No rescaldo do plano de ações do presidente Juscelino Kubitschek, que incluiu a implantação de uma indústria automobilística no país, o publicitário e promotor de vendas Caio de Alcântara Machado promoveu, na última semana de novembro de 1960, o I Salão do Automóvel, um evento vitorioso que atraiu mais de 400 mil visitantes ao Pavilhão da Indústria e Comércio, no Parque do Ibirapuera.

Foi um show-room dos novos produtos da nascente indústria nacional e superou qualquer expectativa, assim noticiaram os jornais, inclusive os do Rio de Janeiro. O então editor da seção de carros e aviões de O Globo, o jornalista e publicitário Mauro Salles, cobriu o evento. Ampliou o seu networking.  Não por acaso o segmento automobilístico, através da conta da Willys Overland, logo mais seria a base do Grupo Técnico de Propaganda, que se transformaria em 1966 na Mauro Salles Publicidade.

O Salão do Automóvel nasceu grande, embora com 11 montadoras inicialmente, com a destacada presença das maiores autoridades do país e da imprensa. Na sequência passou a ser uma edição anual e mais tarde (1964) bienal. A partir de 1970 o Salão, já consagrado, passou a ser realizado no Pavilhão de Exposições do Anhembi. Ao longo de sua existência registrou a presença, dentre outros políticos ilustres, de Juscelino, Tancredo Neves, Ademar de Barros, João Goulart, Castello Branco, Geisel, Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar (que no ensejo relançou o Fusca, em 1992), FHC, Lula, Dilma. Todos pousaram para os fotógrafos dirigindo carros populares, esportivos, tratores…

O Salão do Automóvel foi o modelo para outras grandes feiras que no encalço surgiram no país, algumas promovidas pelo próprio Caio de Alcântara Machado; estimulou ainda o surgimento dos cadernos semanais sobre automóveis nos principais jornais do Brasil; impulsionou a De Simoni e Associados, de João de Simoni, o papa do marketing promocional no país; fortaleceu o setor de projetos e montagens de estandes… passou a ser a principal referência do live marketing, como eram no início do século 20 as Exposições Nacionais, grandes feiras de amostras de produtos.

 

Os salões pioneiros

Você, leitor, deve estar a se perguntar: e antes do Salão do Automóvel, como se divulgavam os novos lançamentos da indústria? Desde 1919 já tínhamos no país linhas de montagem, a da Ford, e a partir de 1925 a da GM. E foi precisamente nesse ano que o Rio de Janeiro promoveu a Exposição de Automobilismo, aproveitando os galpões em desuso de Portugal e Itália, utilizados na Exposição de 1922, que marcou o centenário de nossa independência.

No ano seguinte, foi a vez de São Paulo promover a grande Exposição da General Motors, realizada num galpão da Rua da Consolação, onde exibiu vários carros importados da marca. Para surpresa dos organizadores, os carros fechados tiveram maior aceitação do público presente do que os conversíveis. Mas, o melhor do evento foi a chamada, a convocação do público, através de um inédito desfile de carros enfileirados, cobertos com lonas brancas, para não revelar o segredo, pelas principais ruas da cidade.

E como não existia ainda Salão do Automóvel valia pongar nos eventos dos outros. Foi assim que a GM montou estandes com belíssimos cenários para expor seus modelos na Exposição do II Centenário do Café, realizada em 1927, no Palácio das Indústrias. E, na sequência, ela e outras montadoras promoveram eventos pontuais, realizados no espaço de grandes magazines como a Mesbla.