Mídia social ou TV? Os dois são melhores do que apenas um? Como conectar esses meios? São perguntas que cabem quando se discute o futuro da mídia e a intensa busca por interação e engajamento. O assunto é o tema do “TV e Social Media Predictions”, realizado pela PS Carneiro Eventos e pela Editora Referência, que contou em seu primeiro dia, esta segunda-feira (7), com a análise de uma série de casos sobre o que se está fazendo no país para a promoção de diálogos entre os dois meios e o impacto no público.

“É um terreno em que ainda temos muito para explorar”, disse Kevin Zung, diretor de criação da Publicis Brasil, após apresentar uma campanha desenvolvida para o Caldo Líquido Maggi que começava na TV e continuava nas redes sociais, onde as pessoas escolhiam o final da filme. A ação teve como retorno 180 mil likes no Facebook.

Para reforçar o argumento, Zung listou dados como o uso das redes sociais por 86% dos usuários norte-americanos de internet para comentários sobre conteúdo televisivo, de acordo com pesquisa da Digital Clarity. E também que 45% dos donos de tablets navegam ao assistir TV pelo menos um dia, segundo a Nielsen dos Estados Unidos. “É uma interatividade na minha mão e pode significar mais conteúdo sobre o assunto em exibição na TV”, afirmou, citando o Shazam, aplicativo que reconhece e descobre informações sobre música que o proprietário de smartphones escuta no rádio, TV, filme ou mesmo na rua.

Para ele, o mercado precisar ficar atento para as possibilidades que se abrem neste momento em que a segunda tela começa a ganhar força. “Não adianta dar uma segunda tela para o consumidor e não oferecer nada”. Para ilustrar, Zung lembrou de uma ação da Honda em o usuário de iPhone poderia pegar personagens do filme da marca. Após baixar um aplicativo, o consumidor, quando visse o comercial na TV, colocava o seu aparelho em frente à tela, movimentava-o e, na sequência, um personagem, com o qual se podia interagir, surgia.

Os cases também dominaram a apresentação de Bruno Tozzini, diretor de criação da DM9DDB. O publicitário relembrou ações como o do iConta, a conta digital do Itaú, com o humorista e apresentador Marco Luque, que gerou mais de 18 milhões de views na página do banco no YouTube; e ainda a experiência cerebral com o rapper Emicida envolvendo Twitter e Facebook em estratégia para a Intel.

Tozzini finalizou a apresentação traçando cenários – ou exercitando a futurologia. Seundo ele, o jornalismo será mais forte e em tempo real; haverá o fim das grades de programação, com o domínio da TV on demand; o conteúdo fará a função da propaganda; pequenos produtores disputarão mercado com os grandes; e ainda surgirão os “nômades digitais” (de acordo com a rede do momento); haverá menos sites e mais aplicativos; a consolidação do mobile; e a mídia independente terá peso semelhante à grande mídia.

Para chegar ao quadro acima, de acordo com o profissional, questões como infraestrutura, velocidade, preço alto e a criação de comunicação que “ensine ao vender, que solucione problemas” precisam ser resolvidos. “Precisa-se investir mais em produção. Ter mais qualidade na entrega”, completou.

Foco nas pessoas

“Esquece a tecnologia, vamos olhar o ser humano”, disse Ricardo Esturaro, diretor de planejamento de marketing da TV Globo. Segundo ele, muitos profetas já prometeram a chegada do “novo mundo” e que a interatividade viria pelo controle remoto, por exemplo, nas décadas finais do século XX. Para ele, enquanto a tecnologia domina a pauta, a realidade, demonstrada por pesquisa, é que 30% do tráfego da internet nos Estados Unidos é em sites de pornografia, cujo tempo médio é de 15 a 20 minutos. Em sites de notícias, entre três e seis minutos.

Para o profissional, há um bombardeamento do conceito de socialização, que como consequência cria uma “ansiedade muito grande para relações que não são tão fortes”. Segundo teoria citada por Esturaro, em um conjunto de mil “amigos”, são apenas seis com os quais o usuários desfruta de intimidade; com 50 os laços são fortes; e o restantes, fracos. Além disso, há ponto comum nas discussões que é a “criação” de identidade para o universo online.

É preciso ainda olhar para o Brasil real, onde a leitura representa um grande entrave, argumenta o global. Segundo dados exibidos pelo diretor, 47% dos brasileiros leem somente o básico, 21% são analfabetos rudimentares, 7% analfabetos e apenas  25% são alfabetizados plenos. “É difícil imaginar redes sociais como mídia de massa no curto prazo. Não estou dizendo que não irá acontecer”.

Do outro lado, aponta ele, um cenário altamente positivo para a TV, cuja penetração está em quase 100% dos lares brasileiros. As novelas da Globo têm alcance de 158 milhões de pessoas no intervalo de um mês, por exemplo. Além disso, a emissora carioca consegue uma abrangência de faixas atárias acima dos 80%.

O canal, porém, se movimenta para ampliar o diálogo com os meios sociais. Entre eles, estão perfis e blogs lúdicos de personagens, fanpage de programa, enquetes, bastidores, cenário 360º, webséries, como em “O Astro”, e aplicativos. “A experiência de oferecer mais informações deve começar em eventos específicos para, depois, chegar ao todo. Estamos em processo de experimentação”, completou.