“O impresso ainda é a galinha dos ovos de ouro, mas tem que viabilizar outros caminhos, pois essa galinha pode não mais botar os ovos de ouro”. A afirmação, dita por Yasmin Namini, consultora de mídia digital e ex-diretora do The New York Times, foi a de maior impacto durante o primeiro dia da edição deste ano do Inma, sigla em inglês para Associação Internacional de Mídia Jornalística, que acontece em São Paulo até esta terça-feira (10). 

Alê Oliveira

Para Yasmin, um dos caminhos a se seguir é pensar em outras formas de se comunicar. “Você, que é publisher, vai precisar de outras formas para apresentar o mesmo conteúdo”, disse. A especialista se referia às inúmeras formas que a tecnologia disponibiliza para a comunicação, como as redes sociais. 

Outro exemplo citado por ela foi o Whatsapp. “O aplicativo foi desenvolvido para acabar com o envio de mensagens pagas”, falou. “Hoje, o Whatsapp tem um milhão de usuários no mundo que pagam um dólar por ano”, completou. 

Os exemplos dados por Yasmin não ficaram pelo Whatsapp. Ela citou ainda veículos de comunicação que apostaram as fichas no meio digital. Dois desses canais são a CBS e a HBO, que lançaram recentemente uma versão digital. “Ou seja, todos precisam de receita no universo digital”, destacou. 

A publicidade também fez parte de sua apresentação ou mais precisamente o ad blocking. De acordo com a especialista, quase 200 mil pessoas estão usando o ad blocking. “O Washington Post já comunicou que vai lançar 100% de suas matérias no Facebook”, disse. 

Paradoxo
Chang-hee Park, COO do Joong Ang Ilbo, principal grupo de mídia da Coréia do Sul, fez sua apresentação baseada no que ele chamou de paradoxos. “A indústria dos jornais está vivendo um paradoxo”, afirmou. Segundo o executivo, os consumidores estão preferindo muito mais assistir vídeos a ler matérias. “Não dá mais para viver apenas com um jornalismo de qualidade”, disse. 

Park, então, finalizou sua palestra com uma prioridade. “Os leitores são os únicos que podem nos salvar da morte”, afirmou. “Não podemos, em hipótese alguma, colocar o digital na frente dele (do leitor)”, completou. 

Jornais
O encontro também reuniu nomes de alguns dos principais jornais do Brasil. Marta Gleich, editora-executiva do Zero Hora, disse que a melhor forma de combater a crise é investir no jornalismo. E é exatamente isso que o Zero Hora está fazendo. “Estamos, entre outras coisas, reforçando a nossa ligação com o leitor e apostando bastante na circulação”, falou. 

E os resultados, de acordo com ela, já estão sendo colhidos. “A circulação está segurando o nosso faturamento, uma vez que a nossa receita publicitária caiu um pouco”, disse. 

Além disso, ainda de acordo com a executiva, a publicação duplicou o número de matérias especiais e investigativas. “Também estamos apostando em vídeos, o que fez a nossa audiência aumentar dez vezes em relação ao ano passado”, revelou. 

Já Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha de S.Paulo, contou que a publicação vem apostando na relação com o leitor. “Resolvemos apostar em uma newsletter com dicas do editor de matérias que, muitas vezes, podem passar batida pelo leitor”, destacou. A cobrança de conteúdo digital, que foi implantada na Folha há três anos, também foi citada por Dávila. 

“Hoje, nós temos 140 mil assinantes digitais, o que representa 20% do mercado”, afirmou. 

Ascânio Seleme, diretor de redação de O Globo, falou sobre a estratégia do jornal. “Atualmente, nosso jornal é composto de 40% de hard news”, disse. Além disso, ainda segundo ele, O Globo publica, durante um mês, uma média de 3.600 matérias no impresso e 12 mil no online. 

Outro participante do debate, Ricardo Gandour, diretor de conteúdo d’O Estado de S. Paulo, falou sobre a importância do engajamento. “Ter acessos no digital é importante, mas é necessário engajamento”, disse.