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Chegou a vez de avaliar a linha estratégica de Ciro Gomes no Especial Marketing Político, produzido pelo PROPMARK. Com a experiência de deputado, prefeito, governador, ministro e candidato pela terceira vez à presidência da República, o candidato vem usando na sua campanha pelo PDT o seu jeito despojado e franco como um dos elementos de marketing para chamar a atenção dos eleitores. Ciro, paulista de Pindamonhangaba, mas criado em Sobral, no Ceará, une a esses atributos os seus 38 anos de vida pública, que ele mesmo traduz como experiência, ter ficha limpa e facilidade de articulação para temas que vão muito além da sua formação em direito.

Sua participação em debates e entrevistas têm sido destacadas por especialistas. Na média, Ciro tem cerca de 10% de share nas pesquisas de intenção de voto. Mas, segundo simulação feita pelo Ibope e Datafolha, venceria Jair Bolsonaro (PSL) em um provável segundo turno.

Na linha do tempo da sua campanha, chamou a atenção a entrevista que concedeu ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo. Ciro foi muito criticado por divulgar dados considerados exagerados ou infundados, mas seu desempenho foi elogiado.

A campanha de Ciro está sob o comando do jornalista e profissional de marketing político Manoel Canabarro, que atua no Ceará, tanto para Ciro como para seu irmão Cid Gomes, há cerca de uma década. A campanha publicitária quer mostrar um Ciro preocupado com as demandas sociais e posicioná-lo como o candidato ao posto de principal mandatário do país mais à esquerda, mas sem ser radical, para ter aderência nas classes B/C/D/E. Faz sentido, porque o seu principal oponente, e dos demais candidatos ao Planalto, Jair Bolsonaro, tem um discurso identificado como de direita.

“Nossos jovens fazem ensino médio e aprendem uma profissão”, diz a campanha para falar de escolas em tempo integral e de ensino profissionalizante; “Seu bebê protegido e bem cuidado o dia todo”, para enfatizar o programa de creches infantis em tempo integral; “Ciro vai gerar dois milhões de empregos no primeiro ano”, para combater o desemprego e “Ciro vai tirar seu nome do SPC”, para recuperação de crédito. São alguns dos anúncios da estratégia do candidato do PDT.

Pode ser eficiente, mas a criatividade publicitária na campanha de Ciro, e nas demais, não é um asset proprietário como já foi visto em campanhas políticas do passado como as capitaneadas por Nizan Guanaes, para Fernando Henrique Cardoso, e Duda Mendonça, para Lula. Se a ambientação em torno da figura do candidato é recorrente nas campanhas criativas, há o perigo dessa personalização não causar emoção. 

A emoção é ingrediente imprescindível e recorrente desde que o marketing político foi institucionalizado. Por exemplo, Dwight Eisenhower contratou a BBDO para coordenar sua campanha de rádio e TV à presidência dos Estados Unidos em 1952. O mito que vencera a Segunda Guerra Mundial com as tropas aliadas não era suficiente para sensibilizar o eleitor americano e mostrar que ele era o ideal para ocupar o cargo. Por isso, a agência exerceu papel preponderante na formação de um novo perfil, como descreveu Cristiano Aguiar Lopes no Observatório da Imprensa. Eisenhower foi eleito e reeleito.

Barack Obama também usou o marketing como arma para ser o primeiro negro eleito para comandar os EUA. E investiu bastante na utilização das redes sociais. O Twitter foi uma plataforma que usou e abusou, algumas vezes com pragmatismo, outras para rebater críticas e até para chorar, como fez para agradecer a sua equipe pela campanha vitoriosa de 2012. Um tweet de Obama relacionado à chacina de Charlottesville teve mais de 2,7 milhões de likes.

No caso de Ciro, a polêmica “ABC ou Beyoncé” viralizou nas redes sociais, não com o mesmo impacto e alcance de Obama, mas o GIF teve quase dois milhões de views no Twitter. Uma repórter do Buzzfeed perguntou ao candidato quando panfletava no ABC Paulista e resgatou algo que acontecera há cerca de quatro anos: É ABC ou Beyoncé? E o candidato do PDT respondeu o nome da cantora americana.

 

 

Ciro usou a expressão em um vídeo no qual fazia críticas a Michel Temer, que ainda era vice de Dilma: “Como é que um vice-presidente da República manda uma carta para a presidente da República: a senhora não nomeou meu amiguinho; a senhora demitiu meu amiguinho; a senhora chamou a Beyoncé pra jantar e não me chamou também.” Bombou na internet.

Ciro está com sua campanha no ar. O principal apelo são as questões sociais, que o marqueteiro Canavarro explora em conexão com o noticiário do momento com sua equipe própria.

O especialista em marketing político e consultor André Torreta, concedeu a seguinte entrevista sobre a campanha do candidato Ciro Gomes:

Divulgação

Falta criatividade às campanhas para as eleições majoritárias de 2018?

Não há nada criativo. Do ponto de vista publicitário, estamos vivendo uma grande crise de criatividade. A última campanha criativa que tivemos no Brasil foi a de Lula em 2002. Isso impacta porque nós criativos sabemos como isso afeta um trabalho.

Como observa a campanha do candidato Ciro Gomes?

Ele tem um excelente discurso. Ele ataca pontos sensíveis da população. Agora, uma campanha presidencial é o homem e suas circunstâncias. Ciro conseguiu entrar dentro do espectro de esquerda do PT do Fernando Haddad. Isso significa que resta ver quais as possibilidades da esquerda vão conseguir grudar mais aos olhos do eleitor. Fazia tempo que Ciro não se colocava tão bem em uma campanha. Tenho que reconhecer isso.

O que falta a Ciro?

Ele tem um ótimo conteúdo, mas falta o ingrediente da emoção. O povo brasileiro é assim: gosta de conteúdos mais emotivos. Os filmes sumiram de todas as campanhas, não só a do Ciro. Eu carregaria mais na emoção.

Quais são os pontos sensíveis que a campanha de Ciro contempla?

Eu acho que uma campanha política precisa ter elo com a população. Precisa refletir o que o Brasil está vivendo. Com 14 milhões de desempregados e 66 milhões pessoas no Serasa, pouca gente está falando nesses que são os assuntos mais importantes. E quando tratam, o fazem de maneira leviana. Quem conseguir fazer essa conversa salutar talvez tenha uma boa chance. O Ciro tem tocado nesses pontos que considero como os mais sensíveis.

Ciro pode absorver o chamado voto útil?

É bom dizer que todo voto é útil. O eleitor pensa: eu tenho um problema em casa, a miséria está chegando, convivo com a insegurança pública, há falta de políticas públicas de saúde.

O que o eleitor quer?

Trocar seu voto por alguém que lhe prometa resolver essas questões.

 

Confira as matérias do Especial Marketing Político que foram publicadas:
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