano passado, a WeWork já era responsável pela ocupação de 72 mil metros quadrados na cidade de São Paulo e 19 mil metros quadrados no Rio de Janeiro. No mundo e em 8 anos, a WeWork já contabiliza 287 endereços, espalhados por 77 cidades, em 23 países, e 270 mil pessoas. Em dezembro passado, segundo dados da própria empresa, 400 mil usuários, 83 cidades e 27 países. Com taxa de ocupação mínima de 85%.

Nos Estados Unidos, neste momento, a WeWork lança uma primeira subsidiária. A WeLive. Moradias compartilhadas. Começando por Nova York, e por Arlington, na Virginia. Como dizia Lavoisier: “no mundo nada se cria, tudo se transforma”. Como corrigiu Chacrinha: “no mundo nada se cria, tudo se copia”. Como dizem nossos avós: “sempre se volta ao passado”. E como dizia o Conde de Lampeduza: “é preciso que tudo mude para que tudo permaneça como está…”

Assim, guardadas as devidas proporções, com todos os agregados de modernidade e tecnologia, decoração, gadgets, mais serviços, o WeWork não passa dos velhos e bons galpões de trabalho, e o WeLive, dos velhos e bons cortiços.

Lembra, Adoniran, Saudosa Maloca. “Dim-dim donde nós passemos os dias feliz de nossas vidas…”. Tá tudo de volta. Só que agora é moderno… Ou, como dizem os datados, “um charme”.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)