Intitulada “A Bienal da Atenção”, a proposta do roteiro era mostrar a automatização das nossas vidas a partir da nossa relação com a tecnologia e como a arte tem o poder de nos fazer desligar desse automático. Senti, então, que o conceito do filme era uma provocação para eu mesmo questionar o meu próprio automático no processo de pensamento e preparação de um filme.

Vivemos o tempo de maior acesso à informação. Porém, paradoxalmente, no momento que temos acesso aos estímulos mais diversos, parece que os nossos filmes estão ficando mais parecidos. Esse parece ser o grande risco com a tecnologia, que eventualmente pode determinar nosso pensamento e padronizar o nosso comportamento. Rapidamente, cria uma espécie de moda estética e um método de pesquisa que todos começamos a seguir sem questionar.

Este filme me fez pensar, pela primeira vez, em quão automático pode chegar a ser o processo de pesquisa e desenvolvimento de filmes publicitários. Senti que este filme exigia e permitia fazer um processo diferente. Abri mão das clássicas plataformas de pesquisa e me obriguei a procurar referências e estímulos em lugares diferentes.

A primeira inspiração veio de um lugar onde nos esquecemos com frequência de procurar: a vida. Comecei a tirar fotos de pessoas isoladas nos seus aparelhos na rua, no transporte público, nas reuniões de família. A partir disso, tomei duas decisões. A primeira era que o filme tinha que ter essa energia depressiva das cenas que tinha retratado e, segundo que fotograficamente a luz dos aparelhos ajudaria a isolar os personagens.

Depois tinha que procurar uma estética para essas cenas e por se tratar de um filme para uma Bienal de arte, parecia lógico procurar referências no mundo dos museus. Mergulhei em peças de videoarte, livros de fotografia e de pintura.

Achei nas fotografias do americano Gregory Crewdson a melhor inspiração para esse clima depressivo das cenas e a principal referência fotográfica veio de pinturas do chiaroscuro holandês com a suas cenas com uma fonte de luz que gera essas imagens de alto contraste entre luz e sombra.

Para as poses de alguns personagens procurei na arte sacra. Especialmente na cena do menino na frente da TV. A intenção era dar para essa cena um significado quase religioso como o garoto ajoelhado frente à luz de quem guia suas ações.

Desligar o automático foi um exercício muito interessante e revelador. Foi um processo um pouco mais trabalhoso e foi mais difícil conseguir compartilhar a minha visão com outros porque não tinha uma referência clara, só tinha muitas imagens que podiam parecer desconexas. Mas valeu muito a pena, porque o resultado foi, talvez, o filme com mais personalidade no meu repertório.