Formado em economia pela PUC-SP, com MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, o executivo Marcelo Bazzali está no Grupo Pão de Açúcar (GPA) desde 1999, no qual já passou pelos cargos de diretor de marketing e de Operações do Estado de São Paulo e diretor-executivo da bandeira Pão de Açúcar. Atualmente, ele exerce esta última função na rede Extra. Na entrevista a seguir, ele fala das expectativas do GPA em relação a 2019, revela algumas estratégias do Grupo e se mostra otimista quanto às reformas econômicas necessárias para repor o Brasil no caminho do crescimento.

 

Quais são as expectativas do varejo este ano?

Nós trabalhamos com a expectativa de crescimento de vendas positivo para o ano como um todo. Como nós estamos no primeiro trimestre ainda nós não podemos ainda divulgar nada. Alguns canais já vêm crescendo, por exemplo, a Cash&Carry já vem crescendo numa proporção maior do que outros canais. Nós estamos muito otimistas em relação ao mercado este ano.

 

Como foi o ano passado para o grupo GPA?

No ano passado nós crescemos em número de lojas e volume de vendas. Mas todos os canais apresentaram crescimento de vendas e ganho de marketing share, o que é importante também.

 

Qual é o marketing share hoje do grupo, do Extra especificamente?

Somando todos os canais, Extra, Pão de Açúcar e as lojas de proximidades – o Assaí tem um cálculo apartado por parte da Nielsen – aí tem um marketing share na casa de 18% a 23%, dependendo do formato. Mas varia muito por estado.

 

Qual o papel do supermercado hoje, quando o setor está indo para os extremos que são o atacarejo e as lojas de proximidade. Como é que ficam o super e o hiper nesse mercado?

Falando do nosso portfólio especificamente, você tem o Pão de Açúcar, que atinge um perfil que a gente chama de formato de valor, que pega a classe AB. Esse é um mercado que tem um nicho específico, que na nossa visão conseguiu permanecer e crescer mesmo nos últimos anos de crise, quando você teve o cliente caminhando mais para o Cash&Carry por causa da relação de preço. Quando você vai para outro player, como é o caso da rede Extra, nós estamos fazendo todo um trabalho de conversão, que começou no ano passado, onde parte das lojas passou para a marca Compre Bem. Nós começamos o nosso
e-commerce em 1995. É uma bandeira mais madura, chega a participar com 3, 3,5% da venda total da bandeira Pão de Açúcar. O Extra está fazendo agora um movimento forte de levar express para as lojas. O Pão de Açúcar já tem 100 express, o Extra deverá ter até o fim do ano cerca de 30 lojas express.  É um segmento que, na minha opinião, vai crescer no aplicativo, uma das maiores evoluções que nós tivemos, a usabilidade como a gente chama. Então hoje você consegue comprar pelo mobile, fazer a tua compra sem precisar do desktop. Aqui no Brasil cerca de 80% dos consumidores ainda usam o desktop, enquanto em mercados mais maduros o uso do mobile já está em torno de 40%. Mas a gente entende que o perfil muda de geração em a geração.

 

No caso do mobile, a aposta é na geração millennium?

Isso, millennium. Aí você já pega na veia.

 

Você fala em crescimento, mas dados recentes da Associação Paulista de Supermercados (Apas) mostram queda nas contratações no setor dos supermercados do estado.

Nós temos um crescimento orgânico forte, são mais de 103 mil colaboradores. E continuamos um programa de contratação forte pelo crescimento orgânico das lojas e também pela maior especialização dos formatos. Porque, se eu quero um atendimento melhor, eu tenho de contratar pessoas. Mesmo no meio digital, porque, por mais que essa área evolua, as pessoas continuam a se relacionar com pessoas.

 

Há um grande aumento do número de consumidores idosos, que têm mais dificuldade para usar novas tecnologias. Como o GPA trabalha isso?

Hoje, você tem uma faixa etária de clientes concentrada entre os 40 e 55 anos. E muitos deles dizem: eu não quero utilizar mobile, não quero baixar nenhum aplicativo. Então você tem de estar preparado para este desafio nosso, para que esse cliente possa ter os mesmo benefícios na ativação de ofertas, para ter o mesmo desconto do e-commerce e, ao mesmo tempo sentir-se personalizado. Então você desenvolve totens no PDV, para ele se sentir inserido. Mas não é simples satisfazer a todos quando você atende a mais de 35 milhões de clientes/mês. É sempre difícil você satisfazer a todos. Mas você tem de estar disponível para isso. A ideia é que o atendimento seja democrático e  o mobile é democrático. Na hora que você ensina esse cliente que frequenta a nossa loja, três, quatro vezes – e aí é um dado importante, 23% dos clientes fazem ao menos uma compra por mês – você precisa estar disponível para fazer com que as pessoas se sintam inseridas e gozem do mesmo benefício. Mas é necessário diminuir resistências.

 

Como é o desempenho de vendas no aplicativo?

O ticket médio do cliente que usa aplicativo é duas vezes superior àquele que não usa.

 

Em meio a essas confusões da área política, o consumidor já está ficando um pouco mais retraído, menos otimista e comprando menos por conta disso?

Não. O que há são oscilações. Então, uma hora a bolsa bate 100 mil pontos, em seguida cai por causa de alguma declaração vinda de Brasília. É preciso ter muito equilíbrio nesses momentos. Mas nós temos uma estratégia traçada independentemente dessas oscilações. Nós continuamos acreditando efetivamente em crescimento. E, claro, somos otimistas que as reformas necessárias para pôr o país nos eixos serão aprovadas.