Na tarde do último dia 5, em vez de receber os participantes do Festival of Media LatAm para o credenciamento, como estava previsto, a equipe da C Squared, empresa responsável pelo evento que seria realizado entre os dias 5 e 7, desmontava as estruturas que nem chegaram a ser usadas nas salas do hotel Turnberry Isle, em Aventura, ao norte de Miami. Menos de três horas antes do início do evento, a organização decidiu cancelar o festival.

No comunicado, a organização dizia que o cancelamento havia sido uma “grande tristeza”, mas foi “vencida pela mãe natureza”. O culpado pelo ocorrido foi o furacão Matthew, que, depois de causar destruição no Haiti e nas Bahamas, estava previsto para atingir o sul da Flórida nos dias em que seria realizado o evento. “Nós tivemos de cancelar por causa da segurança de nossa equipe e também da indústria que nós servimos. Hoje (quarta-feira, 5) de manhã, nós percebemos que havia uma grande chance de o furacão atingir Miami. Manter o evento seria mandar as pessoas em direção do perigo. Seria muito egoísta. Nós percebemos que seria errado continuar com o evento”, declarou Charlie Crowe, chairman e editor-chefe da C Squared.

Prejuízo
Sobre os prejuízos financeiros causados pelo cancelamento, o executivo não quis falar em valores. “Não estamos pensando no dinheiro, agora, estamos pensando na segurança”, disse o executivo.

Como o motivo do cancelamento não foi de responsabilidade do evento, a atitude não deve causar problemas à marca do festival. “O prejuízo é financeiro. De imagem, com certeza, não. Pelo contrário. Se o festival seguisse e alguém se machucasse, aí sim. O prejuízo é com os patrocinadores, mas a decisão é para preservar vidas. Acho uma decisão correta”, opinou Marcelo Tripoli, CCO da REF+T, que foi um dos jurados brasileiros da premiação. O VP de mídia da Y&R, Gustavo Gaion, outro brasileiro no júri, também concordou com a decisão da organização. “Achei o cancelamento correto. Muitas pessoas ainda estavam em trânsito, outras programadas para voltar na quinta (dia 6) – como eu -, com isso houve tempo de tentar se acomodar”. Ele conseguiu mudar o voo para quarta-feira (5) à noite.

“Eu percebi que a situação era muito grave. Nós não estamos acostumados com essa realidade. Eu achei que havia uma chance de ocorrer, mas acredito que a organização fez certo cancelando o festival, porque não é brincadeira”, afirmou Marcelo Tas, que seria o apresentador do evento ao lado de Jeremy King, COO do festival. Mesmo com o cancelamento, Tas decidiu ficar na cidade. “Ainda parece que é um filme. É meu primeiro furacão. Eu tinha a notícia de que poderia acontecer, mas ainda é difícil acreditar que com um dia tão lindo amanhã passará um furacão que vai mudar tudo”.

O único espaço reservado usado foi a sala do júri. Os jurados que já estavam na Flórida ficaram reunidos no último dia 5 para definir os vencedores. Embora a festa de premiação, que seria na piscina do hotel, tivesse sido cancelada, eles continuaram o julgamento e as peças vencedoras seriam anunciadas pelo site do evento, o que não ocorreu até o fechamento desta edição.

Clima

Para quem não está acostumado com esse tipo de acontecimento natural, era difícil acreditar que aquele dia ensolarado e quente daria espaço, em poucas horas, a ventos de até 200 quilômetros por hora.

Os supermercados ficaram sem alguns produtos, como pães, biscoitos e salgadinhos, em alguns casos também sem água, já que a orientação era que as pessoas estocassem suprimentos para três dias. A tempestade, no entanto, não chegou com a força esperada em Miami. Até o fechamento desta edição, o furacão havia passado pela costa nordeste da Flórida, atingindo cidades acima de Fort Lauderdale.

Acreditando na previsão, assim que o festival foi cancelado, muitos participantes correram para trocar as passagens de volta e deixar Miami antes que Matthew chegasse. Foi o caso do brasileiro Rafael Davini, VP de ad sales da ESPN Brasil, que estava na cidade desde o início da semana para reuniões de trabalho e aproveitaria para ficar até o fim da semana e acompanhar o festival, mas mudou o voo para a noite do último dia 5. “De fato, o evento foi prejudicado porque muitos profissionais não conseguiram chegar. É uma pena o cancelamento. A gente acaba perdendo o networking, é como o que acontece em Cannes, tem sempre uma conversa produtiva”, disse o executivo, que participou do júri online para o shortlist e iria acompanhar os painéis.

Os participantes que não conseguiram mudar o voo e ficaram presos na Flórida se encontraram no hotel, onde seria realizado o evento, e acabaram se organizando informalmente em um networking. “Fiquei triste com o cancelamento. Eu sei que eles tentaram manter até a última hora. O que é uma pena porque muita gente legal já chegou e muita gente legal nem veio. Mas acho que acabou sendo um evento informal”, disse Lucia Mastromauro, diretora-geral da King, empresa responsável por jogos como Candy Crush. Os executivos da MediaMath também aproveitaram a oportunidade para interagir com o time. “Eu tentei adiantar meu voo para Nova York, mas não consegui. No entanto, aproveitei para encontrar meu time do Brasil”, contou Joanna O’Connell, CMO da MediaMath, que participaria de painel sobre mídia programática.