Todos os indicadores apontam para a melhora da economia, confirmando a tese dos que defenderam a manutenção de Michel Temer na Presidência da República. Após sua saída, ele responderá pelas acusações contidas contra si nas denúncias apresentadas ao STF pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

A Câmara dos Deputados, em troca ou não de benesses, impediu o processamento de Temer pela Egrégia Corte e o Brasil deixou de correr o risco de prolongar uma crise política que poderia nos levar ao caos.

Basta imaginar, agora que a questão foi superada, como estaríamos neste momento se a decisão da maioria dos parlamentares fosse pela autorização do procedimento judicial imediato. Sabemos da vaidade de alguns membros do colegiado maior da Justiça e de suas preferências partidárias, consequência inarredável do discutível critério de escolha dos mesmos, que estimula o compromisso de gratidão inerente ao ser humano bem formado.

Diante disso, Michel Temer dificilmente escaparia de uma condenação e do seu afastamento do comando do Executivo do país.

Rodrigo Maia ocuparia interinamente a Presidência da República, com prazo constitucional de até 30 dias para realizar eleições indiretas. Podemos imaginar o caos já instalado no país, com os confrontos da classe política visando cada grupo conquistar o direito de concluir o mandato de Temer.

Muito provavelmente – e mais uma vez – os conflitos daí surgidos seriam encaminhados ao STF para resolvê-los e a Alta Corte tomaria para si o protagonismo da vida e do destino político nacional, retardando o deslinde de cada questão apresentada e não necessariamente por interesse de alguns dos seus componentes, mas simplesmente porque o tempo da Justiça é diverso do tempo que o país exigiria para superar mais esse obstáculo.

Dentro desse quadro, pode-se facilmente imaginar o que não sofreria (ainda mais) a economia brasileira, aumentando de forma incalculável o prejuízo da nação e dos seus empreendedores, que hoje, com a situação aparentemente normalizada, ainda lutam, com todas as suas forças, para retomarmos o caminho da normalidade e do desenvolvimento.

Esse cenário correria o risco de ser ainda pior, caso inconclusa a esperada batalha judicial e já se iniciando o processo eleitoral com vistas às eleições de 2018.

Por tudo isso, mostrado sem nenhum exagero, devemos nos conformar com os rumos tomados com a governabilidade do país, em consequência da negativa da Câmara Federal em autorizar o STF a processar e julgar o presidente da República.

Quem consegue medir as consequências terríveis de uma decisão parlamentar contrária, há de concordar que foi evitado o pior.

 

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Enquanto isso, a senhora ministra Luislinda Valois, da pasta dos Direitos Humanos, deu-se ao trabalho de elaborar um dossiê de 207 páginas, destinado à Casa Civil da Presidência da República, pleiteando receber na íntegra seu salário bruto de R$ 30,9 mil pela função que exerce como ministra, além dos seus proventos de R$ 30.471,10 como aposentada da Justiça Federal, onde chegou a desembargadora.

A soma dos dois valores atinge R$ 61,4 mil mensais, muito acima do teto estabelecido em lei, que equivale aos proventos do presidente da República. Para melhor entendermos e julgarmos o desplante da ministra (que já recuou da sua pretensão devido à indignação geral que percorreu o país), não estão considerados nos números acima, as vantagens do seu cargo de ministra, com regalias como carro com motorista, utilização dos aviões da FAB em agenda oficial, cartão corporativo e imóvel funcional.

Na verdade, mesmo sem querer, a ministra Luislinda Valois fez um bem à opinião pública brasileira, embora não fosse esse o seu objetivo. Ela abriu os olhos, ouvidos e bocas dos brasileiros que lutam de sol a sol em troca de salários muito reduzidos, em relação à disparidade de ganhos entre o público e o privado.

S.Exa. provavelmente não se deu conta disso, confundindo sua pasta, de Direitos Humanos, como se fosse de direitos de Luislinda Valois, desprezando, assim, não apenas a legislação em vigor, da qual ao revés deveria ser exímia defensora, mas também desconsiderando a imensa maioria da população brasileira, cuja qualidade de vida é da pior espécie.

Se o caso foi encerrado com a sua desistência do absurdo pleito, não ficará esquecida sua menção ao trabalho escravo ao qual, segundo sua obtusa forma de pensar, estaria sendo guindada, ainda que recebendo “apenas” R$ 3.292,00 brutos por mês, pelo exercício do cargo de ministra.

Aconselhamos Luislinda Valois a renunciar à pasta que dirige, contentando-se com os seus proventos da aposentadoria de R$ 30.471,10 por mês.

Com a sua sabedoria, encontrará certamente outras formas de proventos na iniciativa privada, não sujeitos aos limites da lei e sem correr o risco de uma indesejável escravidão.

 

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Este Editorial é em homenagem ao empresário e publicitário Mauro Salles, que sempre trabalhou como um leão em defesa dos seus empregos, dos seus negócios (com destaque para uma das mais importantes agências de propaganda surgidas no mercado brasileiro), das instituições democráticas e dos seus ideais.

 Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda (aferrentini@editorareferencia.com.br)