Você sabe o que é? Lá atrás, durante alguns anos, repetia-se a mesma cena no Natal. Na Sadia, quando ainda não moravam numa mesma casa chamada BRF, era alegria só. Na Perdigão, um clima de velório. A Sadia tinha o peru! E reinava no mês de dezembro e nos lares brasileiros com o seu mais que famoso e reputado Peru Sadia, claro, tendo na sequência, como sobremesa ou para acompanhar o café, o panetone da Bauducco. E assim seguiam os natais brasileiros.

Num dia, cansado das lamurias natalinas, Saul Brandalise Jr. decidiu buscar uma alternativa. Dentre seus técnicos escolheu os dois melhores e mandou dar uma varrida no que de mais revolucionário existisse no território das penosas, nos Estados Unidos.

No bagageiro dos aviões da Varig trouxeram 11 linhagens da galinha escocesa, imediatamente internalizadas na avícola Passo da Felicidade, em Tangará, interior de Santa Catarina. Tudo sob o maior sigilo. E em meio a uma reserva de araucárias. Três anos de pesquisas, simulações, testes e mais testes…

No Natal de 1982, debutou o Chester – de peito – da Perdigão. Uma espécie de Jojo Todinho da época. Mais adiante copiado pela Sadia, hoje as duas moram numa mesma casa e empresa.

Agora, em dupla, insistem em dizer que não se trata de frangos anabolizados. O segredo está exclusivamente na alimentação. Criados à base de milho e soja evitando ao máximo a presença de gordura. Mais peso e menos gordura. Porém, como a Perdigão fraquejou na comunicação no lançamento… Até hoje as pessoas continuam não acreditando na mágica.

E multiplicam-se as indagações. “Você já viu um chester vivo?” Será que no Natal que se aproxima as empresas voltarão a jurar que é de verdade, que não é um frango ciborgue? Pior ainda, além das dúvidas, diante das proezas de qualquer outro produto de outra categoria qualquer, vão logo dizendo, “esse aí é um chester…”. Virou designação genérica de trambique.

Pegou! Todas as vezes que um produto oferece vantagens e argumentos desproporcionais, que colocam as pessoas na retranca, costuma-se batizar essa patologia como Síndrome de Chester. Que é o que ocorre, repito, com a ave chester, agora exclusividade da BRF, em todos os fins de ano. Até hoje, e não obstante todas as campanhas, as pessoas continuam não acreditando no que veem e têm certeza tratar-se de um frango bombado, anabolizado, à base da química.

E aí volta a BRF, como acabou de fazer no Natal passado, com campanha publicitária tentando desmistificar, recordando a origem da ave, e que não usa compostos químicos nenhum. Mas, não adianta. Em situações como essa ou se planta certo no início ou torna-se praticamente impossível corrigir. Pior que não comunicar é comunicar errado.

A Perdigão errou no lançamento, a Sadia piorou, e agora, mesma empresa que são, pagam por uma comunicação inicial incompetente. Praticamente impossível fazer as pessoas acreditarem que o bonitão Chester não é de plástico e nem siliconado. Todos repetem que o chester é o rei do botox! Lembra do Chacrinha? “Quem não se comunica, se trumbica?”. Pois é, quem se comunica de forma incompleta, superficial, negligente e irresponsável, alimenta lendas. E, assim, não tem do que reclamar. Quando o milagre é demais, e mal contado no início, nem o santo acredita. O que dizer-se então, das pessoas comuns?

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)