Como dizer adeus ao homem que você amou?. Essa era uma das chamadas que estampavam a revista Nova Cosmopolitan, do Grupo Abril, em 1973, lembrando que a Lei nº 6.515, conhecida como Lei do Divórcio, é de 1977. O que fazer com um homem sexualmente egoísta era uma preocupação de 1975, em plena ditadura militar, com poucas mulheres no mercado de trabalho.

Em 1979, um destaque que, no mínimo, quebraria a internet em tempos atuais: Aborto: os métodos, os perigos, as opções. Em 1995, Bissexualidade: será que somos mais versáteis do que imaginamos?. Falar sobre o que as mulheres precisavam saber, mas ainda não se sentiam confortáveis o bastante para conversar naturalmente, foi o que impulsionou a Nova a ser “a revista da mulher livre”.

Há 45 anos, a publicação se consagrou como uma fonte de informações sobre os assuntos que sempre foram latentes na sociedade, mas que poucos se atreveram a tocar. E ela fez história se rotulando como “divertida, ousada e feminina” e de um jeito leve, ainda hoje, informa para leitoras fiéis que o mundo está cheio de escolhas e cada um faz as que bem entender.

À frente da publicação, Cristina Naumovs conta que, logo que assumiu o comando da revista, recebeu um e-mail de uma leitora. Nele, ela afirmava ter se sentido à vontade para enviar uma mensagem porque Cristina “não parecia uma diretora de redação”. O estereótipo das chefes das revistas femininas talvez tenha criado um mundo distante entre as leitoras e as jornalistas por um certo tempo, mas o grupo no WhatsApp em que Cristina conversa diariamente com as leitoras parece ser a prova de que essa barreira foi quebrada.

“Hoje essa revista é a sua melhor amiga. Se você me perguntar por que eu gosto de trabalhar nesse lugar, é basicamente pelas leitoras. Fazemos a diferença na vida dessas meninas e é um jornalismo que ainda importa. São pequenas mudanças na vida das mulheres todos os dias”, comenta.

A Nova virou Cosmopolitan em 2015. Mesmo que já carregasse o título desde que chegou ao Brasil, ela passou a adotar o logotipo usado em todo o mundo. Ao ser questionada sobre o que efetivamente mudou, Cristina explica que as emblemáticas matérias que seguem o estilo “100 maneiras de enlouquecer um homem na cama” passaram a ser algo pessoal, de como a mulher pode ter prazer sexual e se satisfazer em todos os sentidos. “Não somos uma revista ‘você tem de’. A gente conta as possibilidades, mas você não tem de nada. Estamos aqui dando ferramentas e opções”, diz.

E não é fácil estar nesse ambiente bombardeado diariamente por inúmeras informações, movimentos e lideranças discutindo assuntos que envolvem o feminismo e seus desdobramentos. “O mundo não é para principiantes”, ela diz, e é por isso que a edição do mês de março, tão emblemático para as revistas, vai falar sobre um tema que a Cosmopolitan é popularmente conhecida como especialista: o sexo, e como ele se relaciona com o movimento feminino.

“Falar para não convertidos” é o que a revista faz, se referindo a mulheres reais, que até mesmo não entendem o que o feminismo significa. E isso é bem importante, explica Cristina, pois as mulheres têm o direito de escolher o seu jeito de viver. “O movimento [feminista] não pode oprimir ninguém e essa nova onda é recente, todos estão experimentando. Queremos que saibam quando existe uma relação abusiva porque ter consciência é o primeiro passo para você entender se quer mudar ou não sua situação”, explica.

Esse posicionamento auxilia também na construção dos projetos e no tão almejado relacionamento com as marcas. Afinal, as publicações impressas vivem um período de adaptação, em que a mulher da banca é diferente da mulher digital, mas todas procuram por um conteúdo relevante.

Um case recente exemplifica a atuação da redação em parceria com o ABC (Abril Branded Content). No mês de dezembro, Ludmilla foi capa da edição e mostrou o resultado da sua transição capilar pela primeira vez. A Cosmopolitan acompanhou durante 12 meses o processo de recuperação do cabelo crespo da cantora e registrou todas as etapas vividas por ela. Em parceria com a marca de cosméticos Salon Line, a publicação fechou um pacote com uma sobrecapa publicitária em que a celebridade contou sua experiência.

“Esse foi o nosso branded content, com dicas práticas, algo que fez total sentido para a nossa leitora. Quando as marcas dizem que estão sem verbas para os projetos, gostamos de dizer que elas, na verdade, têm dinheiro, só precisam decidir o que fazer com ele. A publicidade precisa ser verdadeira e, neste caso, mostrou que realmente Ludmilla passou por isso usando aquele produto. Foi um sucesso”.

Com leitoras tão engajadas, os anúncios tradicionais também ganham uma atenção especial. Caso o conteúdo seja ofensivo ou a marca esteja envolvida em alguma polêmica, não existe espaço publicitário para ela. “As conversas devem ser duras, mas esse cuidado é necessário. Demoramos 45 anos para construir uma reputação e não podemos colocar tudo a perder por falta de responsabilidade”.

Mesmo com o digital fortalecido, Cristina não acredita no fim do impresso. “O conteúdo precisa ser relevante e vai se aprimorar nos próximos cinco anos. O diálogo está cada vez mais honesto e as relações entre marcas e veículos já vêm com transparência. Vamos achar um caminho e, mesmo que ele mude, ainda vai ser impresso”, afirma.

Leia mais
Cartoon Network apresenta “Conto nem tão de fadas”
ESPN discute desafios da mulher dentro e fora do campo