Renata Boldrini é um exemplo clássico de jornalista que se transformou em marca e em plataforma de conteúdo sobre cinema, depois de mais de 20 anos de carreira apresentando programas especializados no tema. Influenciadora bem antes de inventarem o termo, Renata alcança mais de 3,5 milhões de pessoas com seus projetos na TV (canal Telecine), no Rádio (Rádio Globo), na internet (Facebook, Instagram e YouTube) e nos cinemas (Flix Media). Seu recém-lançado canal Que Tal Um Cineminha? já acumula mais de 38 mil seguidores. Nesta entrevista, ela fala da vida em múltiplas telas e de como o digital continua mexendo com a indústria do cinema e do jornalismo. 

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Audiência e Experiência

O cinema tem mudado muito ao longo dessa última década. Essas novas mídias, novos formatos e novas formas de se consumir o audiovisual fizeram a indústria do cinema se sacudir também. O cinema, cada vez mais, vem investindo na experiência da sala. Na sensação única de estar ali para ver seu filme na melhor tela, com o melhor som, com a melhor pipoca. São investimentos altíssimos. É preciso convencer  as pessoas a saírem de casa para um programa que não é barato. E esse custo alto precisa ser pago. E quem paga essa conta? O blockbuster, as superproduções. Nunca se viu tanta superprodução, tanta sequência, tanta franquia, tanto filme de herói sendo lançado. Os cinemas de bairro, de rua, foram fechando. Quem não acompanhou esse movimento da audiência, não teve final feliz.

 Digital e mudanças

Não tive como fugir: o mundo digital é uma avalanche e é impossível não ser engolido por ela. Eu abri meus canais a pedido dos fãs do meu trabalho. Recebia mensagens diariamente me cobrando um canal para falar mais diretamente com eles. Abri e, apesar de quase enlouquecer com a demanda de conteúdo, estou muito feliz porque é uma forma completamente diferente de se conectar com minha audiência, de trocar informações, de expor as ideias. E agora esses públicos (na web e da TV) se cruzam e sabem que estou por aí a qualquer hora, na TV, na web, na rádio, dentro da sala de cinema. E o que é mais legal: vou formando um público novo também, uma garotada que nunca me viu na TV agora me conhece dessas outras mídias. Isso é demais! 

Profissional 360º

Costumo brincar que eu sou a Renata 360, porque estou praticamente em todo tipo de mídia. Tenho programa semanal no Telecine (que vai também para o YouTube do canal), sou a embaixadora de conteúdo da Ingresso.com e, para as plataformas deles, apresento toda semana dois conteúdos em vídeo com dicas, coberturas e entrevistas. Sou a colunista de cinema da Rádio Globo, com boletins diários em rede nacional e toda quinta entro ao vivo no ar, com o Otaviano Costa. Meus conteúdos também são exibidos diariamente no Flix Channel, dentro das salas dos maiores complexos de cinema do país como Cinemark, UCI, Kinoplex, Cinépolis, Cinesystem e Centerplex. Ainda sou a curadora de conteúdo de cinema do Canal Like (novo canal de NET) e lá passam meus vídeos também. Um conteúdo meu, quando distribuo para todos esses meus parceiros, ultrapassa o alcance de mais de 3,5 milhões de pessoas. E o mais bacana é que são mídias muito direcionadas a moviegoers, ou seja, eu falo diretamente com quem tem grande chance de ir lá conferir a minha dica.

Credibilidade e liberdade

Tudo tem a ver com a credibilidade. Eu levo muito a sério tudo o que eu faço, sempre tive um posicionamento editorial, ou seja, decido minhas pautas, falo do que gosto, e nunca quis me colocar como crítica de cinema. Isso me dá uma liberdade muito grande de decidir sobre que temas quero ou não falar. Tenho um relacionamento muito próximo com as empresas da indústria, e eles sabem e respeitam a forma como me posiciono. Meu discurso é sempre para o lado positivo. Se não curto um filme, me reservo o direito de não falar.

Mulher e mercado

O mercado está mudando e estamos aos poucos conquistando novos espaços. Ainda é muito pouco, mas já é um começo. Hoje, apenas 11% dos filmes são dirigidos por mulheres. Não é nada. Mas estamos caminhando. Já temos mulheres presidindo júri de grandes festivais, dirigindo filme de herói, conquistando equivalência de salário na meca do cinema.

Conteúdo

É um trabalho diário que demanda muito tempo e dedicação. Hoje tenho quem me ajude com os conteúdos que vão além dos meus vídeos. Produzimos isso através da minha empresa, a Contente Entretenimento. Fazemos também campanhas de conteúdos customizados para o lançamento de filmes em parceria com distribuidoras. É uma delícia desenvolver esses projetos para ajudar a divulgar os filmes.

Jornalismo e marcas

Não vejo problema, desde que esteja bem claro que trata-se de uma publicidade e que você, de fato, concorda com o que está ‘vendendo’ e acredita mesmo no produto. Afinal, você está vendendo sua credibilidade para aquela marca.

Influenciadores e ética

Desde que fique bem claro que trata-se de uma publicidade e o conteúdo seja autoral, natural, não vejo problema. No meu caso especificamente, influencio pessoas muito antes de criarem este título e de virar uma profissão. Falo de cinema, dou dicas, tenho fãs e seguidores que são influenciados pelo que falo e indico há muitos anos. Então para mim, isso não mudou. É só uma nomenclatura nova que tomou força de uns anos para cá. 

Futuro  e reinvenção

Muitos jornalistas estão se reinventando. A crise, as demissões, as novas mídias, tudo isso no final das contas apresentou involuntariamente novos caminhos que acabaram se mostrando de sucesso para muitos deles. Aqueles que se atualizam enquanto é tempo vão permanecer.

Oscar e o tempo

No universo do cinema, premiações como o Oscar não estão desatualizadas. Ainda é muito importante para qualquer profissional do cinema estar e, principalmente, ser premiado nesses eventos. A festa em si, do Oscar especificamente, de fato está envelhecida e há um esforço da própria Academia de Artes e Ciências de Hollywood em tentar reverter isso com medidas que começaram a ser tomadas esse ano, para valer para o ano que vem. Eles estão estudando formas de atrair um público mais jovem e recuperar a audiência. Cannes continua firme e forte sendo o festival de cinema mais importante e representativo do mundo.

Quadrinhos e super-heróis

Na Comic Con, cobri especificamente pautas de cinema, mas chegando lá é impossível não se impactar com tudo que está ao redor, os games e quadrinhos, por exemplo, e no final das contas está tudo cada vez mais entrelaçado. Heróis das HQ’s estão aparecendo o tempo todo nas telonas e são os maiores sucessos, as maiores bilheterias. Games é mesma situação, muitos blockbusters saíram dos jogos eletrônicos, como Lara Croft e outros. É uma indústria poderosíssima, tão grandiosa quanto o cinema e tudo está cruzado: filmes, games e quadrinhos. E a cada nova tela, nova plataforma, mais infinitas passam ser as possibilidades nesses setores.

Empurrãozinho do avô 

Minha relação com cinema vem desde sempre. Meu avô era dono de cinemas em Santo Ângelo, interior do Rio Grande do Sul. Mas nunca imaginei que um dia faria do cinema minha profissão. Acabei entrando por acaso (ou por uma mãozinha lá de cima do avô) quando, ainda na faculdade, vi um cartaz no painel de estágios chamando para teste para apresentador na Globosat. O teste era para homem, mas, mesmo assim, resolvi mandar minha fita (fui a única menina a mandar). Passados alguns meses me ligaram do Telecine para fazer o teste, uma vez que o dos homens não tinha rendido. Fiz e passei. Minha mãe diz até hoje que tem dedo do meu avô nisso!