Por Antonio Fadiga, CEO da Artplan SP

 

Eu e minha esposa adoramos viajar. Até aí, sem novidades. Mas o que mais nos agrada é definir destinos e deixar a vida nos levaratravés de estradas vicinais e desconhecidas, sem roteiros ou reserva prévia de hotel. Gostou de onde chegou, ficou.

 Acredito que é assim que se conhece um país ou uma região: através das surpresas inevitáveis de um roteiro meio easyrider, sem definição prévia de datas de onde e quanto tempo ficar.

 

Imprevistos desagradáveis? Mínimo, tanto é que por mais que me esforce, não lembro nada além de uns quilômetros a mais para encontrar vaga num hotel no interior da Inglaterra, ou de umas cidades desinteressantes que não mereceram uma parada.Foram várias descobertasmaravilhosas nesse modelo, e aqui revivo algumas delas.

 

Ljubljana, Eslovênia.Um nome, acreditem,fácil de pronunciar (basta falar “i” em vez do “j”). Quando planejamos visitar a Eslovênia? Nunca! Mas ao atravessar esse país entre Croácia e Itália, veio a velha e boa pergunta: porque não? E lá fomos para a cidade com nome aparentemente complicado.Cidade linda e viva, com muita coisa legal nas proximidades. A exemplo do lago Bled, com uma ilhota ao centro, onde só se chega através de um tipo de gôndola com dois remos. Lá, apenas uma igrejinha bem antiga, onde,para realizar seus desejos, basta puxar a corda do altar e badalar o sino do topo.  E lá da ilhota,avista-se um imponente castelo no alto do morro, que claro, foi devidamente trilhado por nós. Valeu a pena? Vejam a foto e me contem depois.

 

 

 

 

Santa Maria Capua de Vetere, Itália. A caminho do Sul, optamos por parar naquela pequena cidade e passar a noite. Ao caminhar pela cidade vimos uma placa indicativa de um mini Coliseu. O local estava quase fechando, mas deu tempo para descobrir que foi naquele espaço que Spartacus treinava com seus gladiadores, há mais de dois mil anos. Dali marchou para desafiar Roma, a 70 quilômetros daquela desconhecida cidade. É a história brindando nossa mania de viagens sem (muito) rumo.

 

Gordes, França.Ao se aproximar da cidade, uma vista de perder o fôlego. Casas incrustradas numa imensa colina rochosa. É aqui mesmo! Pronto, montamosacampamento. Surpresa: uma das construções no meio das pedras seria o hotel onde ficamos (sim, sempre tem lugar). Ao explorar a cidade, tivemos a sensação de que já tínhamos visto aquela praça, com uma fonte no seu centro. Estávamos certos. Gordes foi base para a filmagem do longa Um Bom Ano, estrelado por Russel Crowe e Marion Coutillard. No filme ela era dona de um restaurante naquela praça. Adivinhem onde fomos jantar?

 

New England, EUA.Outono, sem pressa, apenas deslumbrando a magia da vegetação multicolorida nas pequenas estradas dos estados de New Hampshire e Vermont. De repente, uma curiosa ponte coberta de madeira, que imediatamente nos remete a outro filme: Pontes de Madison, com Meryl Streep e Clint Eastwood. Aliás, sabem o porquê da existência de pontes cobertas naquela região? Antigamente, em período de inverno, cavalos e gado que por ali passavam, sofriam por causa dos cascos escorregadios sobre pontes de madeira cobertas de neve.

 

Sedona, EUA.O impacto de se ver o Grand Canyon é indescritível, não se esquece jamais. Fomos seguindo até uma cidade bem próxima aos canyons, onde tínhamos uma casa “de campo” ofertado pelo presidente mundial da Y&R, na época. Era tarde da noite e no caminho meio deserto vimos raposas, coelhos e até um assustador alce. Ao acordarmos e abrirmos a porta, um choque: estávamos simplesmente no meio do Canyon, no meio daqueles paredões rochosos gigantescos. Estávamos com amigos e no dia seguinte fizemos um belo passeio de caiaque pelo rio Colorado. Passear por ali realmente me fez sentir nos tempos do faroeste americano.

 

Chelteham, England. Definimos essa cidade como base para explorar a região por uns três dias. Não imaginava que jantaríamos em (ótimos) restaurantes que funcionavam dentro de uma igreja e outro, num antigo cinema. Numa conversa informal, nos falaram de um vilarejo chamado Bourton-on-the-Water, há menos de 30 quilômetros dali. Para curtir o que brincamos de chamar de “tipicamente típico”, fomos de trem. Um charme de cidade com pouco mais de três mil habitantes, cercada por jardins e rios tranquilos, aonde invariavelmente surge a triste pergunta sem resposta plausível. Porque as cidades do interior do Brasil não têm nada parecido com isso?

 

Rocamadour, França. Outra cena de literalmente parar o carro no acostamento, tirar dezenas de fotos que nunca vão refletir o que os olhos viam. Uma abadia construída numa encosta muito íngreme do outro lado do vale. Claro que demos meia volta e fomos para lá. Vilarejo minúsculo com poucas ruelas. Mas hoje, passados muitos anos dessa viagem, Rocamadour continua inesquecível. E ao seguir viagem, há uma hora dali, vimos uma placa de madeira escrita “vin” à mão, indicando uma estradinha de terra. Lá fomos nós, até deparar com um casarão antigo, de onde sai da porta da cozinha uma simpática senhorinha de avental, nos recebendo muito bem. Mostrou toda orgulhosa onde produzia seu vinho caseiro, como engarrafava, provamos, e claro, compramos. Cena típica que só acontece em filme. Bem, acontecia.

 

Winchester, Inglaterra. Era uma cidade de passagem, daquelas que se fosse charmosa, daríamos uma caminhada para definir se ficaríamos um ou dois dias. Não ficamos, mas a surpresa foi emocionante, particularmente para quem gosta de História. Ao visitar o Castelo Real dessa antiga capital da Inglaterra, em um de seus imensos salões, lá estava ela, como nos tempos de Camelot: a távola redonda, com mais de 700 anos de idade, ícone da erado legendário rei Arthure sua comitiva de knights, Guinevere e Merlin entre outros.

 

E assim tem sido nossas viagens. Deliciosamente pouco programadas, surpreendentemente inesquecíveis.