Neste bate-papo, Gustavo Oliveira, presidente da Abap-Rio e vice-presidente de operações da FCB no Rio de Janeiro, fala sobre o triplo desafio de ser empresário de propaganda no mercado carioca e também dos planos à frente do capítulo RJ da mais importante entidade de publicidade brasileira, a Abap. Otimista, Gustavo faz sua aposta na força da indústria criativa cultural e de entretenimento do Rio, capaz de gerar inúmeras oportunidades e um bocado de trabalho para as agências de publicidade que souberem se mover em novos territórios. Para ele, o momento é de aplicar um novo modelo de gestão, cortar supérfluos e se concentrar em estabelecer com clientes parcerias ágeis e altamente criativas.

 

Qual é hoje o maior desafio de ser empresário em propaganda, e no Rio de Janeiro?

A comunicação como um todo tem vivido um processo de mudanças bastante intenso. Na propaganda isto não poderia ser diferente. Adaptar-se a este novo mercado, sem perder a qualidade do trabalho e mantendo a saúde financeira da empresa, é o grande desafio de todo dirigente de agência. No caso do Rio de Janeiro, a difícil situação econômica do estado é mais um elemento de estresse neste processo empresarial.

 

Que peculiaridades existem hoje no Rio que se apresentam como desafios e também oportunidades?

Um dos maiores desafios para o mercado carioca é a pouca presença de anunciantes ligados à indústria de consumo. Nos últimos anos, a base de anunciantes do mercado publicitário do Rio de Janeiro tem sido formada pelos Governos, empresas públicas, mercado imobiliário, supermercados e telefonia. A atual crise econômica fez com que, tanto o governo quanto o mercado imobiliário reduzissem significativamente seus investimentos. Isto, aliado a uma redução geral dos investimentos em todos os setores, afetou fortemente as agências do Rio. Apesar deste quadro, a mudança da dinâmica de comunicação – com a maior valorização do trabalho de conteúdo nas campanhas – abre uma grande oportunidade para o mercado carioca. O Rio é o mais importante polo cultural do Brasil. Aqui se encontram muitos dos grandes produtores de conteúdo do nosso país. Temos no Rio importantes universidades, artistas, formadores de opinião e, em especial, um dos maiores grupos de comunicação e entretenimento do mundo. Esta massa cultural, juntamente com as facilidades da tecnologia, precisa ser melhor utilizada pelas agências cariocas, de forma a romper as fronteiras geográficas para ampliar a gama dos seus atuais clientes. 

 

Como o mercado atravessou o difícil ano de 2017 e qual o mood para este ano?

Com um mix de ações, tanto na área administrativa, com corte de custos e redimensionamento de estruturas, quanto na busca de novas receitas, com o oferecimento de novos serviços/projetos, além da busca por novos clientes não tradicionais. Apesar de estarmos vivendo um início de ano mais positivo para o nosso setor, este  tipo de comportamento empresarial vai permanecer. O modelo de gestão do passado não mais terá espaço.

 

Que modelos vêm se provando eficazes no mercado local, e em que medida é possível para uma grande agência sediada em São Paulo manter saudável sua operação no Rio?

 Para uma agência ser eficaz em um mercado como o do Rio de Janeiro é necessária uma administração com foco na melhor utilização dos seus recursos e no corte dos supérfluos. Analisar muito bem a necessidade de cada investimento e se ele vai efetivamente fazer diferença no trabalho a ser desenvolvido para o cliente. A agência precisa ser ágil e entender a real necessidade do cliente. Tem de ser capaz de viabilizar projetos criativos e de qualidade, sem que eles exijam budgets mais elevados.

É claro que as grandes agências de São Paulo podem – e devem – ter estruturas no Rio. O mercado carioca, apesar das atuais dificuldades, é o segundo maior do país, tem bons anunciantes e a nossa cidade é a referência brasileira no mundo. O importante para o sucesso da operação carioca é realmente entender que o Rio vive uma realidade de mercado diferente do paulista. Ter um escritório com maior autonomia, de forma a se adequar à dinâmica do mercado, ajuda muito no sucesso da operação.

 

Como lidar com o desgoverno no estado/cidade, com a intervenção militar, tudo ao mesmo tempo agora?

 Continuando a trabalhar muito, sem basear nossas ações e investimentos nas decisões do Governo. Além disso, participar e fortalecer as entidades de classe para, sempre que aparecer alguma medida prejudicial ao mercado, sermos ativos na defesa de nosso mercado.

 

Como a Abap-Rio tem procurado manter o diálogo com as agências do mercado e manter sua relevância?

 Além do contato regular com as agências afiliadas e realização de encontros e palestras sobre o negócio da comunicação, a Abap Rio tem aberto um espaço à divulgação de suas agências afiliadas através de espaço nas mídias sociais, um programa em rádio – em que dirigentes das agências falam sobre seus trabalhos mais relevantes.

 

 

Quais os temas e focos importantes da entidade este ano, que devem ser trabalhados localmente?

 Este ano o nosso planejamento prevê, além da realização de ações que já estão sendo feitas em outras Abaps pelo país –  tais como o Projeto Comunicar e Crescer, o Programa de Compliance para agências e o Programa Start de estímulo a novos anunciantes -,  dar continuidade à série de palestras em parceria com a Infoglobo, visando o debate sobre a como trabalhar mais efetivamente a comunicação para o consumidor.

 

O que encanta você na publicidade?

 A possibilidade de participar em um trabalho que chega a milhões de pessoas, que ajuda a desenvolver marcas e criar riqueza. 

 

O que nunca vai mudar na publicidade, não importa o quanto se inove, ou se transforme?

 O valor da ideia. Aquela que é capaz de emocionar, envolver e motivar. Sem ela, não existe a boa publicidade.