Nada é mais colorido que o preto e branco.

Vermelho sangue. Grama verde. Água azul.

No mundo colorido não há espaço para o sonho ou para o devaneio.

As cores mandam. Os olhos obedecem.

Uma cela de barras prateadas, séria e previsível.

O corredor da morte da imaginação.

O mundo preto e branco é anarquista. Nele, normas só existem para quem decide inventar. Pretos viram laranjas. Grenás e roxos. Brancos. Amarelos ou lilás. Preto e branco são todas as cores. Todas que a inspiração decidir.

Na prisão das cores, o preto e branco é o banho de sol.

Leica M – Monochrom

Liberte-se das cores

Fotos P&B têm um quê mágico. Despertam um certo fascínio, seduzem, hipnotizam. Até aí, ótimo. Mas como anunciar, em 2017, uma câmera que só tira fotos P&B.

E nada mais?

Nosso ponto de partida foi o fato de não ser apenas uma câmera, mas uma Leica.

Uma câmera com história e com alma. Uma câmera que não apenas tira fotos P&B, mas talvez a única que tem a capacidade de posicionar e definir o P&B. Assim mesmo, preto no branco.

Primeiro fizemos anúncios, spots de rádio e pôsteres que exploravam um pouco essa tal mágica monocromática. E mergulhados nesse universo, nos parecia inevitável a cereja do bolo: fazer um filme. 

Algum tempo passou, criamos um roteiro, procuramos referências e tentávamos fazer algo que, de fato, retratasse a essência do universo P&B e da Leica. Com tudo isso em mãos, nos faltava encontrar o parceiro ideal para colocar de pé o projeto. Na verdade, os parceiros: a Lobo e a Satélite. Sendo ainda mais específico: o Mateus de Paula Santos, o Fabio Acorsi e o Kito Siqueira.

 Depois de muitas idas e vindas, o Kito e a Satélite nos ajudaram a encontrar a trilha certa para o filme. Mas, sobretudo, nos apresentaram a sensibilidade e o lindo timbre de Toby Ricketts.

O Mateus e o Fabio, juntamente com o pessoal da Lobo, tiveram um carinho e um cuidado quase sobre-humano com cada imagem, cada referência… cada frame da animação do filme.

Os diretores fizeram uma profunda imersão no universo da fotografia como um todo. Não só tecnicamente, traduzindo os processos analógicos e digitais do registro fotográfico. Mas também conceitualmente, pela relevância da marca na consagração de linguagens como o fotojornalismo. 

Essa abordagem levou à escolha de formas geométricas básicas, como o círculo (retícula) e o quadrado (pixel), como matrizes das interpretações gráficas de cada parágrafo do texto do filme.

Na primeira parte do filme, onde discorremos sobre a rigidez formal das cores, foram criadas animações minimalistas executadas digitalmente. Na segunda metade, que fala da libertação anárquica que só o P&B permite, as animações foram feitas usando métodos analógicos como a projeção e o stop-motion, fotografados e filmados com a própria M-Monochrom (e, assim, imprimindo texturas reais nas imagens).

Tudo isso usando como inspiração trabalhos de artistas do calibre de Adam Ansel, Edward Weston, Lothar Charoux, Otto Fischinger, Abraham Palatnik, Josef Albers, Johanees Itten, Du Champ e Rubem Ludolf sobre temas variados como ilusões de ótica, papel da luz e das lentes, os processos de revelação e projeções, até teoria das cores.

Enfim… desde a primeira reunião de produção na Lobo (onde nos apresentaram quadros com cada cena, cada pensamento, uma trilha e uma voz encantadoras) até o dia do filme pronto, Mateus, Fabio e Kito insistiam em levar nossos olhos, ouvidos e mentes ao êxtase, com um lindo ballet monocromático. Poesia pura que nos fazia pensar numa frase ainda mais poética: esses caras são foda.