Por mais que eu tente, é difícil compreender a atitude de alguns gestores. Quando vejo empresários e executivos trabalhando contra seus próprios interesses, tendo a acreditar que, pelo menos parte do mundo corporativo, tem uma propensão suicida.

Ninguém pode negar que estamos todos enfrentando um contexto complicado, comaltas taxas de desemprego, inflação ainda em níveis elevados, PIB em queda e umagrande instabilidade política; essa é a realidade. Frente a esse quadro, é mais do quenatural que gestores tenham que tomar decisões e medidas para assegurar que sua empresafará a travessia, em meio ao mar revolto, de forma segura e saudável quandoo cenário melhorar, mas, por outro lado, não haveria exageros no comportamentodos administradores? Vale lembrar que a diferença entre o remédio que cura e o venenoque mataestá na dosagem.

Todo gestor deveria demonstrar a mesma coragem ao promover medidas defensivas e, ao tomar uma decisão, não se intimidar e ir para cima do mercado. Tenho lido vários artigos, matérias e estudos sobre como a psicologia negativa potencializa nossa leitura sobre os problemas, induz apôr uma lente de aumento sobre as notícias ruins e derruba o ânimo e a capacidade dereação.

Em outras ocasiões, eu mesmo já abordei a importância de manter a crença na empresa,no negócio e na equipe, como um antídoto ao pessimismo que corrói a confiança, eque, mesmo em tempos difíceis, é possível gerar resultados e conquistar mercado.

Na intensão de tomar medidas que protejam a empresa, pode-se incorrer ao engano defragilizar sua capacidade competitiva e criar um clima de desânimo.

No caso do marketing e da comunicação, em tempos de crise, o que mais se vê é a opçãopor cortar investimentos, adiar novos lançamentos, cancelar esforços de propaganda e reduzir o efetivo da área comercial. Não é lógico que, justamente neste momento, as empresasfaçam cortes que podem debilitar sua atuação e produção de resultados.

No momento em que o marketing e, no seu contexto, a propaganda mais podem colaborarpara minimizar a queda de demanda e contribuir para o sucesso das empresas o comportamentoé paradoxal: muitos anunciantes deixam de estimular as pessoas a considerarem suas marcas.

Estudos realizados pela Associação Americana de Agências de Propaganda comprovam que, em muitos casos avaliados, a manutenção das verbas de marketing, ou mesmo, o incrementodo orçamento para propaganda, em época de crise, resultaram em manutenção dos volumes e até em aumento das vendas.

Todos os dias,milhões de brasileiros levantam de suas camas, escovam seusdentes, precisam se deslocar, se alimentar, continuar vivendo. Ainda que estejamos em meio a um período recessivo, o Brasil não acabou, o mercado não desapareceu, ainda temos um mercado de consumo grande o suficiente para aquelas empresas que mantiverem suaagressividade mercadológica.

É preciso fazer análises com bom senso, sem passionalidades ou levados pelo emocional.

Afinal, devemos ter em mente que mais à frente teremos que prestar contas pelas decisões que tomamos ou deixamos de tomar.