Todo mundo sabe que a Escola Superior de Propaganda e Marketing, a disputada ESPM, tem um histórico comprometido na formação de quem opta por publicidade e propaganda com foco em marketing. No entanto, a instituição de ensino superior também é de excelência em graduação em outras áreas da comunicação. Os cursos de jornalismo e de ciências sociais e do consumo são recentes. O primeiro foi iniciado em 2011, enquanto o segundo abriu suas portas em agosto de 2015.

 Ambos seguem o DNA da ESPM. Em outras palavras, são cursos de graduação que prometem a formação de alunos com amplos conhecimentos das áreas escolhidas – e, de fato, entregam jovens profissionais prontos para encarar o mercado. O curso de jornalismo foi pensado para formar profissionais capazes de atuar em todos os veículos, mídias e empresas, com forte traço na convergência tecnológica – exigência básica da atualidade. Mas também traz em sua grade um amplo conhecimento do ambiente de negócios, incentivando a autogestão.

 

De acordo com a própria ESPM, o curso de ciências sociais e do consumo é o primeiro e único no Brasil a oferecer “uma profunda formação humanista combinada a marketing, pesquisa e gestão”. Foi planejado para formar profissionais “arrojados, que saibam compreender e até antecipar as necessidades do mercado”. O curso oferece, além das disciplinas clássicas, outras que estimulam a percepção do mundo, como neurociência e psicologia.

A seguir, os coordenadores dão todos os detalhes de como funciona o aprendizado das áreas com a máxima
visão de futuro, um componente histórico da ESPM, que foi fundada no início dos anos 1950. Com você, Maria Elisabete Antonioli, coordenadora de jornalismo – doutorada em ciências da comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade São Paulo, e pós-doutorada na mesma universidade -, e Mario Rene, coordenador de ciências sociais e do consumo, formado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas e psicólogo e mestre em psicologia pela USP, além de doutor em teologia prática (ciências da religião) pela Universidade Metodista.

 

Jornalismo

A ESPM criou o projeto pensando no jornalista contemporâneo. É o que afirma Maria Elisabete Antonioli, coordenadora mais do que gabaritada do curso. Ela ressalva que o curso mantém seus valores de origem, como ética e rigor na apuração. Mas enfatiza que “o fazer jornalístico e o perfil do jornalista mudaram muito nos últimos anos” e é necessário a escola estar atenta ao que o futuro sinaliza. “Essa transformação ocorreu principalmente a partir da chegada da internet”, diz.

 

A tecnologia, a mestre concorda, sempre esteve presente na vida de jornalistas, mas, para ela, agora dependemos muito mais das ferramentas techs para trabalhar e viver. “Sou capaz de dizer que foi a revolução da internet que trouxe esse novo perfil profissional, essa nova forma de fazer jornalismo. Por isso, o curso da ESPM prepara o jornalista de hoje. Ou seja, o aluno sai daqui com o domínio das diferentes linguagens dessa comunicação.”

 

O que isso quer dizer exatamente? “Trabalhamos com convergência porque o digital atinge todos os outros meios. Há algum tempo, o jornalista escrevia seu texto, que seguia para outras pessoas, como o redator, o editor, o revisor. Hoje é diferente. Ele escreve, revisa, edita e publica. Faz, inclusive, a foto ou a ilustração para acompanhar sua reportagem. Não podemos pensar em formar apenas jornalistas para redações tradicionais.”

 

Na verdade, nem elas existem mais porque, para sobreviver, necessitam cada vez mais de mão de obra diversificada. “Devemos abrir o leque. O jornalista da atualidade precisa, necessariamente, por exemplo, ter a competência do empreendedorismo, da gestão, para ter capacidade de abrir um negócio ou alcançar um cargo de gestor em uma empresa. Com esse raciocínio, ofertamos conteúdos voltados a essas áreas, assim como temos conteúdos que visam o jornalismo em incorporações. A comunicação corporativa cresceu bastante e, portanto, gera empregos e continua pagando bons salários.”

 

Já há alguns anos que a situação econômica do país está prejudicada, afetando as vagas de emprego em diversos setores. Para Maria Elisabete, o quadro também atinge recém-formados em jornalismo, obviamente. No entanto, uma saída para quem está buscando um lugar ao sol no setor é justamente saber empreender. “O aluno da ESPM aprende a fazer um blog ou algo mais sofisticado, como um portal, e o ensina a gerir esses negócios. A mídia digital favorece essa dinâmica aos estudantes que são nativos digitais e capazes de criar produtos jornalísticos de qualidade nesse meio.”

 

Mas o aluno entra na faculdade pensando no meio digital? Ou será que chega aos bancos universitários com o desejo de trabalhar em um grande veiculo de comunicação? Maria Elisabete responde: “As questões tecnológicas estão muito presentes nesses futuros jornalistas. Eles sabem muita coisa sobre e são abertos a novos conhecimentos, mas não têm a visão, por exemplo, da comunicação corporativa por não a enxergarem como correlata ao jornalismo. Aprendem na escola e acabam se interessando pelo assunto.”

 

Uma das ferramentas oferecidas pela ESPM é a ComCorp, uma agência de comunicação corporativa com clientes reais. “Muitos alunos que optaram por oficinas nessa agência entraram para a comunicação corporativa”, afirma a coordenadora. Esse instrumento de ensino e trabalho é levado a sério. De tempos em tempos, a ESPM publica um edital para selecionar empresas, preferencialmente startups ou que não tenham fins lucrativos, para que os alunos, orientados pelos mestres, realizem um trabalho de comunicação. “Não cobramos nada, funciona como um laboratório real, com estudantes e um negócio. Ou seja, trata-se de um planejamento de comunicação para a empresa contemplada pelo edital.”

 

Outro aspecto levantando pelo curso é o trabalho em assessorias de imprensa. “Começamos com esse assunto e depois passamos para a comunicação corporativa, gestão de crise, comunicação em instituições públicas. Enfim, temos uma grade de disciplinas que auxilia os alunos a se decidirem por diversas áreas.” A Máquina de Notícias, por exemplo, é parceira da escola. “Temos estudantes trabalhando lá e a empresa se mostra satisfeita.”

Maria Elisabete explica que a ESPM tem um relacionamento “muito bom” com quem tem poder de empregar novos talentos. “Esse é um DNA da escola e acabamos estabelecendo uma troca com as empresas. Muitas procuram estagiários. O Cintegra, Centro de Integração Empresa Escola, criado em 1997, é responsável pelo relacionamento com as empresas a respeito dos estágios dos estudantes da graduação de São Paulo, mas, além dele, temos uma professora que atua na supervisão de estágios e faz esse intercâmbio. Recebo pedidos de empresas que procuram estagiários com determinado perfil, passo para essa colega e ela verifica e encaminha quais alunos estão à disposição para aquela vaga.”

 

Sem dúvida alguma, é mais um curso bem-sucedido
da ESPM. “O nosso curso tem grande diferencial, que desconheço em outras instituições, que é o Centro Experimental de Jornalismo, cujas atividades não são obrigatórias, mas especiais. Há várias oficinas sob a supervisão de professores, como a agência experimental de jornalismo, em que trabalhamos notícias de várias editorias e as publicamos no portal. Temos ainda uma oficina que ensina a fazer um blog de moda – tem muita gente interessada nesse assunto. Realmente uma experiência fantástica de aprendizado.”

 

A escola ainda produz a revista “Plural”, também laboratorial e, em uma breve folheada, dá para perceber que é muito bem feita, e o programa Lincados na Área, de entrevistas variadas. Tudo produzido pelos alunos com a supervisão de professores. “O programa é legal porque são os estudantes que fazem os convites, participam de todo o processo. Já tivemos aqui até o Cid Moreira”, afirma. “Mas muitos outros profissionais já participaram, como jornalistas, esportistas e empresários. Além disso, ainda em vídeo, temos uma oficina de produção para a TV Futura.”

 

Maria Elisabete explica como funciona. “A Futura tem parceria com várias universidades, somos uma delas. Fazemos uma reunião de pauta com eles via Skype, porque a emissora é no Rio. Assim que as pautas são definidas, os alunos produzem as reportagens, que seguem prontas para o canal colocá-las no ar.”

 

Há oficinas também para quem tem interesse em rádio, como produções de programa para a CBN. O projeto se chama “Universidade no Ar” e é veiculado todo sábado em um rodízio de quatro universidades – ESPM, Mackenzie, Metodista e São Judas. “Discutimos a pauta e o programa tem de ir redondinho para a CBN.” Maria Elisabete faz questão de destacar o Laboratório de Linguagens Híbridas em Jornalismo, que promove as novas linguagens da área, como uso de câmera de 360 graus. “É, de fato, um jornalismo de imersão.”

 

Mas a escola não para, está sempre se aperfeiçoando. No semestre passado, foi criado o projeto Copa, em que os alunos tiveram oficinas de jornalismo esportivo e, ao final, fizeram narrações ao vivo. “É um projeto para que os alunos aprendam a narrar jogos e trabalhar com esse tipo de notícias, se aprofundar no assunto. Além disso, sempre convidamos alguém da área para falar com os alunos.” O próximo projeto do gênero será sobre eleições a fim de ensinar a praticar jornalismo político. “São conteúdos esporádicos, que têm a ver com o evento do momento”, afirma a coordenadora.

 

O estágio é obrigatório, sabemos, e Maria Elisabete afirma que a maioria de seus alunos acaba indo para empresas. Mas alguns conseguem vagas em veículos como TV Globo, TV Record e em jornais. Resumindo: o curso de jornalismo da ESPM foi estruturado com núcleos de disciplinas que perpassam o fazer jornalístico, mas o aluno também recebe conhecimento de comunicação corporativa e conteúdos que dão sustentação às questões do empreendedorismo. “Acho que essa característica não serve apenas para quem opta por jornalismo. No nosso caso, sabemos que a área é altamente competitiva também em pequenos nichos. Há projetos de comunicação sendo bem desenvolvidos no terceiro setor e na própria internet.”

 

Formada pela Universidade Metodista de São Paulo, Maria Elisabete, mãe de um casal de filhos, conta que começou a carreira no Diário Popular como estagiária e depois passou para a revisão, antes de chegar à redação. Também teve experiência ampla no jornal O Estado de S.Paulo e em assessoria de imprensa. “Estava para me casar e queria parar de trabalhar sábados, domingos e feriados. Então, fui para a assessoria do Ministério da Educação, quando existia uma representação do órgão em São Paulo. Por estar ali, comecei a me interessar pelas questões de educação e fui me especializar nessa área, vislumbrando uma carreira docente. Passei a dar aulas, fiz mestrado e doutorado, sempre com pesquisas sobre cursos de jornalismo.” Sobre os filhos, ela conta que a menina se formou em publicidade e propaganda na ESPM e trabalha com marketing na revista Glamour. O menino fez turismo e hoje tem uma agência de viagens.

Ciências Sociais e do Consumo

O curso é novo, a primeira turma se forma só em agosto do ano que vem. Mas já concentra 120 alunos, segundo Mario Rene, coordenador do curso, que, pela sua vasta experiência acadêmica, teve grandes passagens pelo marketing. “Comecei pela pós-graduação da ESPM porque trabalhei muitos anos em marketing. Depois, me convidaram para lecionar na graduação. Isso foi nos anos 1990. Em seguida, criamos a cadeira de psicologia do consumidor ainda no curso de publicidade. Estudos do consumidor não existiam e só existe aqui. Então, minha formação em psicologia e administração foi perfeita”, diz.

 

O coordenador acrescenta: “Lecionei psicologia do consumidor, tanto na graduação quanto na pós, e um bando de alunos recém-formados em publicidade pela ESPM me procurava, porque eu era chefe do departamento de humanidades. Como tinha sido professor deles, queriam saber se eu tinha alguma ideia sobre cursos de pós para que eles se aprofundassem em humanidades, conteúdos que tivessem um elo com o mercado. Fui pesquisar e não tinha.”

 

Segundo ele, havia muitos curso de pós, mestrado, stricto, o que quisesse em psicologia – “alguns até muitos bons” -, mas nenhum que juntasse os dois assuntos. Depois desse levantamento e com esse resultado, Mario Rene foi conversar com Carlos Monteiro, então diretor da pós-graduação da ESPM, e foi ele quem o incumbiu de desenvolver essa prática do conhecimento. “Desde 2006, a pós da escola tem um curso de ciências do consumo aplicadas, que é a justaposição de consumo com comportamento”, explica.

 

Dois anos depois, Alexandre Gracioso, vice-presidente acadêmico da ESPM, teve uma conversa séria com Mario Rene. “Ele me disse: ‘Que tal desenvolvermos o curso de ciências sociais?’. Eu achava muito interessante por um lado. Por outro, as ciências sociais não têm muito campo. Mas ele me propôs criar o curso com ênfase em pesquisa de mercado, outro olhar. Ainda assim, achei que seria bacana, mas também arriscado, diminuto, porque os institutos de pesquisa no Brasil são poucos. Depois de um tempo refletindo, considerei que seria interessante criar um curso que formasse profissionais para trabalhar em mercados específicos. Por exemplo, como educação e cultura, e o curso tivesse disciplinas práticas de mercado e gestão, mas muito ligado à área de humanas. Fomos elaborando, amadurecendo a ideia até criarmos ess a graduação.”

 

O curso tem três grandes focos. “É o que eu chamo de santíssima trindade”, afirma Mario Rene. Em outras palavras: consumo, negócios de impacto social – ou startups ligadas à sustentabilidade, reciclagem de lixo, empregabilidade de pessoas com deficiências e comunidades –  e educação e cultura, hoje designada diversidade e inclusão. “É essa justamente a origem do curso: formar pessoas aptas para trabalharem em grandes empresas de comunicação, cinemas, galerias e até com economia criativa.”

 

Mario Rene fala que existe um mercado “enorme” para essa turma. “Eu precisava checar números, mas é o primeiro curso que tem 50% do pessoal noturno estagiando ou trabalhando. Estamos falando de uma turma que ainda nem está formada. É fato. Os demais? Só não estão no mercado porque não querem.” E quem procura por alunos de ciências sociais e do consumo? “Institutos de pesquisa, empresas ligadas à moda, a áreas correlatas ao consumo, às tendências de consumo”, explica.

 

O coordenador vai além: “Eu chamo esse pessoal de humanistas de mercado, pessoas com grande conhecimento de humanidades que sabem como funciona o mercado”, ressalta. “Não existe curso de graduação que tenha cadeira de sexualidade humana”, orgulha-se. “Nem em medicina. Na ESPM temos um semestre sobre o assunto.” Ele enumera outras qualidades específicas do curso, como “competência” em neurociências e economia comportamental. “Oferecemos várias disciplinas que não existem em nenhum curso de graduação em humanas no Brasil, isso é uma novidade. Na verdade verdadeira, é muito mais do que um curso de ciências sociais.”

 

O consumo, um dos pilares da vida, às vezes é considerado vilão de uma sociedade. Para Mario Rene, não é e, obviamente, o mercado tem seus segmentos. “O trabalho no mercado religioso no Brasil, por exemplo, é mais ou menos do tamanho dos mercados de cigarros e bebidas alcoólicas somados. Essa área movimenta outras, como a de música, de livros e de turismo. Assim como a da sexualidade, especialmente com a mídia explorando as questões de gênero.”

 

O curso de ciências sociais e do consumo, nitidamente focado em comportamento humano, é mais um diferencial da ESPM. “Temos mais disciplinas de filosofia aqui na escola do que em qualquer faculdade de psicologia”, garante. O curso soma um total de 3.456 horas, enquanto o MEC exige 2.200. Só a carga horária já revela a qualidade de ensino da ESPM, que organizou um novo curso de graduação “questionador, inquieto e curioso pelo comportamento humano.”