Foto: Marcello Queiroz

Albert Einstein, o genial físico alemão, que viveu entre 1879 e 1955, costumava dar um conselho que continua importante até hoje, na verdade, deve ser para sempre: “Se você quer ter crianças inteligentes, leia histórias para elas”.  O conselho tinha sequência: “Se você quer crianças mais inteligentes, leia mais histórias para elas…”. As histórias, no caso, são os contos de fada, as famosas fábulas e tantas outras narrativas que marcam o universo infantil.

A dica de Einstein foi um dos destaques da apresentação de Bobette Buster, uma guru de storytelling, que participou nesta quinta-feira (3), do primeiro dia do Ciclope 2016, festival de craft da área de produção audiovisual, que acontece até esta sexta-feira (4), em Berlim.  Bobette falou sobre o “poder da imaginação” para o desenvolvimento de histórias na publicidade, no cinema e em outras plataformas de conteúdo. As lições aprendidas com as fábulas podem ser, de forma real ou metafórica, recorrentes no nosso dia a dia. “Você pode de fato encontrar um lobo à sua porta ou você pode também ficar perdido em uma floresta…”, ela disse, ressaltando o quanto a imaginação favorece a busca de saídas e resultados.

Bobette destacou filmes como “Toy Story”, “E.T. – O Extraterrestre” e “O Poderoso Chefão” para ilustrar a força e qualidade de roteiros. Para ela, um dos principais ingredientes nas fórmulas de storytelling é “explorar e seguir o medo” dos personagens.  “As pessoas querem ver até onde vai a sua coragem”, ela sintetiza.

Outro ponto importante para o storytelling, ainda segundo Bobette, é trabalhar com “ideias que colidem”. “Você sempre precisa da tese e da antítese”, ela afirma, citando o número de mulheres grávidas e de crianças que aparecem, por exemplo, em “O Poderoso Chefão”. “É o contraste da inocência com o crime, com a sequência de assassinatos vista no filme”.  Ela apresentou também a teoria de transformar elementos simples em extraordinários e vice-versa. Exemplificou com a bicicleta no filme “E.T.”,  que se transformou em uma peça-chave para o desenvolvimento do papel do garoto Elliot e em toda a história do filme de 1982, um dos maiores sucessos da carreira de Steven Spielberg.

 

PAPEL DE CONVERGÊNCIA

A programação do Ciclope 2016 também contou em seu primeiro dia com uma apresentação de Arif Haq, diretor de capacidades criativas da consultoria Contagious Insider. Responsável por um trabalho de escala criativa para a Heineken, ele falou sobre o potencial das ideias e afirmou que as produtoras devem exercer um “papel de convergência” no mercado publicitário, sendo a ponte para o uso de tecnologia e inovações entre marcas e agências. O trabalho para a cervejaria, como título de “Creative Ladder” (escada criativa) enumera dez áreas de avaliação das ideias. Vai do que pode ser “detruidor” ao que se consolida como “legendário”, passando por generalização, clichês, confusão, frescor, viralização e fenômeno cultural. “Na verdade, a escada é um círculo de avaliações”, diz Arif.

O consultor recomendou  atitudes para as produtoras incrementarem suas funções no mercado publicitário. Entre elas estão “saber estimar seu valor e acionar o papel de criador cultural” e “saber quem é o seu cliente e como os negócios dele funcionam. O cliente não é a agência”.

No primeiro dia do Ciclope 2016 houve ainda apresentações sobre música, um painel com comerciais latino-americanos e uma entrevista feita pela jornalista Antje Wewer com Mark Woolen, editor de trailers de cinema. O primeiro trabalho dele, há 20 anos, foi o trailer de “Lista de Schindler”. Ele assina dezenas de edições cinematográficas, entre elas os trailers de “Birdman” e “The Revenant (O Regresso”, ambos do mexicano Alejandro González Iñárritu, “A serious man” (Um homem sério) de Ethan Cohen e Joel Cohen, e “Shame”, de Steve McQueen.

A parte de conteúdo do primeiro dia do Ciclope 2016 terminou com uma apresentação do inglês John Hegarty, fundador da agência londrina BBH e um dos mais respeitados nomes da publicidade mundial. Hegarty apresentou uma série de filmes nos quais ele destacou a importância da produção para o tema “Advertising is 80% idea and 80% execution”.

O Ciclope Festival termina nesta sexta-feira com apresentações de Jani Guest (Indpendent Films), Laura Galloway (Kidspiration), de Thomas Benski (Pulse Films), do diretor de cena Martin de Trurah, do Grand Prix de Film Craft no Cannes Lions 2016,  e do cineasta Sebastian Schipper.

O encerramento será com a cerimônia de premiação de trabalhos inscritos em seis áreas: Comerciais, Vídeos de Música, Design Experimental, Filmes de Moda, Branded Content e Som. O Brasil compete com sete trabalhos em 17 posições de finalistas.