No último dia 10, Ratinho fazia um pedido ao vivo em seu programa: estar no SBT por mais 30 anos. O apresentador celebra neste mês duas décadas na emissora do patrão Silvio Santos, um período marcado por transformações de linguagem e formato. Aos poucos, saíram de cena o sensacionalismo, palavrões e brigas no palco em favor de mais alegria e irreverência. As mudanças abriram caminho para novos públicos, sobretudo mulheres e crianças que já acompanhavam a programação mais família da emissora. Consequentemente, vieram também os anunciantes. Não à toa, os espaços para merchandising já estão vendidos até fevereiro de 2019. A seguir, Carlos Massa comenta essas mudanças e avalia o mercado de comunicação, o qual faz parte à frente da Rede Massa, no Paraná. A empresa faz 10 anos em 2018.

Divulgação/Lourival Ribeiro/SBT

Mudança
O SBT se transformou em uma televisão de família e seu público começou a mudar. A audiência passou a consumir novela infantil no horário nobre. Logo percebi que não poderia mais começar o programa falando palavrão como a gente fazia antigamente. Eu me adaptei bem. Aprendi que eu faço melhor o programa dando risada do que sério. Essa mudança foi fácil.

Aprendizados
Aprendi que a gente não precisa falar palavrão para ter audiência, que o sensacionalismo já está na internet. Os absurdos e as curiosidades já estão lá. Não vou concorrer com isso. Eu prefiro fazer o inédito, algo autêntico que só eu posso entregar e as pessoas não veem normalmente. A única coisa que me preocupa hoje é não falar palavrão que criança entenda, nem piada suja. Eu já aprendi e não tenho feito mais. Havia uma série de coisas que precisava aprender.

Narrativa
Foi fácil essa mudança de linguagem porque desde o começo eu acompanhei de perto tudo isso. Não sou o tipo de camarada que só sabe fazer programa de um jeito. Consigo em um mesmo programa trabalhar a emoção, falar sério e fazer piada. Esse formato de a cada dia ter um tipo de atração ajuda muito também, porque a pessoa não enjoa. Na segunda-feira são os calouros, na terça brinco com auditório, na quarta faço o teste de DNA e o boteco, na quinta-feira tem o Jornal Rational e na sexta-feira faço o Cortina Premiada.

Negócios
Essa configuração de quadros também ajuda a formatar os anunciantes. Eu sempre sinalizo que determinado tipo de marca se encaixa melhor no dia x ou y.

Merchandising
Todas as empresas interessadas em anunciar, eu vou atrás. Converso, entendo bem a proposta da mensagem para saber como me comunicar. Vou atrás depois também para saber se eu não estou errando e se posso melhorar. Isso tem dado certo. Faço merchandising já há muito tempo, desde meu começo na TV, lá nos anos 1990. Você acaba pegando o jeito. Dou ênfase em certos atributos, mas primeiro eu tenho de acreditar no produto para depois conseguir fazer o público acreditar. É aí que eu consigo vender melhor. Estamos com os espaços vendidos no SBT até fevereiro do ano que vem.

Audiência
Antes, meu público era na maioria masculino e acima de 25 anos. Hoje continua com esse perfil, mas consegui agregar as mulheres, em especial na quarta-feira, além de adolescentes e crianças por causa das novelas. É muito gostoso lidar com esses novos públicos. Sair de um programa que dava briga para cacete, com muito palavrão, para mudar aos poucos foi o caminho. Assim, não perdi o público antigo e ainda ganhei um outro perfil de audiência. Hoje a molecada me ama.

Rede Massa
Esse lado empresário não é tão significativo quanto o de apresentador. Quem toca minhas empresas são meus filhos e o restante da diretoria, então não dou muito pitaco. Mas eu tenho muito interesse em rádio. Isso sim penso em expandir. E como não consigo ter uma rede de televisão de amplitude nacional, mesmo porque não tenho nem tempo para isso, gostaria de criar uma rede nacional de rádio. Esse é meu sonho. Falar para o Brasil inteiro através do rádio.

Paixão antiga
Uma vez perguntaram ao Bill Gates se o rádio iria acabar, e ele respondeu que quando a internet for acabar, será o rádio que vai anunciar. Mas para isso ele tem de ser um companheiro para o ouvinte, senão, não sobrevive. Rádio toca música, informa, conversa, faz fofoca. Precisa ser vivo. A hora que aparecer uma rádio dentro de um bom preço eu compro. A rádio Estadão, por enquanto, está muito cara. Mas é a emissora mais completa em documentação. Se você souber tocar, o rádio é um grande investimento. É um negócio barato, diferentemente da televisão.

Plataformas
O jornalismo impresso como é feito hoje está indo bem. Não acredito naquele modelo arrastado que acaba perdendo público. Hoje as pessoas leem mais trechos curtos do que textos inteiros. Você pega a revista Veja, por exemplo, e a coluna mais lida é a Radar porque as notícias são mais curtas. A TV também só tem a crescer. Ela vai ser ainda mais popular.

Divulgação/Lourival Ribeiro/SBT

Concorrência
Eu acho que o YouTube vai continuar sendo forte, mas o espaço da TV já está conquistado. Ela sempre vai ser a companheira da sala, do quarto e do trânsito. O rádio segue a mesma lógica. Se você avaliar os dados, o rádio FM não tem queda de audiência porque ele se reinventa naturalmente.

Dentro de casa
Na Rede Massa nós temos 28 emissoras de rádio. Nossa forma de atuação é a seguinte: nós tocamos duas músicas atuais e uma mais antiga. Entre elas inserimos o Sertanejo Universitário. Nós fazemos também muita fofoca de artista sempre com dois locutores conversando e comentando notícias de celebridades. Essa é uma fórmula que tem dado certo. E acho que se eu replicar esse modelo nacionalmente daria certo. Intercalando notícia com entretenimento e não aquele padrão que toda rádio de notícia tem. A melhor opção é conversar com o ouvinte, torná-lo um companheiro.

Desafios
Somos afiliadas do SBT no Paraná. Temos cinco emissoras na região. Recebemos do SBT 16 horas de programação e nós completamos as outras oito com conteúdo local. Nesse período, se você não souber fazer você perde dinheiro. Como são cinco emissoras, cada uma tem seus devidos programas. A Tribuna, um programa policial, não é o mesmo em Curitiba e Londrina. São outros apresentadores, comerciais e abordagens. Não é o mesmo do apresentado em Foz do Iguaçu. A ideia é trazer um caráter regional que dá audiência, que se converte em termos de faturamento.

Comercial
O mercado regional é como outro qualquer, mas tem seu limite de investimento. O valor é proporcional, claro. Uma rede de óticas, por exemplo, tem comunicação dirigida apenas para aquela região. Mas quando a gente vê que há uma empresa com potencial nacional, a gente traz para o SBT também.

Reinvenção
Experimentei ser ator e circular por outros programas, mas cheguei à conclusão que quero ser apenas apresentador do meu programa. E já é muita coisa.

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