Maurício Fidalgo/ Divulgação

Os indicadores de investimento em mídia comprovam há décadas a consolidação da TV como o meio que oferece maior penetração e alcance de audiência. Mas em tempos em que o consumo de vídeo está cada vez mais flexível e fragmentado, com a presença de novos atores, como serviços de streaming, há muitos questionamentos sobre uma possível perda de sua relevância. Como forma de trazer dados atualizados sobre o desempenho do meio e sua relação simbiótica com o digital no Brasil e em outros 18 mercados, o The Global TV Group, formado por emissoras e associações comerciais de TV na Europa, EUA, Canadá, Austrália e América Latina, acaba de apresentar ao mercado o estudo The Global TV Deck.

A pesquisa indica que os consumidores de conteúdo encontram na TV seu principal meio para vídeo. Não à toa, a média de tempo dedicado a visualização de televisão na Europa é de 4 horas e 7 minutos, um aumento de 39 minutos em relação a 1996. Nos Estados Unidos, a média é de 4 horas e 30 minutos, colocando abaixo o mito de que países de Primeiro Mundo e com maior acesso à internet tendem a consumir menos TV. Segundo Otavio Bocchino, diretor-geral do Centro Internacional da TV Aberta e presidente da Communication Intelligence, o uso da tecnologia na produção de conteúdo tem sido um dos principais fatores para a permanência da popularidade da TV. “A qualidade do conteúdo da televisão aberta melhorou muito nos últimos anos. Importante lembrar do enorme investimento que as emissoras mundo afora fizeram em TV digital e o impacto que teve não foi só em tecnologia, mas na qualidade de produção”. O executivo lembra ainda que a associação com o cinema, seus recursos e profissionais também tem se mostrado benéfica, dando à TV uma mudança na linguagem e formatos.

Conteúdo é rei
É o que pode ser visto em séries como Sob Pressão (2017), da TV Globo, em parceria com a Conspiração Filmes. O drama, que se passa em um hospital público, estreia nova temporada no segundo semestre deste ano e é inspirado no filme de mesmo nome exibido nos cinemas, em 2016. Como estratégia, a Globo disponibilizou os episódios com antecedência aos assinantes do Globo Play, seu serviço de streaming. Depois, veiculou em sua grade linear. Como resultado, teve crescimento de oito pontos na TV aberta no horário de sua exibição, atingindo 40 milhões de pessoas por episódio. “Independentemente da plataforma, o que as pessoas querem é uma boa história, que as divirta, as informe, as emocione. E isso pode ser comprovado pelos resultados que observamos nas diferentes estratégias de lançamentos de nossos produtos. 

A complementariedade das janelas de exibição já se comprovou com todo o alcance que uma obra lançada primeiro no ambiente digital, por exemplo, consegue também alavancar para sua exibição na TV. Por nossas últimas experiências, vimos um aumento expressivo de interesse e engajamento, como foi o caso de Carcereiros e Sob Pressão”, informou a emissora por meio de sua comunicação.

Dados do The Global TV Deck para o Brasil sobre consumo de TV indicam que a média diária saltou de 4h e 30 minutos em 2007 para 5 horas e 3 minutos em 2017, totalizando 4h e 39 minutos como média da década. Isso, num cenário em que o acesso à internet passou de 36,7% (2007) para 77,5% em 2017, ou seja, a complementariedade dos meios não tem influenciado de forma negativa. Para Renata Brandão, CEO da Conspiração, o entretenimento é um dos principais filões para o crescimento da TV. “O público quer ver conteúdo de qualidade – e fazer isso na plataforma mais acessível a ele. A Lei da TV Paga (Lei 12.485) foi importante nesse processo. Abriu um caminho para a produção independente, impulsionando um grande salto do audiovisual brasileiro em termos de qualidade de produção e de mão de obra. O entretenimento é o núcleo que mais cresce na produtora hoje”.