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No início do século 20, um grupo de artistas franceses, encabeçados por Jean-Marc Côté, realizou uma série de ilustrações que tentavam prever o ano de 2000.

Mais de um século depois, elas se transformaram em obras de arte “paleofuturistas” – exemplos anedotísticos sobre um futuro que nunca aconteceu. Mas há nesse trabalho um exercício interessante: mais que uma tentativa de precognição, traz uma mistura de desejo e imaginação. E é por essa perspectiva que tento aqui responder à pergunta do PROPMARK.

Minha previsão é uma espécie de desejo natimorto: o fim do hype.

Trata-se de uma esperança, quase inútil, de que a cortina de fumaça – levantada por buzzwords como digital transformation, social engagement e clickability, entre tantas outras – não nos deixe esquecer do que realmente importa: conhecer as pessoas e saber se comunicar com elas.

Não me entenda mal: sou um entusiasta da tecnologia. Fui desenvolvedor de software antes mesmo de me tornar publicitário. Adoro e estudo o mundo pós-digital. Sou usuário antigo de mídias sociais. Utilizo o engajamento como uma das variáveis de estratégias de comunicação.
Porém, não estou, aqui, me referindo a essas coisas em si, mas sim ao que o hype sobre essas mesmas coisas acaba ofuscando.

Nosso trabalho central continua sendo sobre e para pessoas. Por isso, não podemos perder nosso senso crítico e cair na tentação de acreditar que construções de marca e relações com pessoas podem ser reduzidas apenas a algoritmos ou de que a subjetividade é menos importante que a otimização de performance.

Deixarmo-nos hipnotizar pela tecnologia não nos faz mais modernos, nem mais humanos: seria como alguém acreditar que ficará mais belo apaixonando-se pelo espelho.

Por isso, “o fim do hype” é minha principal previsão-desejo.

Assim, todos nós que lidamos com marcas jamais esqueceremos que, por trás da cortina de fumaça, moram as disciplinas que nunca vão obsoletar: o pensamento intuitivo e o raciocínio estratégico.