40 anos já se passaram desde a edição do Anuário do Clube de Criação de São Paulo de 1976, o segundo da série e cujo principal resultado foi a grande quantidade de diplomas, ou estrelas de ouro, assim denominadas na época: 19. Na estreia do Anuário em 1975, com menor número de peças concorrentes, o júri tinha concedido 13 estrelas douradas.No editorial, a publicação destacou o rigor no julgamento e sentenciou: “Está julgado, em todos os seus brilhos e derrapadas. 1976 e os anos que vierem depois já têm assegurados, desde já, a mesma justiça e o mesmo nível de julgamento”.

A questão é avaliar se de fato a propaganda de 1976 foi mais criativa da que a de 1975. A julgar pelo resultado das estrelas de ouro 19 x 13, deveria ser — e penso que sim. No primeiro Anuário não houve ouro para as categorias revista e outdoor e a mídia jornal foi contemplada com apenas dois. A Televisão foi a área de mídia mais premiada com 6 ouros.É claro que você deve estar se perguntando, alguns desses filmes ganhou em Cannes? Não. Os ouros do Anuário não obtiveram qualquer destaque, mas a estrela de prata do filme “homem de 40 anos” criado pela DPZ (Washington Olivetto/François Petit com produção da ABA) sim. Obteve para o Brasil o primeiro leão de ouro de sua história.

Alguns clássicos

Mas, retomando o fio da meada, o Anuário do CCSP de 1976 de fato apresentou uma melhor safra de peças criativas em todas as mídias, algumas delas clássicos da propaganda brasileira. É o caso do anúncio antológico de revista do absorvente OB, com o tema das olimpíadas, criado pela DPZ com magnifica direção de arte de José Zaragoza, ou a capa de Ziraldo para o Pasquim destacando as iniciais J.K. na categoria Editorial.

 

Em relação aos filmes, nove obtiveram medalha de ouro.Cabe destacar um, cujo valor está mais no seu diferencial de quebra de paradigmas, do que no próprio roteiro e execução. É o comercial do lava-louças Bril, estrelado por Nuno Leal Maia, precursor do Garoto Bombril, interpretado num script semelhante por Carlos Moreno, a partir de 1978. O comercial com Nuno foi o primeiro do gênero interpretado por um homem, num ambiente de cozinha, então um espaço associado à Dona de Casa.

Outro comercial a destacar é o da campanha da MPM-Casabranca para o Fiat 147, cujo roteiro mostrava um bombeiro ansioso num posto de gasolina de uma estrada deserta aguardando um carro chegar. Quando imaginava que o automóvel pararia para abastecer, este segue o caminho, levanta poeira e a locução em off diz: “Chegou o Fiat 147. O mais econômico do Brasil”. Criação de Sérgio Graciotti, Silvio Lima e Luís Saindenberg. Ainda na safra de 1976 o Anuário premiou com a estrela dourada uma placa de mídia exterior para o Exército da Salvação, campanha comunitária, criada pela JWT (Hans Dammann/Carlos Chiesa e Zbigniew Campioni).

O Anuário de 1976 foi rico em premiações, mas também em depoimentos. Um deles, imperdível, de Ziraldo contando como criou várias capas do Pasquim e em especial a da homenagem a JK, quando de sua morte. Tudo muito simples, explicou: “as letras JK sempre estiveram juntas no alfabeto”.Esse detalhe deu mais emoção ainda à ideia.