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Talvez pouca gente saiba que existem 28 monarquias no mundo. Mesmo assim, a britânica mantém a sua marca global como a mais forte de todas, não só por ser a mais poderosa, mas certamente porque conseguiu se renovar ao longo dos anos.  .

Sim, o mundo ainda se importa. E muito. De tempos em tempos, a realeza britânica renova seus votos junto ao povo britânico (e o mundo), demonstrando  frescor, resgatando o lado alegre e romântico que pode existir em meio a tanta tradição e riqueza. O casamento de Charles e Diana – apesar de ter se revelado uma farsa, pelo menos do ponto de vista romântico –  vinha para resgatar a imagem desta velha monarquia, tirando o mofo faz tempo instalado. Mesmo depois da separação, Diana seguiu incorporando os valores desta nova monarquia, tratada como  a “Princesa do Povo”, como celebridade, preocupada com as questões sociais, promovendo eventos de caridade.

Depois, os filhos de Charles e Diana passaram a representar, mais uma vez, a renovação e a força da casa real. Prova disso é que o casamento do príncipe William e de Kate Middleton, em 2011, foi assistido por quase 2 bilhões de pessoas – 23 milhões só nos EUA.

No próximo sábado (19), o novo fenômeno de audiência deve ocorrer com o casamento do príncipe Harry com a atriz Meghan Markle, que já vem sendo tema de reportagens por dezenas de revistas, sites e emissoras e que no Brasil será transmitido ao vivo pela Globo e pela Record, além de Globonews, Bandnews e GNT. Desta vez, a coisa toda parece ainda mais interessante: Meghan é  de origem negra, feminista e divorciada. É o conto de fadas acontecendo diante dos nossos olhos.  E trata-se da primeira noiva real americana desde Grace Kelly em 1956 e Rita Hayworth em 1929 (esta última casou com o príncipe Aly Khan), o que amplia ainda mais o interesse dos americanos em torno do assunto.

Estima-se que o furor pode ser menor do que o provocado pelo casamento entre William e Kate, por uma razão muito simples: Harry é mais discreto que o irmão e dificilmente se tornará rei. Ele é o sexto na linhagem do trono. Talvez por isso, sábado não será feriado nacional no Reino Unido como foi a data do casamento de seu irmão.  Ainda assim, a família real britânica hoje é pop nos EUA, e um bom exemplo é que uma das séries de maior sucesso da Netflix é The Crown, que conta a história da rainha Elizabeth II.

Ventos de inclusão, de tolerância e até de falabilidade (incorporada pelo imperfeito casal Charles e Camilla Bowles), trouxeram, de fato, sangue novo para a realeza, e na visão de alguns especialistas, com potencial para espalhar novos valores junto ao povo britânico. 

O mercado editorial como um todo comemora as possibilidades de exploração do tema, e o bem-vindo retorno da publicidade, que certamente deve incrementar os investimentos em 2018 tanto no mercado inglês quanto no americano. Nos EUA, qualquer matéria que inclua Meghan Markle aumenta o interesse das pessoas e eleva a audiência – de blogs, sites, programas. A editora de moda do NYT descreveu a noiva como “a maior influenciadora de todos os tempos”. Tamanha visibilidade a levaram a encerrar, às vésperas do casamento, suas contas pessoais nas redes sociais, dedicadas a moda e estilo de vida. 

“É como se Meghan tivesse sido fabricada para captar a máxima fascinação do público americano”, analisou Josh Duboff, que assinou matéria na edição de maio da revista Vanity Fair intitulada “Como ser uma princessa na era do Instagram”.

Pode-se comparar a transmissão ao vivo do casamento ao de um grande evento esportivo, com as emissoras vendendo breaks por algo em torno de US$ 2 milhões e US$ 3 milhões, incrementando seus valores comerciais em algo como 25%, pelo menos. NBC, CBS, CNN e outras redes americanas estão enviando grandes equipes para a Inglaterra, e prometem coberturas detalhadas. 

Direto de Londres, Washington Olivetto diz que a família real é a revista Caras do planeta, e diz que cada casamento movimenta intensamente a economia inglesa – da venda de penduricalhos em cada esquina aos direitos de transmissão televisivos. O casamento real de William e Kate, por exemplo, injetou cerca de US$ 3 bilhões na economia britânica, um volume superior ao gerado pelas Olimpíadas de Londres. 

“Uma caracteristica dos londrinos: ricos ou pobres, todos estão com a familia real porque sabem que ela á boa pro negócio”, comenta Olivetto.

Flávio Cordeiro, sócio e diretor de estratégia da Binder, comenta que o casamento real, com toda a sua riqueza simbólica, abre as comportas de uma gigantesca energia coletiva porque, desde tempos remotos, reis e rainhas, duques e duquesas e o casamento do nobre com a plebéia fazem parte de nosso arsenal arquetípico primordial. Cordeiro, que também é psicólogo, é especialista na relação arquetípica entre pessoas e marcas, e hoje atua também como consultor na Brand Community.

“Em pleno século XXI, na sociedade da informação, das redes sociais e da ciência e dois séculos após a decapitação de Luis XVI, ainda nos derramamos frente ao casamento de um príncipe. Como diz Sallie Nichols, ao analisar a recorrência dos arquétipos nas cartas de Tarot, ‘Povoamos o mundo exterior de feiticeiras e princesas, diabos e heróis do drama sepultado em nossas profundezas.'”, conclui Cordeiro.