Empresas precisam e devem ter uma causa. Mais que ter, ser, antes e acima de tudo, uma causa. Originar-se de. E jamais, tornar-se em.

Em mão a revista Forbes Brasil, edição 55, pág. 74, começa a reportagem sobre a terceira startup mais valiosa dos Estados Unidos, logo após o Uber e Airbnb. A WeWork. US$ 20 bilhões…

Entro na internet. Busco a empresa de, supostamente, US$ 20 bilhões. Leio a missão: “Criar um mundo onde você pode aproveitar a vida enquanto trabalha”. Possa, ou pode? Não importa.

Na narrativa, a presença dos três fundadores: Miguel McKelvey, Adam Neumann e Rebekah Neumann. A narrativa:

“Quando abrimos a WeWork, em 2010, queríamos construir mais do que lindos espaços de escritórios compartilhados. Queríamos construir uma comunidade. Um lugar onde você entre como um indivíduo, “eu”, mas se torna parte de uma grande “nós”. Um lugar onde estamos redefinindo o sucesso medido pela realização pessoal, não apenas pelos resultados. A comunidade é nosso catalizador”. Esta última frase fica batendo em minha cabeça, “a comunidade é nosso catalizador”. Será?

E, o restante, uma tentativa tosca e parva de brand book; na melhor das hipóteses, um festival de bobagens e lugares comuns, tipo “Fazemos o que amamos e estamos conectados a algo maior que nós mesmos”, “Não somos perfeitos nem fingimos ser. Somos sempre os mais honestos e transparentes que podemos ser” ou “Não contamos com o sucesso. Estamos felizes por estarmos vivos”. Ou ainda, “Seja persistente e derrube as paredes em seu caminho – literalmente, se for necessário. Você tem nossa permissão…”. What???!!!

Um dia, conta a matéria, Adam e Miguel aguardavam a visita do “chefão” do Softbank, Masayoshi Son. O homem mais rico do Japão e um dos grandes investidores do mundo. “Chega o Masa. Olha o relógio de pulso e diz: ‘sinto muito, mas só tenho 12 minutos. Depois de uma volta de 12 minutos fala que precisa ir embora. Oferece a Adam a oportunidade de acompanhá-lo em seu carro’”.

Durante o trajeto, Masa não quis ver a apresentação. Pegou um iPad e começou a traçar o esboço de um investimento. No fim da carona, Masa assinou o esboço do iPad, traçou uma linha ao lado e deu para Adam assinar. Meia hora depois mandou uma espécie de “contrato de guardanapo”.

Conta a matéria que nas semanas seguintes os advogados entraram em ação e o Softbank comprometeu-se a investir US$ 3 bilhões no negócio… Investiu! Adam Neumann tenta justificar o injustificável a Steven Bertoni de Forbes: “Ninguém está investindo numa empresa de coworking que vale US$ 20 bilhões. Isso não existe. Nossa avaliação e nosso tamanho hoje se baseiam muito mais na nossa energia e espiritualidade do que num múltiplo de receita…”.

Paro por aqui. Quem quiser continuar, sucesso! Se Miguel, Adam e Rebekah conseguirem transformar o WeWork numa nova religião, quem sabe, em algum momento, traga de retorno os tais dos US$ 20 bilhões ou muito mais.

Já como empresa, como negócio, vale tanto ou menos que uma administradora de condomínios metida a besta. Apenas isso. E Masa é um diletante que adora brincar com os infinitos bilhões de dólares que tem e administra. Se fosse investidor ou cliente do Softbank, reconsideraria. Nem rolha, nem folha, nem trolha. Bolha, mesmo!

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)