Viajar é um troço muito curioso. Sempre adorei viajar, mas não sabia muito bem o porquê. Achava que era por conhecer lugares novos, pessoas, comidas, tradições, culturas e climas diferentes. Mas recentemente percebi que é muito mais do que isso. Viajar é uma questão de olhar.

 

Sou carioca e recentemente me mudei para São Paulo. As duas cidades são geograficamente próximas, pertencemos ao mesmo país, falamos a mesma língua e comemos feijão com arroz, mas só pelo fato de estar morando aqui, ao visitar o Rio, já sinto uma diferença enorme de quando estava morando lá. O reflexo do pôr do sol no espelho d’água da Lagoa Rodrigo de Freitas ou no mar fica muito mais especial. O cheiro de maresia, do Jardim Botânico e das casas de suco parece que fica mais forte. Os sentidos ficam mais aguçados.

Morei anos fora do Brasil e, quando voltei para cá, em 2011, com essa percepção de quem morou um tempo fora, tentei cultivar o olhar de turista, de se surpreender e apreciar as pequenas coisas. O projeto fotográfico que criei, chamado “Cartiê Bressão” (uma singela homenagem ao fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson), é um exercício para manter esse olhar vivo.

 

Os olhos do turista, na verdade, são um estado de espírito. Algo talvez próximo do conceito de consciência plena do budismo, misturados com uma pitada do flanêur de Baudelaire. Um antídoto contra a anestesia da rotina. Um olhar de criança eternamente descobrindo algo novo. Ou como o próprio Baudelaire coloca: “O gênio é a infância evocada quando se quer”.

 

E o Rio é uma ótima cidade para praticar essa atitude mental. Poucos lugares possuem o mix de uma cidade grande (shows, restaurantes e pessoas) somado a uma beleza acachapante e a fusão com a natureza, com suas praias, trilhas, vistas e cachoeiras. Tudo relativamente perto – quando o trânsito permite.

Mais do que uma cidade dos cariocas, o Rio é uma cidade dos que compactuam com essa maneira de olhar a vida, de escolher o que é importante e o que não é.

 

Acredito que em qualquer cidade é possível manter o olhar de turista vivo, mas, no Rio, o ambiente e a mentalidade da cidade ajudam bastante.

 

Aqui vão alguns lugares que me ajudam a comungar da carioquice:

 

• Cachoeiras do Horto: São sempre uma boa pedida, tanto nos dias de inverno (mais vazios) quanto no verão (muito mais refrescantes que a praia escaldante). É muito impressionante sair do meio da cidade e chegar em uma cachoeira em apenas 15 minutos.

 

• Caminho dos Pescadores, no Leme: Além do visual incrível, esse lugar me traz calma, com aqueles pacientes e perseverantes pescadores.

 

• Pista Cláudio Coutinho: Área protegida pelo Exército, é uma das poucas ainda intactas, preservadas. É um lugar mágico, pois em apenas poucos minutos de deslocamento você já estará em um cenário sem civilização, que traz uma sensação de Rio de Janeiro pré-histórico.

 

• Orla do Flamengo: Uma linda e harmoniosa mistura de prédios mais clássicos, com arquitetura no estilo europeu, o decô e o modernismo brasileiro. Com recuo suficiente para poder apreciá-los e com o aterro e o mar emoldurando o entorno. É de ficar perdido sem saber para onde olhar.

 

• Instituto Moreira Salles: É um dos lugares de que mais gosto no Rio. A mistura da arquitetura com a paisagem e de como elas representam o próprio diálogo paisagístico do Rio são uma obra-prima – isso sem falar da programação cultural…

 

Mas, o melhor de tudo isso, é curtir quase todas essas partes da cidade durante o Carnaval de Rua. São dias de anarquia e fantasia – que, para mim, são das melhores coisas que o Rio tem para oferecer.