Um dia o mundo amanheceu tentando entender o que existia de sincero, real e verdadeiro no aperto de mão de dois malucos, irresponsáveis, truculentos e inconsequentes: Donald Trump e King Jong-Un. Semanas atrás, e em manifestação nos Estados Unidos, Trump confessou que King está apaixonado por ele… Será? De qualquer maneira, o novo casal da política mundial vem ocupando as primeiras páginas de milhares de jornais em todo o mundo, mais horas e horas das principais emissoras de televisão, mais redes sociais, mais todas as e-news e muito e muito mais.

Assim, absolutamente impossível quantificar-se o impacto daquele primeiro aperto de mão. Em valor de mídia, centenas de milhões de dólares… Li a declaração. Absolutamente formal, quatro ou cinco parágrafos de manifestação de intenções e generalidades. Nada, além disso… De qualquer maneira, e se Deus e o diabo encontram-se nos detalhes, não há como ignorar um pequeno e fantástico detalhe que caracteriza as aparições públicas de Trump, desde o primeiro dia de seu mandato. Invariavelmente sentando na posição central de uma mesa, e sempre, em todas as solenidades e reuniões, uma mesma cena final se repete. Trump, exibindo, além de sua vermelhidão, de seu topete, e de suas expressões, uma imponente caneta preta.

E tudo milimetricamente calculado, na dimensão exata para que a cada final de ato, coletiva, entrevista, ao final sempre apareça uma mesma pasta presta, que Trump, empunhando sua imponente caneta, assine um suposto e qualquer documento na frente de todos… E depois, olhando fixo para as câmaras do mundo, vira a pasta preta e exibe sua megablaster exponencial e inesquecível assinatura. Simplesmente irretocável, precisa, clara, harmônica, não me lembro de ter visto nada parecido ou semelhante em todo os meus 50 anos de marketing. Imagino que todos os dias antes de sair para o trabalho, e logo após o café, Trump treine umas 50 vezes sua absurda assinatura. Isso posto, a logomarca Trump sintetiza-se na soma de seu corpanzil, no paletó aberto, olhar impositivo e sem qualquer manifestação de compromisso, a vermelhidão do rosto, o topete, o olhar de menosprezo, desapreço e tédio, e muito especialmente, e coroando todo o ritual, a assinatura.

Em termos de ativação de seu processo de branding, de emissão de sinais e códigos de comunicação, 10! A câmara foca Trump, fecha em suas mãos enquanto assina, a câmera abre, Trump olha, gira a pasta preta, e exibe ao mundo… Sua monumental assinatura. Tudo em quase 5 segundos. E volta os olhos para o mundo, esboço de sorriso dissimulado, reiterando, no movimento sutil dos lábios e em perfeita sincronia com as bochechas, seu imenso desprezo por todos os demais seres humanos. Até mesmo, pela forma como trata e ainda se refere, a muitas das pessoas da própria família.

A câmera quer fugir e tirá-lo do foco, mas ele impede com um rápido movimento de mãos. Mantém o olhar fixo para os milhões que estão do outro lado da câmera, em todas as partes do mundo, como a dizer, Viram… Eu sou, eu posso, eu faço… Jamais duvidem de que eu seja capaz. Acho Trump uma piada. Já a sua assinatura, o máximo! Quase como se fosse o acorde final da Rhapsody in Blue dos irmãos George e Ira Gershwin…

E você, sua empresa, produtos, serviços, cuidaram de um último acorde, de um derradeiro sinal ou código de comunicação, que prolongue sua presença mesmo depois de ter se retirado? Se sim, parabéns! Caso contrário, mais que recomendo. Todo o restante jamais referencie-se em Donald Trump.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)