O governo da campanha sem claquete e do figurino sem estilista está se transformando no governo das atitudes sem noção. Minha avó falava um ditado – quem nunca comeu mel, quando come se lambuza – que muito bem serviu ao PT e companhia, sob um aspecto, mas que parece estar servindo também como uma luva a boa parte da turma do capitão. A afoiteza com que certos integrantes do governo se atiram a fazer as suas trapalhadas beira à demência.

Todos os dias alguém perde uma bela oportunidade de ficar calado, de pensar um pouco mais, de consultar gente mais preparada, de “deixar dormir uma noite” o que escreveu hoje, enfim, de usar do velho bom senso. Olhando esse povo, lembro de personagens que ocupam, por seu significado histórico, cargos honoríficos nas empresas e que, de vez em quando, têm uma “ideia” e, movidos por aquela vaidade meio ridícula que acomete a certos velhos, dão vazão à expressão de sua “criatividade”, quase sempre gerando grande constrangimento.

Os casos mais recentes, e não preciso mais do que a semana passada para ter o suficiente para um artigo, envolveram o Ministério da Educação e a Secom. Fico imaginando o Ricardo Vélez, numa inacreditável falta do que fazer, redigindo o e-mail para as escolas e não consigo dissociá-lo da figura do fundador “encostado” redesenhando a logomarca da empresa, usando várias canetinhas coloridas.

Tenho de concordar com a exótica Janaína Paschoal quando ela fala que se tratou de alguma coisa “surreal”. Sim, surreal considerando-se que ocorre no âmbito de um governo, mas quem sabe natural, no caso do personagem envolvido e daquele a quem ele queria agradar. Para que não pareça preconceito, convido meus leitores a se imaginarem nomeados ministros da Educação do Brasil.

A algum de vocês passa pela cabeça, diante da gigantesca tarefa, gastar tempo tratando da execução do Hino nas escolas, da citação do slogan da campanha presidencial e da filmagem das crianças perfiladas, independentemente de já ser lei a execução do Hino, de ser ilegal repetir slogans de campanha em instituições públicas e de ser proibido filmar crianças sem autorização? Vejam só o outro caso: a campanha pela reforma da Previdência. A Secom tem agências que participaram da licitação e ganharam a conta. Um trabalho de fôlego, que envolveu equipes de profissionais, tempo, dinheiro e uma meticulosa observação dos procedimentos legais. Mesmo assim, essa Secom “nova”, segundo a coluna de Lauro Jardim, em O Globo, resolveu não apenas “criar”, mas também produzir o que o colunista chamou de “filmetes”.

Fico só imaginando a reunião de brainstorm, o entusiasmo infantiloide dos burocratas com as “sacadas”. Fico só imaginando o dia da apresentação, a expectativa dos “criativos” e do “diretor de cena”. Fico só imaginando a cara do “cliente”. Claro que foi tudo reprovado por “tosco”! Menos mal que a falta de claquete, de estilista e de noção não tenha contaminado o governo inteiro e o briefing terminado devidamente em mãos a quem cabe a tarefa de criar campanhas: uma agência de publicidade.

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com)