Apontado como uma das grandes contratações da Rede Record em 2016, o humorista e apresentador Fábio Porchat não deixou a peteca cair e trabalha muito para que seu talk show continue sendo uma das grandes sensações do início das madrugadas. Porchat, que comemora agora em agosto um ano na TV aberta, comenta sobre as dificuldades e os desafios de realizar um programa diário, a nova onda de talk shows na televisão, os influenciadores e o humor na publicidade. Confira a seguir os principais trechos desta entrevista concedida ao PROPMARK.

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Você transita por diversas áreas, mas prefere trabalhar como ator, redator ou apresentador?

Gosto mais de escrever, pois é onde tudo começa. Seja como ator, fazendo uma peça, apresentando um programa de televisão, que supostamente as pessoas acham que não tem texto, é da cabeça do redator que saem as ideias. Temos grandes profissionais, mas o Brasil ainda é carente de bons redatores, principalmente na comédia. É o lugar que mais gosto, pois a ideia vem quando a colocamos no papel.

Na internet, você tinha mais liberdade para criar do que na TV aberta?

Com certeza. Mas também há coisas que faço na TV aberta que não posso fazer na internet, como, por exemplo, mostrar mulher pelada. Se coloco isso na internet cortam o meu vídeo na hora. Então, há limitações em todos os lugares. Cada plataforma tem uma linha. Mas aí você me pergunta por que na internet posso fazer mais coisas? Pois lá sou dono do meu canal. Aqui não, sou contratado de uma emissora.

Na sua ida para a Record ficou em algum momento com medo de algo não dar certo?

Totalmente. Tenho medo até hoje de as coisas não darem certo. De as pessoas não gostarem de mim, de fazer a coisa errada, da audiência, do público e até mesmo da Record, comercialmente falando. Então, ainda estou aprendendo e descobrindo este novo momento. Quando olho o programa que gravamos em outubro já percebo melhoras. Estou entrevistando com mais calma e tranquilidade, deixo o entrevistado mais confortável. Acho também que estou mais curioso e seguindo menos as perguntas do script e indo no que a entrevista vai me dando.

O Programa do Porchat acaba de completar um ano no ar. Quais foram as principais dificuldades de realizar um programa diário até aqui?

Foram muitas. É você trabalhar sem parar. Você precisa pensar em tudo o que está ocorrendo o tempo todo. Com a febre de talk shows, precisamos tentar adiantar outros programas, pois a concorrência em torno do entrevistado também ficou grande. O programa estreou direito, em um trilho certo, com o público e a crítica falando bem. Claro, há muitos ajustes para realizar, mas é muito melhor fazê-los já no caminho certo, em vez de ter de começar tudo do zero. É um programa diário e isso é ótimo, pois se comete um erro hoje, você consegue mudar no dia seguinte.

Nos últimos meses, houve a estreia de diversos talk shows. Como você avalia este momento?

Tirando Danilo Gentili, que já faz isso há uns sete anos, o negócio é novo para todo mundo. Pedro Bial, por exemplo, é jornalista, mas nunca teve um talk show. Tatá Werneck nunca fez isso, eu também não. Todos estão meio que se descobrindo e tentando entender para que lado vão.

Você acredita que a busca pela audiência derruba o nível dos programas? Você se preocupa com ela?

Acredito que a busca pela audiência é um terror e, com certeza, eu me preocupo muito com a minha audiência. É importante você entender o que o público está gostando ou não de ver, mas acredito que, muitas vezes, temos de insistir em coisas que não estão dando audiência. Por exemplo, quando você está no trânsito e acontece um acidente, as pessoas param para ver o que ocorreu e isso dá audiência, mas nem por isso vamos fazer um canal só com acidentes. Claro que, muitas vezes, trazemos convidados mais polêmicos para ter uma audiência maior. Mas não podemos fazer conteúdo apenas guiados pela audiência. Pode parecer bom a curto prazo, mas a longo prazo é péssimo. As pessoas reclamam e você não consegue colher os frutos disso.

Vocês estão sempre buscando coisas novas, criando esquetes, provas e, agora, realizando entrevistas com o público nas ruas. Essa interação é importante?

É muito importante. Com quadros e brincadeiras, a entrevista se torna mais leve e você consegue quebrar um pouco a dinâmica do programa. É um respiro e um alívio para o público, que quer ver a entrevista, mas também quer ter uma nuance ali. Por isso, fomos para as ruas entrevistar anônimos e queremos ter pelo menos um entrevistado anônimo por programa para se juntar ao hall de celebridades e artistas de um modo geral. É mais uma forma de fazer o programa circular e respirar.

O fato de a Record ter deixado de exibir seu sinal digital em algumas operadoras de TV paga prejudicou o programa?

Sim, mas não só o meu. Prejudicou a audiência de todos os programas da Record, do SBT e da RedeTV!. Mas é uma luta deles, de algo que eles acreditam e acham justo. Afinal, se a Globo e a Band recebem remunerações, por que as outras emissoras não? Na minha opinião, elas podem ganhar também. Mas vale lembrar que não é no Brasil inteiro, são só algumas praças e, mesmo em São Paulo, ainda há o canal em antena digital e algumas operadoras. É menos grave do que parece. Vamos torcer para que eles resolvam logo a situação e o programa volte a passar em todos os lugares.

Você realiza uma série de campanhas publicitárias. Por que acha que é tão solicitado pelo mercado?
Não sei, mas fico feliz. Acho que consigo ser do jeito que sou, fazer o tipo de humor que gosto, falar as coisas que quero e, mesmo assim, as empresas ainda querem ouvir o que tenho para dizer. Acho que o público percebe isso também e acredito que isso faz com que as empresas gostem. Não sou polêmico, não crio confusões, não faço coisas que gerem questões. Não estou nos noticiários. Geralmente as minhas notícias trazem coisas supernormais, como “Fábio Porchat vai casar”. Como se isso fosse algo muito diferente (risos). Atualmente estou nas campanhas de Sky e iFood.

Como vocês escolhem o merchandising do seu programa?

Ouvimos todas as propostas e depois entendemos se elas têm a ver com o programa ou não. Tudo que fluir com o nosso conteúdo é viável para nós. Participo das ações, sugiro coisas e dou minha opinião nos roteiros também. Já tivemos ações no programa com as marcas M&M’s, Doritos, Halls e Coca-Cola, por exemplo, que são produtos que realmente consumo, além de serem anunciantes legais com os quais gosto de estar envolvido.

Qual a importância do humor para a publicidade?

É sempre melhor pessoas de bom humor do que pessoas de mau humor. E quando você consegue associar a sua marca ao sorriso, consegue unir duas coisas: a força do seu produto com a disponibilidade da pessoa que já está feliz em ver a sua marca. No humor, tudo pode. A gente suaviza tudo, podemos falar qualquer coisa. Podemos falar tudo com humor, pois estou brincando. O humor salva.

Na onda do politicamente correto, você pensa mais na hora de escrever?

Com certeza. E acho muito bom, pois as piadas melhoraram. É na dificuldade que você consegue criar as melhores piadas, pois foge do lugar comum. A gente vem de uma escola de piadas preconceituosas, que ofendiam, mas todo mundo ria. Menos, claro, as pessoas que sofriam, mas que não tinham voz e ficavam caladas. Quando me perguntam, qual o limite do humor? Sempre devolvo com outra pergunta, qual o limite do diálogo? Qual o limite do discurso? Ele não existe. Você pode falar e criticar de tudo, menos incitar o ódio e a violência.

O que muda no Porta dos Fundos com a marca sendo adiquirida pela Viacom?

Um monte de coisa boa. Nós agora teremos mais dinheiro para produção, para contratar pessoas e para ampliar a empresa. Apesar de o Porta dos Fundos ter mais de 3 bilhões de visualizações, éramos uma empresa pequena de internet e hoje somos uma empresa do mundo. Agora, ao escrever uma série, tenho de pensar se ela pode ser vendida para a China, a Rússia, os Estados Unidos… então, isso abrirá os nossos horizontes. Vamos internacionalizar nossas esquetes e pretendemos gravar em outros idiomas até as histórias que já temos no canal. Temos mais de 600 esquetes e umas 400 delas podem ser consideradas universais.

Você, que ganhou grande repercussão na internet, como avalia essa onda de influenciadores?

É muito curioso, pois na mesma velocidade que eles aparecem, eles desaparecem. É interessante prestar atenção nisso. Percebo que muitos deles fizeram sucesso e não sabem o porquê. E, muitas vezes, não sabem o que estão falando e o que querem, só sabem que estão no meio do furacão e está funcionando. Isso é muito perigoso. As marcas também já sacaram um pouco isso. Elas entenderam que precisam escolher e entender melhor quem mais influencia aquele público e de que jeito. E não digo isso para diminuir ninguém, pois tem gente muito legal ali, como o Felipe Castanhari, por exemplo. Gostaria que surgisse mais gente que soubesse o que está falando, para onde querem ir e por que chegaram até aqui.

Quais são os próximos passos do Porchat?

Estou focado no programa, que segue firme e forte, e toma muito do meu tempo. Adoraria entrevistar, por exemplo, Silvio Santos, Jô Soares e Faustão. Fora isso, volto a gravar em janeiro novo filme para o cinema, desta vez, o longa será uma comédia romântica. Além disso, temos os projetos e as novas possibilidades com o Porta dos Fundos. Não podemos deixar a roda parar.