Foto: Marcello Queiroz

SXSW chegando ao fim. Triste ver a desmontagem das estruturas da Intel, Apex, JPMorgan e todas as outras “hospitality houses” que tomaram conta das ruas centrais de Austin durante o festival.

Assisti muitas palestras bacanas, muitos painéis nem tanto e fui barrada em várias salas que já estavam lotadas quando cheguei, afinal filas estão em todos os lugares do SXSW o tempo todo.

Foi bem nteressante, por exemplo, a apresentação de Sonya Pryor-Jones e Andrew Coy mediados por Adam Savage , todos pioneiros do movimento Makers – as “oficinas” em que inventores e empresários constroem os protótipos e que permitem acelerar o processo evolutivo das startups. Eles contaram da injeção de fundos que o governo Obama realizou para que escolas americanas passassem a ter estruturas e a ensinar impressão 3D, trabalho em madeira, metais e materiais diversos, um retorno aos cursos técnicos  com “shop classes” nos  “innovation spaces” acadêmicos. Desta forma há uma mudança na mentalidade de professores que passam a ser especialistas em ensino e não em conteúdo. Neste contexto, os alunos potencializam o resultado da utilização das ferramentas disponíveis neste mundo conectado e globalizado.

Outra trabalho interessante apresentado foi de Mary Lou Jespen, entrevistada por  Sunny Bates, em um papo sobre neurociência ou, como elas preferem, “Telepatia”.

Cientista e minha vizinha na Califórnia, ela estuda cérebros que “nadam” juntos. Nos laboratórios,  o grupo de cientistas ensina caminhos e procedimentos a cobaias, depois transplantam o sistema nervoso desses experimentos em novas cobaias que surpreendentemente “herdam” o conhecimento do doador. O objetivo “do bem” é salvar do limbo 40% das pessoas erroneamente diagnosticadas com morte cerebral. 

Como todo estudo científico tem patrocinadores com interesses comerciais, já está em funcionamento em cobaias um chapéu ou capacete, não invasivo, com capacidade de modificar estados mentais. É uma espécie de fase de “engatinhar” para daqui a pouco filtrar pensamentos e sensações, apagar memorias, e controlar o cérebro, o que substituiria tratamentos invasivos em centros psiquiátricos. Mas, tudo isso abre precedentes para que pessoas com intenções não tão nobres tenham acesso à parte mais nobre do ser humano.  Os debates sobre legislação e ética deste produto começam em junho deste ano e a previsão é a de que em oito anos, este “device” esteja disponível no mercado, inicialmente para hospitais.

Entre os keynotes, uma das principais atrações foi Adam Grant, considerado um dos 25 maiores influenciadores de pensamento gerencial. Aos 35 anos de idade, ele é um dos professores mais queridos da Universidade de Warton e circula na lista dos 40 nomes mais ricos com menos de 40 anos no mundo.

Adam trouxe uma lista de dicas para ter sucesso, baseando-se em episódios da carreira dele. Primeiro, ele pede para a audiência de 3 mil pessoas pensar em uma música e tocar em palmas para o vizinho de assento adivinhar. 2% têm sucesso e são msiúcas como “Parabéns pra você”. Ele usa o exercício para comprovar que as ideias estão dentro da sua cabeça e que para transformar isso em comunicação é preciso mais do que um power point. O ouvinte ou recipiente precisa ter os mesmos referenciais que você. Se tiver os ícones e pilares distintos, a mensagem se perde na interpretação e a falha da comunicação é certa. Uma ideia inovadora precisa de 10 a 20 apresentações até que tenha o primeiro reconhecimento. Exemplificou com um desenho que a Disney estava criando e que o pitch foi “Bambi na África em meio a leões” e interpretado como Hamlet para leões, e assim nasceu o “Rei Leão”.

Ele também afirma que pessoas de sucesso não arriscam. Todos os atuais inventores de destaque no mundo têm empregos e trabalham em projetos paralelos até que tenham a segurança de migrar para algo mais compensador do que o emprego atual. E assim nasceram empresa como Apple e Google.

Sobre contratações, a dica é empregar talentos com critérios baseados na contribuição que o profissional pode dar: Jornalistas para storytelling e antropólogos para desenvolvimento de produto. As dicas podem parecer bastante obvias, mas elas foram apresentadas por Adam de uma forma que agradou bastante o publico presente.

Vários painéis foram bastante políticos, como o liderado pela jornalista e comentarista Kara Swisher, que entrou no palco agradecendo por finalmente falar com homens brancos, ironizando o atual governo. Ou o painel com 90% do elenco de “Veep”, um seriado da HBO que se passa na Casa Branca antes de Reagan. Yasmin Green entrevistou dois geradores de “fake news”, pessoas que se divertem criando notícias totalmente falsas, fenômeno que direcionou as eleições nos Estados Unidos.

Algumas pessoas com quem conversei chegam em Austin sem saber do que o festival se trata, outros vão para socializar. Afinal foram mais de 1000 brasileiros presentes este ano. Alguns literalmente passam o ano se preparando para circularem como “experts”. Uns vão para curtir shows VIP, como o feito por Snoop Dogg para pouquíssimos convidados. Outros acompanham de perto pré-estreias de filmes no meio da madrugada e outros passam os dias correndo atrás de conteúdo corporativo.

Acredito que a maior contribuição do festival é o exercício físico que nosso cérebro faz para assistir e entender cinco ou mais palestras seguidas de temas tão diferentes.

SXSW é um festival muito maluco, intrigante e caótico, que desequilibra os participantes. Mas, ano que vem estarei de volta. Afinal, here’s to the crazy ones …

*Natasha De Caiado Castro é sócia e VP de planejamento estratégico da Wish