Estava lendo a revista Propaganda de junho de 1968 quando me deparo com uma entrevista de Edeson Coelho. Entre as baboseiras que eu e meus colegas costumamos dizer quando damos entrevistas ou escrevemos artigos, descobri uma pérola de criatividade e bom humor. A tal entrevista do Edeson Coelho.

Acostumado a declarações cheias de bazófias e lugares comuns de quem assume algum cargo importante, tive uma enorme e agradável surpresa. E note-se que o Edeson acabara de ser escolhido gerente-geral da Standard de São Paulo. Puta emprego. Deixe eu mostrar algumas de suas declarações. Atente para o fato de que no mundo engravatado do atendimento, em 1968, a ousadia do Edeson tem um valor muito maior.

“Cara séria e sala atapetada nunca deram autoridade para ninguém” é uma frase que abre os trabalhos. Logo depois ele afirma: “Todos os meus inimigos são gratuitos. Não ganho o suficiente para pagar por eles”. Ainda sobre a amizade, Edeson garantia que tinha o maior empenho em manter pelo menos quatro amigos, pois, enquanto não introduzissem os fornos crematórios no Brasil, ele gostaria de ter gente o suficiente para carregar o seu caixão. E fazia questão de garantir que a Standard era uma empresa que tinha o mesmo número de idiotas de todas as outras. “A diferença – afirmava – é que na Standard os idiotas não costumam chegar aos cargos de direção.” O cara sempre foi bom mesmo, veja só.

A revista perguntou quais seriam os seus planos para a Standard sob sua orientação. Resposta: “Claro que não tenho. Até porque quem manda na Standard é o Cícero Leuenroth”. Que respeito pelo meu saco e pelo saco dos leitores! Ele poderia estufar o peito e cagar meia dúzia de regras e prometer que faria e aconteceria, mas preferiu a sinceridade.

Você conhece muitas outras entrevistas de publicitários feitas há quase 50 anos que merecem ser relidas? Pensando bem, você conhece entrevistas de empresários que mereçam ser relidas depois de seis meses? A do Edeson merece.

Através dessa revista Propaganda de 1968 fico sabendo também que um dos mais criativos anúncios de toda história de nossa propaganda foi feito pelo Edeson: “Faça como a Ford, compre Willys”, criada obviamente quando a Ford absorveu a Willys Overland.

Também nesta mesma matéria há uma tentativa de se traçar o perfil cultural do entrevistado. Aí então as coisas se tornam mais esclarecedoras, pois tudo do que Edeson achou importante informar é que usava gravatas berrantes e não lia Proust aos domingos. Em outro trecho conta sua carreira numa agência: “Lá eu fiz de tudo, inclusive sair dela”.

Num dos momentos sérios da reportagem, Edeson dá lá alguns conselhos sobre a melhor maneira de se formar um publicitário, nada que seja muito importante, mas termina com uma dica fundamental: “Depois de aplicar estas regras básicas, deve se fazer como a fórmula do bom soneto do poeta espanhol: ‘hay que poner talento’”. Como está demonstrado, talento, inteligência e bom humor fazem as coisas permanecerem no tempo.

Como uma velha entrevista, numa coleção de papéis velhos, entre tanta gente, tantas opiniões, tantas pessoas e tantas ideias que já morreram.