Alê Oliveira

A publicidade premiada no Cannes Lions é referência para a indústria criativa. Muitas vezes, os trabalhos agraciados no tradicional evento servem como parâmetro para campanhas posteriores. Pensando nisso, a organização do prêmio anunciou nesta terça-feira (9) mudanças para impedir a perpetuação de estereótipos e desigualdades nos cases premiados.

A organização divulgou a introdução de diretrizes atualizadas do júri para o processo de julgamento. Os novos critérios pedem que os jurados revisem as campanhas inscritas e considerem se o trabalho perpetua estereótipos negativos e desigualdades.

“Os leões que nossos jurados premiam a cada ano servem como referência para a comunidade criativa global, e é mais importante do que nunca para a nossa indústria mostrar e defender ideias inclusivas, fortalecedoras e inovadoras”, afirma Philip Thomas, chairman do Cannes Lions. Segundo o executivo, a expectativa é que as novas diretrizes ajudem para que o trabalho premiado pelo Cannes Lions seja admirado não apenas por seu brilhantismo criativo, mas por seu reflexo do mundo como um lugar de igualdade e tolerância.

Os membros do júri serão convidados a considerar se o trabalho analisado representa retratos estereotipados de gênero, idade, raça, etnia, deficiência ou outros preconceitos. Tudo foi feito baseado nos critérios de objetificação introduzidos por Madonna Badger, fundadora e Chief Creative Officer da Badger & Winters, durante o Cannes Lions de 2017. À época, a ativista instigou jurados a usarem empatia ao analisar um trabalho e incentivou o júri a refletir sobre como eles poderiam se sentir se a pessoa retratada fosse alguém que eles conhecem e se preocupam.

As novas diretrizes também são o resultado de uma colaboração entre Cannes Lions e a Unesteotype Alliance, iniciativa liderada pela indústria e convocada pela ONU Mulheres. A iniciativa reúne líderes de toda a indústria, tecnologia e indústrias criativas para abordar o retrato e a resistência de estereótipos prejudiciais em publicidade e conteúdo.

Segundo o Daniel Seymour, diretor-executivo da Unesteotype Alliance, estereótipos são barreiras extremamente destrutivas, mas invisíveis, que se interpõem entre nós e um mundo mais igualitário em relação ao gênero. Muitas vezes, a perpetuação desses padrões pode fazer a “diferença entre a vida e a morte”. “A indústria de publicidade e mídia pode coletivamente gerar mudanças reais nas vidas de mulheres, homens, meninas e meninos. E porque nós podemos, nós devemos”, afirma.

O Festival também ressalta em comunicado as iniciativas para a promoção da igualdade, como o troféu Glass, criado em 2015 com tal objetivo. Aliás, em 2018, a receita da categoria à Unesteotype Alliance e ao Geena Davis Institute. O financiamento permitiu que ambas as iniciativas desenvolvessem mais pesquisas originais sobre os danos dos estereótipos nas comunicações criativas.

Para o vice-presidente de festivais do Cannes Lions, Louise Benson, a criatividade pode impulsionar uma mudança social positiva ao erradicar estereótipos prejudiciais. “Essas diretrizes ecoam e aprimoram nossas outras iniciativas que abordam o desequilíbrio e a desigualdade de gênero, incluindo See It Be It, The Female Founders Start-Up Academy e Glass: The Lion for Change”, finaliza.