Com formação em design e trajetória publicitária desenvolvida em agências como DPZ e AlmapBBDO, Andre Sallowicz é hoje um dos principais talentos brasileiros na Europa. Desde junho de 2017, é diretor de criação da adam&eveDDB, em Londres. Antes, atuou na neozelandesa ColensoBBDO. Sallowicz está no júri de Direção de Arte do D&AD 2019 e, por e-mail, contou ao PROPMARK suas opiniões sobre publicidade. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

FESTIVAL CRITERIOSO
O D&AD é conhecido por ser o prêmio mais difícil de propaganda mundial. Ganhar um Lápis é coisa rara. Por ser um dos primeiros festivais no calendário e por ser tão criterioso, é referência para muitos jurados que vão julgar outros prêmios depois. Se você quer ter uma pista de quais serão os grandes premiados em Cannes, conheça os vencedores do D&AD antes.

ARTE NA VIDA, NA RUA…
O interessante da direção de arte é que ela tem sua base em referências vividas. No meu caso, ela faz parte da minha identidade, vem do que eu vi na rua, o que eu assisti, o lugar onde eu cresci, que é o Brasil, as experiências que vivi. O júri vai ser composto por cinco diferentes nacionalidades, pessoas das mais diversas áreas de atuação. São fashion designers, artistas plásticos, ilustradores e diretores de arte. Vai ser interessante, espero aprender com isso.

AND THE BREXIT IS…
O impacto do Brexit continua incerto e é improvável que a crise vá afetar economicamente o mercado publicitário nesse primeiro momento. O Reino Unido continuará sendo importante para negócios internacionais por muito tempo. Talvez o impacto para o setor de marketing e propaganda deva ser em talentos. O futuro de muitos profissionais que trabalham nessas áreas continua incerto. Acredito que poderá existir escassez de profissionais para certas áreas no futuro.

MÍDIA IMPRESSA
A mídia impressa é uma ferramenta poderosa e tem passado por um período de adaptação à nova demanda do mercado. Tudo que tem senso de urgência, como jornais diários, migrou para o online, o que faz todo sentido. A mídia impressa vai continuar existindo, a melhor curadoria de conteúdo vai continuar vindo de jornais e revistas semanais. E o designer e o diretor de arte têm um papel fundamental nesse novo modelo. Eles têm de tornar essas revistas e jornais mais atraentes ao olhar desse novo público que consome tudo online.

TELEVISÃO
A televisão vai se adaptar e diminuir o seu tamanho. Apesar de uma queda brusca da audiência nesses últimos anos, a grade de programação da Globo e de outras emissoras brasileiras se mantém sólida, com novelas, telejornais e programas de auditório, reality shows e futebol. Felizmente os melhores pratos oferecidos no menu da TV não são os mesmos do menu da internet (Netflix, Amazon, YouTube etc.) e vice-versa. Vamos dizer que agora existem mais opções de restaurantes na cidade e na sexta eu não preciso mais pedir pizza, como fazia todas as semanas. E sei também que a pizzaria não vai fechar por causa disso porque tem sempre alguém comendo lá.

CONTADOR DE ESTÓRIAS
A tecnologia é muito abrangente. Vivemos em uma época sem precedentes na história da humanidade, uma vez que o que era impossível seis meses atrás pode ser realizado hoje, e o que era caro se tornou acessível. Essa é uma época sem igual para se trabalhar em criação. Mas, apesar de toda essa mudança, uma coisa vai continuar única: somos contadores de histórias. Criamos histórias emocionando, fazendo as pessoas rirem, fazendo entretenimento. O papel da tecnologia é apenas ser uma ferramenta para nos ajudar a contar essas histórias de uma forma incrível.

PUBLICIDADE BRASILEIRA
O Brasil é o um dos países mais criativos do mundo, isso é fato. É certamente o país que exporta mais talentos na área de publicidade e marketing. O primeiro desafio é reter talentos e, num segundo momento, trazer de volta os talentos que estão fora do país. Para isso acontecer, as condições de trabalho têm de melhorar e muito, principalmente em torno de horas trabalhadas. O departamento de mídia ainda funciona dentro da agência, o que é bem raro em agências no exterior. A mídia é uma peça fundamental no processo, mas não pode ser um fator limitador ou determinante, ela tem sim de fazer parte do processo. Ter um briefing sem mídia comprada e poder encontrar a maneira mais criativa de se executar a ideia é o ideal. O mídia é um criativo também.

PERFIL
Sou formado em Design e trabalhei na área por pelo menos três anos antes de começar como diretor de arte. Minha experiência como designer ajudou a criar uma base sólida para a publicidade. Também tive a oportunidade de trabalhar com grandes diretores de arte, como o Petit, na DPZ; na Almap, com Marcello Serpa, Luiz Sanches, Bruno Prosperi, Renato Fernandez, Marcão Medeiros, André Gola, BJ; com o Guy Costa, na Grey, e por aí vai. Eu me defino como um estudante que teve ótimos professores.