Divulgação

Com mais de 110 milhões pessoas negras, o Brasil ainda enfrenta problemas para contratar profissionais de pele escura. A discussão sobre o tema ganhou os holofotes nos últimos anos, tanto que foi realizada na última quinta-feira (8) a 4ª edição do Fórum Sim à Igualdade Racial.

Um dos painéis trouxe profissionais de grandes empresas discutindo iniciativas para combater o racismo. Daniela Falcão, diretora geral da Edições Globo Condé Nast, esteve presente e foi questionada se a empresa começou o trabalho inclusivo só depois do episódio Donata Meirelles. “A gente já vinha fazendo um trabalho em prol da diversidade muito antes. Não estou aqui por conta das respostas que a gente teve que dar por conta da Donata. Começamos por um desejo e uma necessidade dos funcionários”, explica.

“Passei uma semana infernal tentando controlar uma crise de imagem, mas na segunda-feira depois a gente já estava sentado com várias lideranças e pessoas que se voluntariaram pra gente achar um caminho de como conseguir dar mais pressa a todas as ações que já existiam”, revela Daniela.

Para Hamilton Amadeo, CEO da Aegea, empresa de saneamento que tem o programa “Respeito dá o Tom”, o segredo foi se reconhecer como racista, assumir a desigualdade do país para daí mudar. Sua empresa necessitava estar dentro da sociedade. “Minha companhia precisa espelhar o perfil de recorte social. Nosso produto, a água, está no sangue das pessoas. Se não se inserir na sociedade, não vai ter sucesso, não vai sobreviver”, explica. “Nosso recorte de alta gestão já não é tão ruim, mas está longe do ideal, beira os 20%”, diz.

O programa da Aegea foi lançado há dois anos. “A meta de verdade é que a companhia, num menor tempo possível, respeite o recorte social em todos os níveis hierárquicos. Se eu tenho 50 gerentes, quero ter 27 a 28 negros ou pardos”, explica o executivo fazendo uma referência à população negra e parda do país (54%, segundo o IBGE).

Luana Génot, fundadora e diretora executiva do ID_BR e idealizadora do Fórum, mediou o bate-papo e também levantou pontos importantes. A contratação dos negros, segundo a profissional, “não é um favor”. Segundo Luana, é preciso ter o entendimento de que a reparação histórica no país ela é necessária. “Pelo amor ou pela dor. […] Entre as 500 maiores empresas do Brasil, temos menos de 5% de representação negra entre os cargos de liderança e menos de 1% é ocupado por mulheres negras como eu”, alerta.

Para Eduardo Santos, general manager da EF Education First, a mudança vem pela sabedoria. “Minha raça e as pessoas da minha cor de pele precisam de liberdade para atuar no ambiente de trabalho e, pra mim, essa liberdade vem por meio da educação. Meu engajamento maior tem sido colocar nossos serviços e produtos à disposição pra que a nossa raça tenha a efetiva liberdade aprendendo um segundo idioma”, comenta.

“No nosso país, infelizmente esse tal de inglês ainda não é muito bem falado. se a gente quer efetivamente transformar nosso mercado colocando negros em posição de liderança, esse skill é fundamental para o sucesso”, finaliza.