Quando esta edição estiver circulando, já teve início o maior festival da comunicação do mar-

keting do planeta. Há outros semelhantes, um deles nos Estados Unidos reunindo um número maior de público interessado, mas não é como Cannes, onde o foco principal é sempre a publicidade e suas disciplinas irmãs.

Até por tradição, pela longevidade e por estar em um dos mais charmosos lugares da terra, Cannes é o mais importante.

Aqui no Brasil, onde começamos a frequentar o festival na transição entre o fim dos anos 1960 e o início dos anos 1970, período em que poucos trabalhos brasileiros concorriam e alguns até com deficiências técnicas (falo de filmes, pois naquela época o Festival ainda premiava e exibia somente filmes).

Atrevo-me a dizer que Cannes teve uma grande influência na melhoria de qualidade da nossa comunicação do marketing. Nosso nível de exigência aumentou muito por causa desse festival e por uma decisão do representante do mesmo em nosso país, o saudoso Vitor Petersen, que, além de convidar alguns jornalistas para cobrirem o evento, levava também alguns clientes-anunciantes, com a anuência dos seus sócios.

Isso fez com que se tomasse consciência de que nossa qualidade publicitária, do ponto de vista material e formal, podia melhorar muito. Aos poucos, começou a ser abandonada a ideia de que o público poderia não empatizar com trabalhos de propaganda mais sofisticados, deixando para trás o mau gosto de certas peças realmente sofríveis.

Sem dúvidas, Cannes foi um dos primeiros padrões em que nos espelhamos a fundo, para dar uma virada no produto final publicitário no Brasil.

Hoje, nosso país tem sido destaque no festival, ganhando várias vezes o glorioso título de Agência do Ano e servindo de parâmetro para outros países. Há menos de quatro décadas passadas, era-nos impossível prever essa nossa evolução, da qual muito nos orgulhamos.

 

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Foi com grata surpresa e muita satisfação que recebi, de Luis Antonio Ribeiro Pinto, da Kinoplex (Severiano Ribeiro), da qual surgiu a CP-Cinema e Publicidade do Brasil, dirigida por Vitor Petersen, o seguinte e-mail dias antes do início do Cannes Lions deste ano: “Caro, Armando: Dando uma ‘geral’ aqui no escritório do Rio com também a mudança de São Paulo, tenho toda a memorabília dos festivais da SAWA, que gostaria de doar a você como o maior membro participante nos referidos festivais. São books, pôsteres, documentos, Palmares e Leões físicos enquadrados (formato de Veneza), livros de júri e delegados etc. Sem dúvida, um grande acervo que, pensei, só alguém como você, que viveu todo esse período de ouro de nossa participação e sucesso nos festivais internacionais de Cannes e Veneza, daria o merecido valor para todo este material.

Tudo isso está aqui comigo e você, grande amigo desde aquela época, foi meu escolhido para ter essa herança que tanto prezo!

Avise-me por favor se é do seu interesse, pois muito gostaria que você, mais do que ninguém, preservasse este acervo.

Um grande abraço do seu sempre amigo Luis Antonio Ribeiro Pinto”.

N. do R.: Assim que recebi o e-mail, respondi ao Luis Antonio que me interesso, sim, pelo acervo, agradecendo a generosidade da doação.

Está em andamento em alguns círculos institucionais do mercado publicitário brasileiro, a ideia da criação de um museu da propaganda, que ainda não foi realizado pelo conflito que alegam ter a atividade publicitária com a palavra “museu”. Sempre discordei disso e creio que logo mais poderemos e deveremos ter um museu dessa natureza, que recorde a gloriosa evolução dessa atividade em nosso país, em tão curto espaço de tempo.