Aqui do meu monitor vejo a entrada de um Gilberto Gil diferente no Maracanã olímpico. Diferente daquele do tempo do realce, do Gil das trancinhas, do desbunde, dos gritinhos agudos “uh, uh, uh!”.

Parecia estar mais aos pés da cruz do que na chuva, suado, tomando cerveja. 

Não vi, ao menos de minha TV, aquele seu sorrisão de ponta a ponta. Em meio a milhares de compatriotas nas arquibancadas à sua volta, o grande artista parecia contido, econômico.

Talvez coubesse entoar um vamos fugir em vez de um isto aqui, o quê é? 

Desde que o samba é samba que Gil dá um abraço no João. Do seu jeito baby-blue-rock, é claro. Numa refavela, de batuque puro, de samba duro de marfim da costa.

Mas naquele cinco de agosto, não. O Super-homem não pintou ali. Torci pra que Ele aparecesse e lhe restituísse a glória. Mudando como um deus o curso daquela história.

Mas, diferente de Pelé, Gil pode até dizer “love, love, love”, mas não tem a vaidade de ser divino. Recém-saído do hospital, sobe a escadaria que vai dar na pira da canção, pensando: “e agora, José?” O rosto crispado, amarelecido como a dos meninos buchudos do meu Piauí. Chega ao topo, pálido. Depois para, canta e para novamente. Então volta a andar com fé.

Se eu quiser falar com Deus – seja Ele grego, romano ou do Islã – o caminho é enfrentar esse tempo escuro. Gilberto Gil, saiba que no Maraca tu me ensinou a fazer renda. Refazendo tudo no meu modo de ver essa vida que nos faz nascer, crescer e subir aos céus. Guariroba.